O diploma não contempla as exigências Bíblicas para o presbitério e diaconia

Cléber Zavadniak
Reformados
Published in
9 min readMar 16, 2012

Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja.
Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar;
Não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento;
Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia
(Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?);
Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo.
Convém também que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo.
— 1 Timóteo 3:1–7

Spurgeon, ainda jovem

Em primeiro lugar, é importante sabermos que o termo “presbítero” é o mesmo que “bispo”. Infelizmente, o significado original foi-se perdendo com o tempo, mas presbítero é bispo e bispo é presbítero.
Destaco aqui alguns itens que costumam ser desprezados pela igreja ao escolher seus presbíteros:

Irrepreensível

Creio que seja saudável recorrermos, nesse caso, ao senso comum. Perguntando-se aos membros da igreja local “você considera esse homem irrepreensível?”, que dirão? Creio que, antes de pensarmos em “irrepreensível diante de Deus”, podemos buscar as evidências disso na questão do “irrepreensível diante dos homens”. Os colegas de trabalho do candidato a presbítero pensam o que dele? E seus familiares? E o pastor da igreja? E sua esposa?

Marido de uma mulher

Sim, marido de uma mulher. UMA mulher. Você já deve saber que o divórcio não é coisa boa. Uma vez que o homem se casa, é uma carne com sua mulher. Se ele se divorcia, não deixa de ser uma carne com ela. Se casa-se de novo, está em adultério. E um adúltero não pode ser ministro na Igreja do Senhor!
É evidente que precisaríamos de outro artigo para tratar do assunto do divórcio, aqui, mas creio que é suficiente dizer o seguinte: divórcio é causado por egoísmo. Deus deu o casamento para o homem, assim como dá, por exemplo, o chamado a missões para outros. Se o missionário enfrenta dificuldades e diz “ah, não, eu sofro demais nessa coisa de missões. Desisto. Eu tenho o direito de ser feliz!”, ele está em grande pecado. Da mesma forma, se o casado diz isso, está em grande pecado. Divórcio é egoísmo, é dar preferência às suas vontades ao invés da vontade de Deus. E como um homem assim poderia ser um presbítero?
E, claro, nada de amantes. O presbítero deve amar sua esposa, respeitá-la e ser feliz com ela.

Vigilante

O presbítero não pode se enredar nos negócios dessa vida. Ele não pode manter seus olhos no mundo durante a semana e, no domingo, elevar os olhos a Deus. Nenhum crente pode, na verdade. E muito menos os presbíteros! Os olhos desses homens devem estar sempre, a todo instante, voltados aos céus. A forma de encarar a vida deve ser sob uma perspectiva bíblica.
O presbítero deve manter-se vigilante, pois está sob ataque a todo instante. As paixões carnais, as ofertas tentadoras do mundo, até as coisas corriqueiras da vida, nada disso pode distraí-lo de seu objetivo primário: glorificar a Deus (“quer comendo, quer bebendo”). Veja:

Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca,
E não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do homem.
Mateus 24:38–39

Comer, beber e casar são coisas lícitas e saudáveis. Mas não podem ser o foco de nossas vidas! Fiquem atentos! Vigiem! É isso que o Senhor Jesus Cristo quer dizer! E ele quer homens vigilantes como presbíteros de suas congregações.

Sóbrio

Sobriedade é semelhante à vigilância. Mas eu acredito que a ênfase seja no estado consciente da mente. O presbítero deve ser sóbrio, deve ser consciente da realidade que o cerca. Ele não precisa ver o noticiário todo dia, mas deve saber o que acontece no mundo, na sociedade, até na política. O mundo caminha sob uma agenda bem organizada, com diversos objetivos e planos, todos contrários a Deus. É vital que os presbíteros entendam isso e estejam preparados para o combate.
Você sabe a importância do criacionismo? Você acha que a Bíblia é um livro cheio de interferência cultural e que boa parte dela precisa de reinterpretação sob a ótica da modernidade? Você acredita ou não na inerrância e inspiração das Escrituras? Jesus morreu por nossos pecados ou sua morte foi simbólica e de propósito inspirador? Tem problema se os jovens fizerem uma “balada gospel” no próximo sábado à noite? Você é a favor ou contra a lei que permite o aborto de acordo com a vontade da mãe? O Estado pode aplicar pena de morte ou isso viola o mandamento “não matarás”?
Presbíteros devem ser sóbrios. Há uma porção de coisas acontecendo a todo instante, todas com objetivos claros, mesmo que suas execuções sejam sutis. O homem sóbrio é um homem que está de olhos abertos. O bêbado não vê claramente, demora a entender as coisas e muitas vezes interpreta o que lhe dizem de maneira completamente absurda. E você?

