Edgar Allan Poe e o homem contemporâneo

Camilla Santos
Relações dialógicas entre textos
5 min readMar 22, 2021

EDGAR ALLAN POE E SUAS OBRAS.

Edgar Allan Poe apesar de ser considerado um dos maiores gênios da literatura mundial teve uma vida bem conturbada, tendo sido abandonado por seu pai logo cedo e perdido sua mãe quando criança, foi adotado por uma família em que seu padrasto não lhe dava carinho e o rejeitara. Perdeu no decorrer de sua juventude sua madrasta por quem nutria muito amor, perdeu também alguns anos depois sua esposa que veio a ser da mesma doença que sua madrasta (tuberculose). Teve uma morte igualmente misteriosa que serve de plano de fundo para várias teorias da conspiração.

Uma vida tão cheia de dramas acabou servindo de inspiração para o escritor que dedicou sua engenhosa inteligência na escrita de contos narrando histórias que passeiam por gêneros como horror, policial, ficção cientifica, dentro outros.

Quando falamos em Poe automaticamente estamos falando em uma intertextualidade irrestrita, haja vista que o autor serviu de inspiração para a criação de infinitas obras dos mais diferentes gêneros, além de ser considerado o criador do gênero policial e da ficção cientifica, sendo ainda grande influência para o terror. Nesse pequeno texto tentaremos mostrar um pouco das influências desse enigmático autor.

INSPIRAÇÃO PARA DIVERSOS TITULOS E OBRAS.

Importante observar sobre Poe primeiramente sua indubitável contribuição para o gênero policial, “Os Assassinatos da Rua Morgue”, “O Mistério de Marie Roget” e “A carta furtada”, marcam a criação do gênero detetive. Marcam também o aparecimento do icônico detetive Auguste Dupin que mais tarde serviria de inspiração para Sherlock Holmes, guardada as devidas proporções. Sobre “Os Assassinatos da Rua Morgue” ainda podemos destacar o filme lançado em 1932 com o famoso ator Bela Lugosi que interpretou no cinema obras como Drácula e Frankstein. Abaixo links para o livro com os contos policiais e para o filme:

https://www.lpm.com.br/artigosnoticias/arquivos/trilogia_poe_assassinatos.pdf

https://www.youtube.com/watch?v=36YWhM7Y3iI

Poe não vai servir de inspiração tão somente para Sherlock Holmes, vemos muitos traços de seu estilo “Detetive” em obras de Agatha Cristie e Raymond Chandler também. O método de indução, dedução aliados a personagens dotados de uma inteligência superior sempre foram muito explorados nas obras policiais de Poe e são também amplamente utilizados no cinema e em outros produtos midiáticos. O famoso personagem Dr. House guarda fortes traços de Dupin e Holmes que como já dito guardam traços entre si.

https://www.youtube.com/watch?v=v30d-JT89V4

Outra grande contribuição de Poe é para o gótico, afinal quem nunca viu a imagem de um cemitério e um corvo ou não associa corvos à morte. Nem sempre foi assim, toda essa herança advém do famoso poema “O corvo” de Edgar Allan Poe, destaque por sua musicalidade, linguagem e por ser um marco do gênero sobrenatural. Basicamente narra a história de um corvo falante que faz uma visita a um homem à beira da loucura porque perdeu sua amada chamada Lenore. Abaixo se encontra o poema na integra, uma arte e a sepultura de Edgar Allan Poe que foi decorada com um corvo.

Arte de Edgar Allan Poe
Sepultura de Edgar Allan Poe

Uma descida ao maelström e o homem contemporâneo

Maelström

Uma Descida ao Maleström, por se tratar de um conto, tem uma narrativa simples e com personagens rasos (sequer sabemos os nomes dos envolvidos na narrativa). Apesar de ser um texto pequeno com narrativa linear, não deixa de ser rico em descrição dos acontecimentos e do cenário em que a história se passa, algo fundamental para o leitor sentir o medo da imensidão do maelström.

A história nos é contada em primeira pessoa por um viajante bem estudado que numa viagem à Noruega ouviu a história de um pescador que foi pego pelo maelström. Isso caracteriza uma história dentro de uma história, o viajante é um intermediário entre o leitor e o pescador, que de fato viveu os acontecimentos narrados.

Giorgio Agamben

O conto tem como personagem principal esse pescador sobrevivente que foi capaz de pensar racionalmente para escapar da força da natureza, podemos traçar uma paralelo interessante com o ensaio do filósofo Giorgio Agamben, “O que é contemporâneo?”.

Em seu ensaio, Giorgio menciona Friedrich Nietzsche, filósofo Alemão que vai falar sobre como o homem contemporâneo é aquele que tem a capacidade de aceitar o tempo presente em que vive, mas ao mesmo tempo consegue se distanciar dele. E assim agiu o pescador, ao aceitar seu estado, dentro do maelström foi capaz de observar seus arredores e notar que os objetos mais pesados e maiores afundavam mais rápido, e os menores, leves e cilíndricos conseguiam flutuar. Esse distanciamento também se apresenta na sua capacidade de lembrar os destroços que chegavam à praia depois do maelström: sempre de barris e objetos não muito pesados. O pescador aliou seu conhecimento prévio, sua memória e a capacidade de ver não apenas o óbvio (como seu irmão que se prendeu à embarcação em que se encontravam e se recusou a soltar, morrendo no fundo do maelström).

Ao final do conto, o pescador se salva agarrando-se ao barril que estava na sua embarcação, ele permaneceu flutuando dentro do grandioso maelström e quando a tempestade passou permaneceu agarrado a ele até que outros pescadores aparecessem para resgatá-lo. O homem conta que esses homens q o salvaram eram seus amigos, mas não o reconheceram pois sua aparência era a de um homem velho, seus cabelos negros se tornaram alvos e seu rosto havia envelhecido. A descida ao maelström foi algo que mudou o pescador para sempre, podemos interpretar o grande furacão como as tribulações de uma vida, ao passar por tantas dificuldades e desafios acabamos por carregar marcas físicas para o resto da vida e foi assim com o pescador.

Autores:

Camilla dos Santos Queiroz

Helom Paulino Ferreira

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