Review do Show do Noel Gallagher (Summer Break Festival) — Curitiba 07/11/2018

Lucas Henning
-Relevo, +Música
Published in
7 min readNov 10, 2018

Fala aí galera, beleza?

Hoje vim falar um pouco do show que eu assisti no último dia 07 de Novembro que rolou dentro do "Summer Break Festival". Um show que eu estava extremamente ansioso para ver, senhoras e senhores, Mr. Noel Gallagher.

Pra quem não esta familiarizado com o nome, ele foi guitarrista, principal compositor, e letrista do Oasis, uma banda que está presente em 10 a cada 10 playlists dos anos 90/2000. Sempre gostei muito do som deles, e acho que foi uma das últimas grandes bandas de rock que surgiram, e se mantiveram relevantes até praticamente o seu final após anos de discussões entre os irmãos Noel e Liam.

Em carreira solo desde 2009 e já no seu terceiro disco de inéditas, o show combina músicas de todas as fases de sua carreira solo e várias músicas do Oasis. Mas antes de falar do show em sí, eu queria contar um pouco da minha relação com o show do Noel Gallagher.

Em 2016 ele estava vindo para o Brasil para se apresentar no festival Lollapalooza, que tem como tradição trazer bandas que já tem um público grande, mas que não são figurinhas tão carimbadas de festivais. No mesmo dia que se apresentou o Noel, que era o show que estava mais ansioso pra ver, tocaram outras duas bandas que eu adoraria ter visto ao vivo, Alabama Shakes e o Florence And The Machine.

Sabendo disso, eu e mais um amigo que também é muito fã de música trocamos uma idéia e topamos o desafio de ir ao Lollapalooza em SP no dia 13 de Março. Na época, comprar ingressos para o festival e arcar os custos da viagem era algo bem grande para gente, dependíamos de um planejamento financeiro muito apurado, e uma logística bem precisa para que tudo funcionasse.

Depois de superar o primeiro obstáculo que era comprar os ingressos em muitas parcelas e ainda vendo como iriamos para lá, faltando poucos meses para o show, o pai desse meu colega vem a falecer de forma inesperada. Com isso, mudou totalmente o planejamento dos meses seguintes, e também a vida desse meu colega. Como uma forma de ajudar, me responsabilizei pela venda dos nossos ingressos, já que não tinha clima para continuarmos planejando a viagem.

Nesse momento, uma música que eu estava ouvindo muito na época chamada "You Know We Can Go Back", do excelente disco "Chasing Yesterday", segundo disco da Noel Gallagher's High Flying Birds, passou a adquirir um outro significado para mim. Essa música falava muito de aproveitar os momentos, e entender que algumas fases simplesmente passam. Por se tratar de um amigo muito próximo, acompanhei de perto esse período de transição que a vida dele estava passando, e todas as implicações e responsabilidades que incidiram sobre ele. Da minha parte, eu tentei estar presente e dar o máximo de apoio durante esse período difícil, e essa música ficou registrada na minha memória com um retrato dessa época.

Eu me lembro de ter assistido aos shows do festival pelo canal Multishow, e eu tinha um misto de arrependimento/conformação de não ter tentado ir sozinho, mas tudo bem, como diz a música, ".. and it's alright, we know we can go back…"

Cortamos para 2018, a banda esta na turnê de divulgação do seu terceiro disco de carreira, "Who Built the Moon", que tem um ar bem mais "psicodélico".

Capa do disco "Who Built the Moon"

O disco conta com a adição de alguns elementos eletrônicos, backing vocals femininas, muito filtro sobre as vozes, ecos, inserções de dialógos em algumas músicas, e um tom bem menos intimista que os discos anteriores. Confesso que foi um album que ouvi poucas vezes e não me agradou muito, mas tenho que admitir que as músicas são bem empolgantes ao vivo.

Eu comprei o ingresso no dia do show para o setor mais próximo do palco e fiquei impressionado pelo fato de ter pouquíssimas pessoas na Pedreira Paulo Leminski, um lugar com uma acústica excepcional e uma paisagem natural privilegiadíssima para grandes show.

Essas duas fotos foram tiradas cerca de quarenta minutos antes da banda Foster and The People subir ao palco, e dá pra dizer que o local que cabe aproximadamente 30 mil pessoas estava com menos de 1/6 da sua capacidade. Acho que isso ocorreu por vários fatores, dentre eles o alto valor dos ingressos, baixa divulgação, e proximidade da data do show com outros eventos que ocorreriam nesse mesmo período, que fez as pessoas escolherem qual evento participar. Nem uma promoção de "Black Friday" antecipada por parte da produtora, onde os ingressos foram vendidos pela metade da metade do valor ajudou a colocar mais gente no festival.

