Animal silvestre não é animal de estimação
O Brasil é um dos países mais biodiversos do mundo. No entanto, sofre com o intenso tráfico de animais existente em seu território, o qual se estrutura por meio de redes nacionais e internacionais de criminosos. Dessa forma, ainda que exista uma legislação que defenda os direitos dos animais, estes ainda não possuem seu direito de liberdade e sobrevivência num ambiente seguro garantido em decorrência de um paradigma antropocêntrico no qual a sociedade se apoia.
Outrossim, os animais possuem o direito de serem livres. Atualmente, cerca de 38 milhões espécimes são retirados da natureza brasileira por ano, segundo a RENCTAS (Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres). Nesse contexto, embora as pessoas alimentem o desejo de ter animais silvestres em seu convívio doméstico, esse é um tipo de afeição que mata, visto que 9 em cada 10 animais traficados morrem antes de chegar ao “consumidor final”, de acordo com dados da RENCTAS. Ademais, essa cultura assemelha-se ao comportamento da personagem desenho animado Felícia, a qual adora apertar animais e, no entanto, cause-lhes grande estresse e desconforto. Além disso, a visão antropocêntrica que coloca os seres humanos em situação de superioridade às outras espécies, explorando a ideia de que animais existem para nos servir como alimento ou fonte de distração é uma mentalidade que contribui para a degradação ambiental.
Nesse contexto, a estrutura de fiscalização e combate ao tráfico de animais no Brasil é frágil. O tráfico de animais é a 3ª maior atividade ilegal do mundo, e fica atrás somente do tráfico de armas e drogas, conforme divulgado pela RENCTAS. A organização não-governamental Traffic publicou o relatório Wildlife Trafficking in Brazil que aponta a falta de dados com um dos fatores que compromete as ações de fiscalização de modo que estas não sejam priorizadas, o que resulta em menos dados coletados. Outrossim, essa má gestão dos dados compromete as forças policiais que se encontram sobrecarregadas.
Por conseguinte, quanto maior o consumo, maior é a exploração. Assim, é muito importante que as pessoas parem de comprar animais silvestres de maneira a desestimular o tráfico. Essa mudança de mentalidade pode ser realizada por meio de programas de educação a serem realizados pelo governo federal e entidades ambientais. Dessa forma, esses atores podem se articular na criação de campanhas que envolvam palestras e produção de conteúdo com participação de especialistas, membros polícia ambiental e ambientalistas que debatam acerca de como agir diante da prática ilegal de comércio de animais silvestres. Ademais, é necessário cobrir a importância da conservação de ecossistemas e habitats necessários à manutenção das populações de animais silvestres.