Havia mais do que Benfica na Lisboa dos anos 60

Wladimir Dias
Revista Relvado
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3 min readMar 8, 2018

Há histórias do mundo da bola que todo apaixonado conhece. Antes do aparecimento de Cristiano Ronaldo, era fácil apontar o maior jogador da história do futebol português: o ultramarino Eusébio; tão inquestionável quanto o Benfica da década de 60 e a seleção lusitana, terceira colocada na Copa do Mundo de 1966.

No entanto, como diz o ditado popular, “por trás de todo grande homem, há uma grande mulher”, pode-se dizer que “por trás de toda grande equipe, há um grande rival”.

Não há dúvidas de que os Encarnados eternizaram um quinteto com a Seleção das Quinas. Regidos por Mário Coluna, os atacantes José Augusto, Eusébio, José Torres e António Simões, os benfiquistas do selecionado, eram os responsáveis pelo maior brilho daquele time.

Contudo, os objetivos do time não teriam sido alcançados sem a contribuição inestimável de gente da estirpe de João Morais, Hilário Conceição, Alexandre Baptista e José Carlos, todos defensores do Sporting CP, que desafiava o domínio do Benfica nos anos 60.

A convocação do seleccionador Manuel da Luz Afonso (embora o treinador, de fato, fosse Otto Glória), tinha nada menos que oito sportinguistas, contra sete benfiquistas. É claro, há diferenças de importância e talento dentre as peças, mas o fato é que nem só de Benfica vivia o futebol português nos anos 60.

Outra prova determinante disso foi o fato de que em 1961/62 (ano em que os Encarnados conquistaram o bicampeonato europeu) e em 1965/66, quem conquistou o Campeonato Português foi o Sporting. Aos Leões também coube a glória de levantar a Taça de Portugal de 1962/63.

Por isso, foram à competição mais importante para si na década. Na disputa da Recopa Uefa de 1963/64, os alviverdes deixaram Atalanta, APOEL, o poderoso Manchester United (de Dennis Law, George Best e Bobby Charlton, vencendo o jogo de volta por 5x0) e o Lyon pelo caminho, antes de bater o MTK Budapest na final e levantar o caneco.

Na ocasião do massacre contra os mancunianos, a edição de 19 de março de 1964 do jornal The Guardian relatou com riqueza de detalhes o ocorrido. Em matéria assinada por Brian Crowther disse-se que:

“Depois que Osvaldo marcou seu terceiro gol, o quinto do Sporting na partida, o Manchester United aparentou ter perdido a esperança. Eles ficaram surpresos com o deslumbrante — e, tenho certeza, sem precedentes — futebol praticado pelos atacantes do Sporting”.

Naqueles anos, o clube lisboeta já não contava com os “Cinco Violinos”, Jesus Correia, Manuel Vasques, Fernando Peyroteo, José Travassos e Albano, os avassaladores destaques da década de 40; e ainda não havia começado o tempo do argentino Héctor Yazalde (até os dias atuais o maior artilheiro de uma edição do Campeonato Português, com 46 gols em 30 jogos, em 1973/74).

Grandes revelações como Luís Figo, Ricardo Quaresma e o Gajo, C. Ronaldo, não tinham seu nascimento sequer imaginado. Nos anos 60, embora fosse poderoso, o Benfica não era a única força do futebol lusitano. Ali mesmo em Lisboa, além de se ver o voo da Águia, era fácil distinguir o rugido do Leão.

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Wladimir Dias
Revista Relvado

Advogado, mestre em Ciências da Comunicação e Jornalismo Esportivo, pós-graduando em Escrita Criativa. Escrevo n’O Futebólogo e penso no Fluxo de Ideias.