O livrinho no cabeleireiro
Lá estava eu, hoje [28/02/2010], esperando minha vez para cortar meu cabelo, depois de passar a manhã de sábado trabalhando. Eu estava ouvindo música com fones de ouvido, e resolvi não encostar em revista alguma. Mas havia uma bem do meu lado, e eu acabei pegando-a e folheando-a.
Tratava-se de uma revista para mulheres. Achei interessante. Pensei: “bom, eis uma oportunidade de saber o que é que andam publicando para o público feminino, atualmente”. Corri para o índice. Havia um artigo interessante sobre como destacar-se no mercado de trabalho. O resto era lixo (para mim).
Ao invés de colocar a revista onde eu a havia pego (o banco), decidi jogá-la de volta no “monte”. Então, ainda com o braço esticado, vi um livrinho pequeno, aberto, em cima das revistas. Peguei-o. Era o Novo Testamento! Incrivelmente, ele ocupava um espaço mínimo — era um livrinho pequeno mesmo.
Folheei o volume. Pensei em ler Romanos, mas, enquanto tentava manusear as folhas fininhas, acabei caindo na carta de Paulo aos Filipenses. Li do 1:27 até o final do capítulo 3. Que leitura excelente!
Os primeiros versos lidos me fazem pensar nessa palavra: “unanimidade”. Quebre “unânime” em duas palavras e você terá “una ânima” — uma alma.
A questão da alma é mal explorada. Talvez porque o assunto tenha a tendência de desviar-se rapidamente para questões como “dicotomia ou tricotomia?”. Alguém já se perguntou por que é que “anima” gerou duas palavras distintas em português — “ânimo” e “alma”? Pensando nisso, “unanimidade” ganha um sentido novo. O que é uma igreja que tem uma só alma? É a igreja com um mesmo ânimo.
“Anima” gerou também a palavra “animação”. Os entendidos desse assunto (animação) dizem que “animar” significa “dar vida”. Seria “dar ânimo”, ou (o que é melhor) “dar alma”.
[caption id=”” align=”aligncenter” width=”300" caption=””Animar” significa dar vida, alma, para algo inanimado, sem vida.”]
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Creio ser comum o combate às animas múltiplas. Mas também creio que igrejas sem alma alguma são tão comuns quanto as com almas demais.
“Um mesmo espírito. Uma mesma alma”. Isso também te faz lembrar da igreja como descrita por Lucas, no registro dos Atos dos Apóstolos? Pois é. E você sabe como podemos alcançar esse estado? Eu tenho uma pista: com a morte!
Stott (será que foi ele? Ou foi o MacArthur Jr.?) já disse que a cruz é um adversário implacável, cruel. Ela não negocia com você. Ela o mata, e ponto final. Cruz é a resposta para a igreja. Sintetizando parte do ensino de Watchman Nee, não podemos experimentar o poder da ressurreição enquanto não experimentarmos o poder da cruz — a morte. Podemos implorar pelo poder, mas nunca o receberemos enquanto não morrermos verdadeiramente. Morrermos para o eu, para nossos planos, para nossos desejos (sejam quais forem), para nossas vontades. Morrer para o conforto, morrer para o bem-estar, morrer para a diversão, morrer para a família (se preciso for), morrer para os amigos (se preciso for), morrer para a lei (oh!, como isso é complicado!). Sem morte, sem poder. “Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo. Outrossim, o reino dos céus é semelhante ao homem, negociante, que busca boas pérolas; e, encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a“. O reino dos céus tem um preço? Sim. E este preço é “tudo o que você tem”.
“E em nada vos espanteis dos que resistem”, é o que diz o próximo verso. E como resistem! Quem quer que queira servir ao Senhor direito há de enfrentar muita resistência. E nem sempre é por maldade. Na metade das vezes é pura ignorância.
“Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele”. Foi concedido! É quase como dizer “o Senhor teve misericórdia de vocês, e permitiu que sofressem pelo seu nome”!
Não vou explorar o texto todo, pois esse não é o objetivo deste texto. Mas deixo aqui registrado o que sinto nesse momento: a Bíblia é magnífica! Como pode ser que os crentes tenham tanto desinteresse por ela?
[Originalmente postado em 28/02/2010]