Uma intertextualidade entre Édipo Rei e Hamlet
Uma análise do gênero trágico e suas semelhanças
A tragédia teve a sua origem na Grécia , como uma forma de culto ao deus Dionísio, a divindade do vinho, da alegria, da exuberância e das potências geradoras e também da excitação de toda espécie e da união mística. Durante os milénios a tragédia se tornou um dos gêneros teatrais (dramáticos) mais encenados nos coliseus e anfiteatros do mundo. Com isso, grandes dramaturgos se destacaram ao longo dos séculos como autores de narrativas trágicas, alguns deles são: Ésquilo (524–456 a.C.), Sófocles (496–406 a.C.), Eurípides (480–406 a.C.) e Shakespeare ( 1564–1616). Dentre os textos trágicos é possível se fazer uma intertextualidade com eles, é o que analisaremos neste post com Édipo Rei de Sófocles e Hamlet de William Shakespeare.
Para os gregos há uma questão muito importante, que é a questão do equilíbrio! Há uma situação de ordem, e ao quebra-la causa um desequilíbrio, e por isso é importante que a ordem seja restabelecida, sob pena do que for: a morte ou o exílio. As nomenclaturas que definem o estado de ordem e desordem, são: Eudaimonia (estado de plenitude do ser) e Daimonia (estado de caos do ser). No texto Édipo Rei de Sófocles, o estado de ordem é quando Édipo, um rei justo que é amado pelo seu povo é casado com Jocasta, está em um momento de paz na narrativa. Até que o protagonista passa por uma situação de infelicidade, quando ele vai em busca do culpado pelo assassinato do rei Laio (momento este que se encontra em desordem). Já em Hamlet o estado de equilíbrio ocorre antes de seu pai aparecer como fantasma e contar que foi assassinado por seu irmão Cláudio. E o estado de desequilíbrio é a busca dele pela vingança.
Outro elemento de intertextualidade é a Physis que corresponde a natureza e a essência do personagem. No caso do Édipo, sua personalidade é de ser uma pessoa corajosa e isenta que foge da cidade de Corinto a fim de evitar que aconteça uma tragédia com os seus pais adotivos, a qual o Oráculo de Delfos o alertou, enquanto em Hamlet, a sua essência é ser uma pessoa fria, calculista e vingativa. Além disso, é importante analisar a Hybris, as atitudes dos personagens que passam do limite. A desmedida do Édipo é o excesso de confiança, orgulho, presunção, arrogância ou insolência que com frequência termina sendo punidas, pois ele até o final, irá falar que ele é o filho da fortuna, que ele é o filho da sorte. E é essa desmedida de orgulho que faz com que até o final da peça Édipo busque quem é o assassino de Laio. Em Hamlet ele também é arrogante, insolente e orgulhoso, e seu limite é ultrapassado quando ele assassina Polônio, desrespeita a sua mãe e escreve uma carta ao qual decapita os seus amigos Rosencrantz e Guildenstern.
Outro ponto de interconexão é a Hamartia (falha trágica), é um erro cometido pelo personagem. No caso de Édipo é quando ele mata o pai e casa com a mãe de forma inconsciente, e o erro de Hamlet acontece por uma falha de caráter com a morte de personagens inocentes como Polônio e Ofélia. E por último, temos a retomada do estágio de equilíbrio na narrativa trágica, onde em Édipo Rei é o momento em que ele reconhece o seu erro (Anagnórises) ao mutilar os seus olhos e ir para o seu exílio, já em Hamlet é quando ele é assassinado em uma emboscada tramada por seu tio Cláudio e Laerte. Portanto, se percebe características semelhantes no gênero trágico aos quais fomenta a linha de dramaticidade nas narrativas teatrais.
AUTORES:
André Ribeiro dos Santos
Mariana da Silva Lopes Albuquerque
REFERÊNCIAS:
SÓFOCLES. Édipo Rei. Disponível em: http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/edipo.pdf
SHAKESPEARE, William. Hamlet. Disponível em: http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/hamlet.pdf
