Na Itália só existem dois atacantes

Murillo Moret
Revista Relvado
Published in
3 min readMar 17, 2018

Christian Vieri, Fabrizio Ravanelli, Paolo Rossi, Roberto Pruzzo, Pierino Prati, Francisco Graziani, Salvatore Schillaci, Luigi Riva, Roberto Boninsegna, Alessandro Altobelli, Filippo Inzaghi, Giorgio Chinaglia, Igor Protti, Dario Hübner e Cristiano Lucarelli. Roberto Bettega, Giuseppe Signori, Luca Toni, Paolo Pulici, Alessandro Del Piero, Gianfranco Zola, Roberto Baggio, Bruno Giordano, Francesco Totti, Antonio Di Natale, Sandro Mazzola. A Itália teve atacantes de todos os tipos, mas que, na verdade, pensando bem, eles basicamente são todos categorizados em duas formas.

As posições são distintas e variadas. Centroavante, atacante recuado, defensivo, trequartista, “9,5” (como Baggio foi rotulado), falso nove, raumdeuter… Ainda é possível verificar e compreender cada atacante italiano em termos contemporâneos, porém, eles não conseguem explicar a história do futebol no Belpaese nem apontar a influência que os dois expoentes tiveram no calcio.

Giuseppe Meazza e Silvio Piola representam a projeção dos tipos destes: de um lado ficam os tecnicamente majestosos e goleadores, como Meazza; do outro, os jogadores di sfondamento, aqueles que são fortes como touros, e têm raciocínio rápido e posicionamento impecável, exatamente como Piola, ídolo de Pro Vercelli e Lazio.

Alguns apontam Meazza como o melhor jogador italiano de todos os tempos. Subjetivo, nós sabemos. Mas, atualmente, a Itália chama “gol à Meazza” quando um atleta dribla os marcadores, finta o goleiro e entra com bola e tudo às redes. Ele foi um gênio do seu tempo, o primeiro astro proveniente da Bota. Porque, objetivamente, o atacante — ou trequartista, como também atuou durante anos — empilhou marcas individuais, três títulos nacionais e duas Copas do Mundo.

Em Piola se via quase o anti-Meazza: um rapaz do interior que não estava nas propagandas, que a vida particular não era revisitada pela imprensa (o do jogador da Ambrosiana-Inter, que adorava as saídas noturnas, era um alimento infindável para os jornais) e que tinha uma técnica que deixava a desejar em comparação ao companheiro de seleção.

Ele era o anti-divo, de acordo com o filho, Dario. O que não era um problema, afinal, Piola, pioneiro dos chutes de voleio e bicicleta, era uma máquina de fazer gols. Esse estilo mais recluso era transposto, também, ao campo: a carreira do atacante foi muito mais longeva que a dos contemporâneos — Piola jogou até 1954, aos 41 anos; em comparação, Meazza parou em 1947 (jogando por muito tempo aquém da década anterior por conta de lesões) e Felice Borel II, outro goleador do período, pendurou as chuteiras em 1949.

Os grandes atacantes que surgiram nos anos posteriores foram influenciados por eles. Riva, por exemplo, era completo: eficiência aérea, velocidade, força e uma canhota estupidamente poderosa. O campeão pelo Cagliari foi abençoado como herdeiro de Piola e, na sequência, vieram Pruzzo e Boninsegna — sucessores de Riva e, portanto, do ex-laziale. Sempre no mesmo estilo.

Na Sampdoria finalista europeia do início da década de 90, os dois atletas lá da frente eram bem modernos. Vialli e Mancini mesclavam técnica com força, mas a balança ainda pendia para um dos lados. Meazza, por sua vez, ajudou a despontar o ótimo Mazzola na Inter que seria campeã de tudo entre 1962 e 65. Neste perfil, os herdeiros permaneceram espalhados em Bettega, Signori, Zola — uma das grandes frustrações de Carlo Ancelotti foi ter despachado o baixinho para não mudar o ataque do Parma, com Hernán Crespo e Enrico Chiesa –, Del Piero e Baggio.

Para não deixar a história morrer, dá, sim, para dividir os craques ofensivos entre Meazzas e Piolas. Caso o jogador não se encaixe, deve ser gringo.

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