Novus Ordo Hermeticum

Rafael Balbi
Regra da Casa
4 min readJan 15, 2018

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Abakuk em busca da Maçã de Ouro

Formação

Desde pequeno, com a maçã de ouro sonhava Gothardo, o frágil. Com ela em suas mãos, desvendados todos os mistérios do mundo, sentando-se ao lado do deus dos deuses, a sabedoria universal, o esplendor da consciência.

Não nascera com o dom, mas seu berço permitiu ingresso na famosa Insula Mística, onde os Mistérios eram estudados por quem escolheu a magia, e não por quem escolhido foi.

Hermeto, seu mentor, não mais pertencia a este plano e, por filosofia, lhe serviu mais de inspiração, do que de tutor. O caminho de cada um, porque único é seu amor. Não foi difícil conseguir sua Manopla e seu primeiro tomo, a que deu o nome de Magnis Maxima.

O Ano da Manopla

Pois seu caminho não seria o mesmo de Hieronimus. Abandonaria a torre e seu mar de tratados e letras para buscar a Sabedoria sua maçã de ouro no oceano mistico, ao sabor dos ventos e correntes místicas, ao contrário de seu mestre, que até hoje a persegue direto na nascente.

A serviço da Ordem, abandonou a ilha como inquisidor, com a missão de catequizar usos desgarrados da magia, mas com o objetivo de entender seus Mistérios em cada manifestação.

“A missão castradora que impõe à Ordem os Feiticeiros nada é senão um desígnio político vil e elitista de quem não conhece a potente arma que manuseia. Ao mesmo tempo que estanca a capilaridade mística em toda sua riqueza, adula e mantém ocupados os que entedem mais a fundo sua fisiologia e poderiam tornar o mundo mais mágico e igualitário se não houvesse tal desígnio da casta superior.

Escolhi a magia como missão; não com a intenção de podá-la, mas de conhecê-la em todas as suas manifestações, com postura humilde e curiosa a respeito dos desígnios da Dama dos Mistérios, pela Novus Ordo Hermeticum, na qual a fome de saber derrubará os desígnios egoístas de quem trata a magia com vulgaridade.”

Abakuk, o Andarilho

Assim, com uma revolução em mente e com a missão de conhecer a magia fora da academia, o recém-batizado Abakuk, passou a viajar em sua primeira missão hermética.

Com o tempo abandonou parcialmente a identidade de inquisidor e assumiu a de andarilho. Vestiu-se com o pó da estrada e portou as armas dos que vivem por si, pois vagou em terras de homens comuns.

Travou contato com toda gente e pela primeira vez se viu como parte do povo. Cada vez menos faziam sentido as castas místicas que se impunham no mundo. Cada vez mais se encantava pela pequena magia, presente nas simpatias e nas estrelas, adornada pelo povo em suas vestes e lendas.

Desenvolveu sua diplomacia particular com o tempo: defesas místicas contra ataques brutais e conversa; muito encanto se necessário. Dias a anotar a magia do mundo e traduzí-la em sua teoria hermética particular, como ensinara Hermeto.

Adonirax, Rex Dormamus

Quando finalmente chegou na cidade onde viveria seu primeiro herético, Abakuk finalmente sentiu o peso de sua origem nobre junto ao povo. Não havia qualquer cooperação. Se a magia vernacular era vista com cautela, encaravam magos herméticos e feiticeiros com um misto de medo e repulsa, como dedicamos aos seres do lixo.

Em mais de uma ocasião sua diplomacia cuidadosamente elaborada ao longo da jornada se provou pálida perante a perigosa antipatia que carrega em nome de sua Ordem; por mais de uma vez, uma figura caótica e vultuosa salvou sua vida.

Adonirax, auto-intitulado Rex Dormamus, último herdeiro de sua linhagem bárbara, Rei de todo o Ocidente, o Rugido de todas as Feras, por algum motivo segue seus caminhos e guarda seus passos com zelo paterno.

Mal fala a língua do mesmo império que pretende um dia governar. Mal explica seus motivos ao se colocar em perigo para salvar Abakuk. Sua verdade se basta, seus motivos são suficientes.

Magia ao Vento

E sem questionar, Abakuk aceitou esta amizade, ainda que sua mente não consiga abandonar longas reflexões sobre seu amigo: onde está seu povo? Por que tanto zelo por um desconhecido?

Sem tempo para mais considerações, o jovem anota suas perguntas nas bordas de seu tomo, ajeita a espada em sua bainha, engoma sua capa vermelha e volta às ruas da pequena cidade. Há magia soprada ao vento, ele pode sentir. A cada lufada, a maçã de ouro se mostra presente.

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