Honesto

Não creio que isso refira-se apenas àquela honestidade comum (que sabemos o que é mas temos dificuldade de verbalizar a definição), do homem que não rouba, não mente e não fica tentando tirar proveito dos outros. Creio que essa honestidade, além disso que já mencionamos, seja também a honestidade de vida. A vida em verdade.
Existe uma regra muito simples e valiosa para jovens e adolescentes: se sua mãe não pode ver, é quase certo que seja pecado. Da mesma forma, se sua igreja não pode ver, se seu pastor e/ou sua família ou esposa não pode saber, então há algo errado aí.
O presbítero deve ser honesto com Deus e com os homens. Se sua vida é íntegra, não há nada a se esconder e não há mentiras a se contar.

Hospitaleiro

Presbítero que não gosta de ser visitado não serve para ser presbítero. A King James diz “dado à hospitalidade”. Receber tanto crentes e/ou necessitados deve ser uma alegria para ele.
Repare que isso envolve toda a família do presbítero, também. Não creio que um presbítero possa ser considerado “dado à hospitalidade” se as pessoas que moram com ele não o são.

Apto para ensinar

Quem não tem capacidade de ensinar não pode ser presbítero. Se você não sabe ensinar mas foi chamado para o presbitério, aguarde e treine. Aprenda a ensinar. Seja um bom professor e então poderá tornar-se um bom presbítero.
Infelizmente, não conheço muitos presbíteros aptos para ensinar. O que mais se vê são presbíteros totalmente despreparados para qualquer tipo de ensino. E a questão não é a desenvoltura diante de uma classe. Muitos são ótimos oradores, mas tem péssima doutrina. Sem conhecer-se a Sã Doutrina, nenhuma habilidade torna-lo-á apto para o ensino, pois essa aptidão compreende também o ensino correto. Quem ensina errado não é apto para ensinar.
Pastores, igrejas, presbíteros, avaliem os homens antes de elegê-los! Presbíteros sem conhecimento doutrinário, que não lêem a Bíblia e não oram, que nunca aprendem, que são cheio de “eu acho” não servem para o presbitério!

Não dado ao vinho

Pode-se inferir, disso, “não dado aos prazeres mundanos”, também. O presbítero deve ser “dado à Palavra”. Qualquer coisa diferente disso já o torna inepto para o serviço.

Não espancador

Pelo que vi no grego, também poder-se-ia dizer “pavio curto”. O presbítero deve ser manso, não temperamental. É bem assustador conviver com gente temperamental, não?
Irmão, convém que atentemos para a seriedade desse assunto. Gente “nervosinha” não serve para o presbitério! Sim, todos temos nossos dias estressantes. Sem problemas. Mas se a “paviocurtice” é uma característica da pessoa, já não pode ser presbítero.

Não cobiçoso de torpe ganância

Cobiçar é querer muito. Ganância é desejo. Torpe é torpe, errado, vil. Que não deseje ardentemente coisas vis. A King James diz “não cobiçoso de lucros sujos”. Conforme falamos no item “vigilância”, homens com olhos grandes para as coisas vis desse mundo não são aptos para o presbitério.

Moderado

Moderação é a habilidade de medir suas idéias, atitudes e opiniões e refreá-las. Não é só questão de atitude. Os pensamentos do presbítero devem ser moderados. Suas opiniões também devem sê-lo. Ele deve apegar-se firmemente à Bíblia, não às suas próprias concepções.
Aprecio muito o homem que sabe dizer “não sei”, por exemplo. Dizer que não tem informação suficiente para formar uma opinião razoável costuma ser muito melhor do que uma besteira que começa com “eu acho que”. Pessoas moderadas conhecem seus limites e o limite daquilo que deve ser dito.
O presbítero é um homem em posição de proeminẽncia na igreja. Ele é servo de todos, mas parte de seu serviço é a instrução, não apenas no momento “ensino da Palavra”, mas a instrução que vem por ser um modelo de crente. Se ele não mede suas palavras, prejudica a igreja. Se ele é cheio de opiniões e apegado a elas, prejudica-a também.