Algo que eu reparei também, era que o público das duas bandas não se "dialogavam" muito. Quem foi lá para ver o show do Noel e era um pouco mais velho, provavelmente nunca tinha ouvido falar da banda Foster The People, que tem um som bem mais alternativo e com grande parte do repertório composto por bases eletrônicas. Em muitos momentos me lembrou muito mais o som de um artista pop do que de uma banda propriamente dito. Após pouco mais de duas horas de show, chegou o tão aguardado momento, começa o show do Noel Gallagher.

Apresentação da banda no programa "Later… with Jools Holland" em Outubro/2017

Nessa turnê a banda aumentou um pouco de tamanho, contando com duas backing vocals, trio de metais, percussão, e um tecladista que também era responsável pela inserção dos efeitos sonoros. Uma puta vibe, as 4 primeiras músicas foram do disco novo, e estabelecia uma atmosfera que fez com que todos que não estivessem familiarizado com as músicas, ficasse observando a performance e tentando capturar cada detalhe. A banda estava afiadíssima, o show teve uma boa cadência, e ao terminar uma música já emendavam na outra sem muitas pausas ou interações.

Após esse pequeno bloco de músicas novas, é tocado "Heat of The Moment" do segundo disco, que já convida os fãs que até então estavam prestando atenção nos "mínimos detalhes" a dançar um pouco. Na sequência Noel pega seu violão e começa a tocar "If I Had A Gun…", música do primeiro disco da banda e uma das minhas favoritas até hoje, a primeira que dava pra ouvir boa parte do público cantando. Na sequência, "Whatever"(Oasis) que fez a galera vir a baixo.

Dali pra frente o show se manteve equilibrado em músicas dos 3 discos, e uma boa seleção de musicas do Oasis, que era as que o público respondia com maior empolgação. Foram tocadas Wonderwall, Go Let It Out, Half of The World Away, e Little By Little, essas últimas duas estão entre as minhas favoritas do repertório da sua antiga banda. Também teve Whatever como já foi citado anteriormente, e a penúltima música do show foi Don't Look Back In Anger, que merece um destaque a parte.

"Slip inside the eye of your mind,

Don’t you know you might find, a better place to play…"

A essa altura do show, a platéia já estava totalmente entregue, quando Noel se aproximou e começou a tocar timidamente a música com o violão, cantando ainda meio baixinho para ouvir o povo cantando junto cada palavra, apenas com a banda tocando uma meia lua para marcar o tempo da música. A minha recordação desse momento é de uma garoa fina caindo, as pessoas ao redor extremamente confortáveis e empolgadas, as luzes em tons mais azul escuro, que davam um efeito muito bonito junto a fumaça vindo do palco. Na minha frente tinha uma menina linda com um belo sorriso, com os olhos fechados, o rosto levantado para o palco repetindo cada palavra da música como se fosse uma oração. Ao nosso redor, várias pessoas abraçadas, casais, amigos, pais e filhos cantando com um sorriso no rosto e um ar de fraternidade.

"Don't Look Back In Anger — Curitiba 07/11/2018 — Pedreira Paulo Leminski — Summer Break Festival"

Pra mim a "música" é sobre isso, é essa ligação sentimental que vai além do significado literal das palavras, é essa conexão entre as pessoas que estão ouvindo, quem está tocando, e todos que estão ao redor compartilhando desse mesmo sentimento. Cada um com suas origens, suas histórias, memórias, e o quão inédito, único e singular passa a ser esse momento. Essa provavelmente vai ser minha lembrança sempre que eu ouvir essa música nos próximos anos, foi um momento inesquecível. Ainda nesse espirito, o show foi encerrado com All You Need Is Love dos Beatles, que não poderia combinar melhor com aquele momento.

O repertório do show foi cirurgicamente equilibrado com total de 18 músicas, 1/3 delas do último disco, 1/3 composta por músicas do primeiro e segundo disco, e o restante músicas do repertório do Oasis + Cover dos Beatles. Foi um show inesquecível.

Se você não conhece muito da carreira solo do Noel Gallagher e quer ter uma visão geral, eu preparei uma playlist com as músicas tocadas no show aqui de Curitiba.

https://play.soundsgood.co/playlist/noel-gallagher-curitiba-07112018

Citações:

Summer Break Festival 2018

Pedreira Paulo Leminski

Netflix — Supersonic — Filme disponível em 07 de Novembro de 2018

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