A intertextualidade entre as Recordações de Circe e a Odisseia

Gabriel Caldeira
Relações dialógicas entre textos
3 min readMar 23, 2021

Para conhecer sobre a obra Recordações de Circe, primeiro precisamos conhecer sobre seu autor, Alberto Moravia, que foi autor de vários livros que buscavam criticar em sua maioria polêmicas sobre temas da sexualidade, existencialismo e alienação do individuo, temas considerados como tabu pela sociedade europeia do século XX que ele costumava a batizar de hipócrita, hedonista e acomodatícia. Em Recordações de Circe, Moravia traz à tona toda a situação a partir do ponto de vista de Euríloco, em uma releitura em ele se converte praticamente em um herói, sendo a sua astucia e seu olhar crítico as principais características que mostram essa nova faceta da personagem.

Circe, a poderosa Deusa da feitiçaria.

As obras possuem uma série de características em comum. O gênero é Épico, pois contam situações grandiosas, o narrador viveu aquela situação e agora está nos contando, não é possível mudar o passado, essa característica é muito presente no momento em que ocorre o processo de transformação física dos homens em porcos.

Além dos personagens serem os mesmos, o cenário da ilha de Circe se repete, porém as descrições das situações ocorrem a partir de pontos de vista diferentes. Na obra podemos observar alguns pontos importantes, como quando os marinheiros eram facilmente seduzidos aos feitiços de Circe, despertando o desejo e apreço pelo que se tornavam.

Tanto na odisseia quanto em Recordações de Circe, lembranças do passado são trazidas a tona para a narrativa, em um primeiro momento, Ulisses relembra suas viagens, e com o seguimento da história, Euríloco relembra da viagem em específico para a ilha de Circe.

Alberto Moravia, escritor da obra “Recordações de Circe”.

Na Odisseia, Circe é antagonista e Euríloco é uma personagem secundária, em Recordações de Circe já sentimos algumas diferenças, Euríloco se torna narrador observador, Circe se torna uma das várias antagonistas. Por trás da obra temos grandes críticas, entre elas, a questão em que os marinheiros se tornam, extremamente submissos, as tentativas de ajuda e o antídoto de Ulisses.

Ao analisar a Odisseia, suas características, e todo o universo que o engloba junto ao processo de releitura criado por Moravia, podemos encontrar diversas referencias que trazem alusão a situações que presenciamos em nosso cotidiano. Podemos questionar o comportamento dos marinheiros em virtude do ser humano perante o consumo exagerado provocado pelo capitalismo, onde seres humanos são obrigados a viver padrões de vida impostos dentro de uma sociedade que vê a pocilga como o ideal a ser seguido. A mídia e as formas modernas de alienação podem estar ligadas de maneira intrínseca ao comportamento na pocilga, em situações em que somos hipnotizados por conceitos de belo que nos são impostos.

Moravia traz de maneira brilhante uma adaptação da Odisseia a comportamentos comuns do século XX, visto que sua obra é repleta de criticas social assim como a Odisseia, obra que é responsável por evidenciar que apesar das diversas transformações que ocorrem na sociedade, existe a capacidade de criar comparações entre as sociedades do passado, do presente e quiçá até do futuro.

Por Gabriel Victor Caldeira & Thais dos Santos Fonseca Baptista

REFÊNCIAS

https://educacao.uol.com.br/biografias/alberto-moravia.htm

http://tribunanoturno.blogspot.com/2016/11/seminario-de-moravia-e-santanna.html

https://unidospelateoriaii.wordpress.com/2018/11/26/odisseia-e-as-recordacoes-de-circe-a-jornada-do-heroi-e-sua-intertextualidade/

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Gabriel Caldeira
Relações dialógicas entre textos

Brazilian social communication student at Federal University of Juiz de Fora, who enjoy discussing about music, television and pop cultural phenomena.