Nele estava a vida
Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. — João 1:4
É evidente que, desde o começo da história do homem, Deus tem se revelado e iluminado os homens para que possam ter comunhão com Ele. Adão e Eva tiveram sua nudez coberta por peles de animais que Deus providenciou. Não sabemos exatamente como, mas Abel e Caim sabiam que deveriam ofertar a Deus — tanto que Deus agradou-se da oferta de Abel.
Ora, sabemos que o homem natural está morto em ofensas e pecados (Efésios 2:1) e, estando morto, não pode ter comunhão com Deus. Entretanto, a Bíblia nos mostra diversos homens que, mesmo antes da encarnação de Jesus Cristo, provaram comunhão profunda com o Senhor. É o caso de Abraão, por exemplo, que foi chamado de amigo de Deus.
Sabemos também que a regeneração vem pela fé em Jesus Cristo. E não nos é clara a forma como essa regeneração — o nascer de novo — operava-se nos patriarcas. Mas não podemos negar que ela era, de fato, operada. Pois que diremos de Abraão? Que era espiritualmente morto? Moisés também o era? E de onde veio a fé de Jó, de Samuel, de Davi e tantos outros? Ou seja, de uma forma primitiva e não muito clara a nós hoje, desde o princípio dos tempos Deus tem infundido vida nos homens.
E de onde provém essa vida? Ora, da única fonte: Jesus Cristo. Por isso foi dito: nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. Essa vida era operada, evidentemente, pelo Espírito Santo. Mas a vida em si vinha de Jesus Cristo e sua obra. E isso condiz com o que Jesus Cristo diz:
Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir.
Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.
— João 16:13–14
Alguns tem interpretado esse versículo como se falasse dos tempos em que Jesus Cristo estava no mundo. Entretanto, isso nos obrigaria a tirá-lo de seu contexto próprio. Naturalmente ele conecta-se ao “no princípio”, o que torna evidente que João ainda está tratando do papel de Jesus Cristo no princípio da criação. Não que o que se tem dito sobre a vida e a luz esteja errado, mas é importante mantermos esse versículo devidamente contextualizado. Veja como a ligação entre todas as proposições é natural, sem saltos de raciocínio:
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.
— João 1:1–5
Até mesmo o verso 5, que diz que as trevas não a compreenderam, refere-se, primariamente, aos homens que não tiveram tal iluminação dada por Deus desde o princípio da criação — e, evidentemente, reflete-se, como verdade inferida e observada posteriormente, na atitude dos contemporâneos do Senhor Jesus.
Nele estava a vida
É vital que compreendamos que não há vida fora de Jesus Cristo. Quando tratamos de assuntos como expiação limitada, devemos ter isso em mente, pois ninguém pode ser salvo sem conhecer a Jesus Cristo.
Certa vez citei como exemplo o bom esquimó: ele é honesto, simpático e honrado. E nunca ouviu falar de Jesus Cristo. Quando morrer, que acontece com ele? Perdição eterna. E alguém insinuou que o Espírito Santo poderia, sem a Bíblia e sem pregação da Palavra, converter seu coração. Mas, primeiramente, vemos que a vida — a abertura dos olhos espirituais — está em Jesus Cristo. E, em segundo lugar, mesmo que o esquimó seja convencido de seus pecados, não será uma situação aterrorizante demais, já que não lhe é apresentado o Salvador? Pois se for assim, é melhor que permaneça cego!
A luz dos homens
Alguns tendem a interpretar isso como “a luz de todos os homens”. Mas nesse caso (e é necessário haver uma distinção entre esta interpretação e a do verso 9), significa “a única luz disponível para os homens”. Não implica em uma iluminação geral, mas particular. Pois, se havia alguma luz, essa era a luz de Cristo.