Não contencioso

Ou “não dado a brigas e litígios”. Discussões são saudáveis e é importante ter atitude firme frente a problemas dentro da igreja. Mas isso é diferente de ser dado a litígios. Sempre haverá litígios, mas ter prazer neles é um problema.
Veja, há momentos em que o presbítero deve ser o iniciador de uma discussão séria que poderá levar a divisões. Não há problema nisso. O problema é gostar disso. Se uma ruptura é iminente, é sinal que algo aconteceu de muito errado dentro da igreja. E isso é bom? Isso é péssimo. Sendo o cisma necessário ou não, isso não é um momento feliz. É triste.
Além disso, muitos litígios são desnecessários. O presbítero, sempre que possível, deve fugir deles e procurar soluções pacíficas e edificantes.

Não avarento

Aí a questão é dinheiro. Grana. Homem apegado a dinheiro não é bom, tanto na vida pessoal quanto na administração da igreja.

Que governe bem sua própria casa

Governar bem é diferente de ser um tirano. E, especialmente, é diferente de ser um frouxo. A filha do camarada se veste como uma prostituta? Então não pode ser presbítero. (O termo parece pesado, mas eu vi isso “ao vivo” e, acredite, é algo muito, muito, muito triste de se ver acontecendo). A mulher do camarada não o respeita e nem se submete? Não pode ser presbítero. Ele não educou seus filhos nos caminhos do Senhor (independente de o terem seguido ou não, já que a salvação pertence ao Senhor)? Não pode ser presbítero.
Presbitério começa em casa!

Não neófito

Ó, igrejas “em célula”, atentem para isso. Líder neófito é o prenúncio do desastre. Neófito é o novo convertido. Eles não devem ser líderes, justo pela posição de proeminência. É muito fácil tornar-se arrogante e dominador do rebanho. O ofício do presbítero deve ser benção para todos, inclusive ele mesmo, e não uma tentação para ele e vulnerabilidade para a igreja.

Tenha bom testemunho dos que estão de fora

Já tratamos disso ao falar de “irrepreensível”. Mas Paulo diz “para que não caia em afronta”. Que afronta seria essa? Bem, certamente é uma afronta à Igreja apregoar um viver santo se ele mesmo dá mau testemunho diante dos incrédulos.
Paulo também fala sobre cair no “laço do diabo”. O “laço” é uma referência às nossas “moderníssimas” arapucas, armadilhas para pássaros. Cair num laço é cair numa arapuca. O diabo prepara várias delas para nós, crentes, e algumas especiais para os ministros. Uma dessas arapucas é a vida dupla do ministro: vive-se algo na igreja, vive-se outra coisa fora. A vida de nenhum crente deve ser dividida em “santo” e “comum”. O crente vive no “modo santidade” o tempo todo.

E a formação?

Pergunto: de todos esses itens, quais são contemplados pela formação teológica numa faculdade ou seminário? Do jeito que as coisas andam hoje, apenas a aptidão ao ensino é ensinada (e muito mal e porcamente, na maioria dos casos). Pegue essa lista toda e assinale os itens que se aprendem por leitura e estudo da Palavra, oração e busca por santificação!

É o Senhor quem prepara os presbíteros da igreja, não os seminários. É um engano comum e odioso dar-se preferência a homens com diplomas em detrimento dos homens realmente consagrados. Um diploma é um adendo e nada mais. Segundo o que conheço dos seminários e faculdades teológicas, um diploma é até prejudicial.

Não defendo que nenhum ministro tenha formação acadêmica. Mas tenho visto que isso está sendo usado como critério para eleição nas igrejas, e isso é um pecado enorme, já que a Bíblia nos dá os critérios corretos de forma tão clara quanto um dia ensolarado. Seguir nossa própria opinião sobre o que é correto e o que não é, na igreja, é como oferecer fogo estranho ao Senhor. É desobediência, que é como feitiçaria, e rebeldia, que é como idolatria!

Livro recomendado: Discernindo os tempos — Lloyd-Jones.

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