Vários Tons de Tiago Iorc…

Lucas Henning
-Relevo, +Música
Published in
5 min readMay 10, 2019

É minha gente, ele está de volta. Um dos nomes mais interessantes da música pop nacional e um dos melhores compositores da sua geração, resolveu nessa madrugada do dia 04 ~05/05 pegar todos de surpresa com o lançamento de um disco visual de inéditas : “Reconstrução”.

Capa do Disco, Reconstrução(2019)

Bem, antes de falar da parte sonora do disco novo, queria recapitular um pouco da carreira de Tiago Iorc desde seu último lançamento: “Troco Likes”, de 2015.

O cantor que anteriormente compunha apenas em inglês, passou por um processo gradual até chegar ao seu bem sucedido disco que o projetou para todo Brasil. Em meados de 2014/2015 se aventurou a gravar algumas faixas em português, dentre elas, dois covers do renomado compositor gaúcho Duka Leindecker, vocalista e guitarrista da banda Cidadão Quem do Rio Grande do Sul. As músicas gravadas foram “Musica Inédita” e “Dia Especial”, belíssimas composições que nitidamente influenciaram o caminho estético das canções que viriam a compor o primeiro disco do cantor em língua materna.

Troco Likes veio a ser um dos albums mais ouvidos integralmente nos próximos anos que viriam a seguir do seu lançamento. O disco trouxe uma sonoridade calcada em violão/voz e arranjos modestos, sendo muito suave e gostoso de ouvir do começo ao fim.

A música “Amei te ver” foi um capítulo a parte. Entrou na trilha sonora da novela “Haja Coração” da Globo, e teve um belo clipe estrelando a superestimada atriz global Bruna Marquezine. Também foi a única música que não se enquadra nos gêneros Funk ou Sertanejo a figurar na Brazilian Billboard Hot 100 Airplay 2017, lista que elenca as músicas mais reproduzidas nas estações de rádio do país (ufa, ainda bem não?). Além de tudo a música ainda lhe rendeu uma indicação ao Grammy Latino.

A turnê do disco Troco Likes teve uma proposta diferente, apresentando apenas o cantor voz/violão, e o repertório majoritariamente composto pelas músicas do seu mais recente disco. Vale ressaltar que um belo show/DVD foi gravado, em que o próprio cantor dirigiu e idealizou um plano sequência de um show gravado na integra. Um recurso que virou quase que uma assinatura em seus clipes.

Após uma excessiva exposição midiática e uma turnê extremamente bem sucedida, o cantor resolveu sumir das redes sociais, tirar umas férias, e ficar recluso até então.

Eu estava buscando algo para ver no Youtube , e na minha home apareceu 13 novos vídeos relacionados ao cantor Tiago Iorc lançados a pouco mais de 2 horas, e que já estavam entre os mais destacados da plataforma. O cantor novamente surpreendeu e junto com um disco de inéditas, “Reconstrução”, lançou um clipe para cada música do novo trabalho, caracterizando assim um disco visual. Conceito utilizado recentemente pelo Marcelo D2 com o também excelente “Amar é para os Fortes”(2018).

Da parte visual , confesso que comecei a ver o primeiro clipe , e fiquei surpreendido pela qualidade, o conceito que estava sendo apresentado, e a estética utilizada. Não consegui parar de assistir antes de terminar todos.

Os clipes trazem elementos já familiares de suas produções como diretor, como o destaque para pele e o toque, coreografias compostas por movimentos suaves, e o uso frequente de enquadramentos mais fechados. A atriz Michele Alves aparece muito bem nos clipes, muito expressiva. Para as adolescentes de plantão, cenas quentes envolvendo o galã prometem impulsionar ainda mais o lançamento do disco.

Com relação a sonoridade do disco, ela vem acompanhada de uma pegada folk contemporânea, estilo bastante em alta nos EUA, que apresenta violão, batidas não muito lineares ao longo das músicas, e uma cama de vozes ao fundo para dar esse ar mais grandioso as canções.

A temática das músicas enfatizam a relação física sensível e as sensações de estar em contato com o corpo do outro, não somente o toque, mas todo o envolvimento composto por olhares e carinho. Além da valorização do outro, Iorc não deixa de criticar a forma superficial como as relações são construídas nos dias atuais, e a forma descartável como o sexo é tratado. Mas, essa é só a minha primeira impressão, eu tenho certeza que esse é um dos discos que a cada audição traz novas percepções e perspectivas.

A faixa que abre e da nome ao projeto, “Desconstrução”, traz um ar mais intrigante e reflexivo. A temática é uma perfeita narrativa sobre as questões mais latentes desse mundo tecnológico/moderno que vivemos: Super-exposição, culto a aparência, e depressão em decorrência de ver a vida dos outros como uma vitrine perfeita. É possível perceber, não por acaso, que a música tem referências melódicas, temáticas e estruturais com a clássica “Construção” de Chico Buarque, (1971).

Queria fazer uma menção para música “Hoje lembrei do seu amor”, que acredito que será o o grande destaque radiofônico desse disco. Uma bela canção que já começa com um assobio contagiante.

Nessa paz eu vou” foi uma das que eu mais gostei, principalmente pela leveza que ela traz. São raras as músicas hoje que trazem pra perto um momento easy vibe, e que nos faz desligar da urgência da vida moderna e resgatar o valor das coisas simples.

O disco também traz músicas mais animadas e bem humoradas como “Fuzuê”, “Tua Caramassa” e “Me Tira Pra Dançar”. Algumas que trazem elementos eletrônicos como “Tangerina” e “Faz”.

A faixa que fecha o disco “Sei”, traz uma clara influência de Milton Nascimento, de quem Tiago é fã assumido, pela grande variação melódica entre agudos e falsetes e um belo piano ao fundo. Lembrando que Tiago já gravou uma música com Milton em 2017.

Bem, espero que tenha te convencido a ouvir o disco. Parabéns ao Tiago Iorc pela estratégia audiovisual, fazia tempo que não apareciam trabalhos tão concisos, conceituais e com esse nível de profundidade, que através da curiosidade, vai fazer diversas pessoas ouvirem esse novo achado de sua obra. Sem dúvida, um dos trabalhos mais relevantes de 2019.

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