Métodos inovadores para o futuro dos têxteis

Renan Serrano
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11 min readSep 22, 2019

Em 2015 houve um processo migratório, os designers deixaram de focar no estilo das roupas — na sua simples estética visual — e passaram a trabalhar no processo e na tecnologia do tecido (MUSEU DEL DISSENY, 2016)

A globalização disseminou o acesso à informação e as indústrias têxteis estão em sérias ameaças. As marcas de moda que cresciam mês a mês, agora convivem com proporções cada vez menores em uma escala nunca observada antes. Como resultado, toda a indústria têxtil está desaparecendo.

Para preservar suas indústrias têxteis, países como Japão, Espanha e Portugal descobriram que não podiam ser apenas prestadores de serviços, eles deveriam oferecer inovação.

Enquanto a maioria das empresas e centros de pesquisa estão criando projetos secretos; é praticamente nulo aqueles que conseguem correlacionar o que a mentalidade de código aberto pode oferecer, como fizeram os pioneiros no mercado de dispositivos móveis e computadores.

Essa pesquisa tem como objetivo compartilhar como o autor se apropriou prematuramente da metodologia focada no usuário e a aplicou em processos e materiais têxteis. O código aberto permitiu que ele identificasse as demandas dos consumidores em escala global, concedendo a ele participação em ambiciosos projetos de pesquisa (aqui citado apenas o visto.bio) com os principais especialistas da academia e do setor.

Ilustra a metodologia para contornar a questão da inovação, tempo e patente, com exemplos reais, decifrando como essas tecnologias funcionam, como cada projeto opera e os resultados encontrados para continuar inseridos nas linhas de financiamento governamentais, corporativas e de venture capital.

  1. A relação da globalização com a desaceleração das marcas de moda
  2. Soluções encontradas nas indústrias têxteis
  3. O que o open-source pode nos oferecer
  4. Como lidar com a problemática da patente
  5. Framework entre empresas, universidades, governo e VCs

Esse texto está sob revisão colaborativa, comente caso encontre erros.

1. A relação da globalização com a desaceleração das marcas de moda

Market-share

O Brasil teve seu primeiro contato com a indústria têxtil de maneira negativa, as árvores de pau-brasil foram extraídas por completo e viajaram até os países baixos da Europa, para ser tornarem pigmento têxtil, tingindo mantos e tapetes reais (BRUNELLO, 1973).

Machines, Rahul Jain, 2016

Posteriormente a indústria belga e seus arredores sofreram com a globalização e perderam mercado (market-share), uma das saídas encontradas, foi investir em design, escolheram os melhores estilistas e estudantes da época e apresentaram desfiles em Paris — algo muito parecido também ocorreu com os japoneses nos anos 80 — (KAAT, 2007).

Trying stuff since 1938, Tentar de forma diferente e inovadora, sempre e de novo. Scott Welch, diretor de Global Affairs da Columbia

Hoje, a indústria têxtil brasileira passa pelo mesmo processo de desindustrialização, pois ela apoia-se em locais onde a mão de obra é barata e seus mercados são dolarizados, da mesma maneira que o exemplo acima, esperamos que o Brasil à sua maneira, encontre novos caminhos, e assim, e assim voltar a ser um dos setores que mais empregam no país (ABIT, 2015).

Outro fator é a importação, pois ao comprar um produto importado o dinheiro não retorna ao ecossistema da sua nação. Com o dinheiro escoando para fora do país aumenta-se o déficit e, como consequência, o desemprego.

Através da sustentabilidade, do investimento em novas tecnologias (multidisciplinaridade de profissionais) e desenvolvimento de têxteis técnicos, o setor pode se reerguer com um novo posicionamento, respeitando a cadeia têxtil como um todo, principalmente no que diz respeito a extração (replantio e preservação) e descarte, construindo uma economia circular e sustentável (KRAANEN, 2016).

O processo de criação não leva em conta só a tecnologia, mas também a relação que o usuário tem com a peça. APEX, 2014

As prioridades de consumo mudaram

A pirâmide de Maslow elenca como um ser humano prioriza seu gasto de tempo e dinheiro a partir da sobreposição de diferentes necessidades.

Percebe-se na imagem que a necessidade fisiológica é a prioridade e com o a conquista dela, novas necessidades vão se priorizando e depois perdendo força.

Em uma analogia rápida, após a roupa cumprir seu papel de vestir criou-se a moda e o senso de auto atualização que nas últimas décadas vem perdendo espaço para novas tecnologias como a atualização de um celular ou um computador, onde a percepção de valor está atrelada diretamente à função.

Ilustração alternativa para a pirâmide de Maslow. GUTTMANN, 2016
Machines, Rahul Jain, 2016

2. Soluções encontradas nas indústrias têxteis

Tecidos tecnológicos

Os artigos técnicos vem ganhando market-share por sua não necessidade de customização, já que a compra está ligada diretamente ao benefício.

Simultaneamente a moda vem influenciando os tecidos técnicos para serem mais atrativos e consumíveis, e, a moda, vem se voltando para a performance.

Eles são definidos e avaliados de acordo com o uso ou aplicação final do produto, ele está presente na nossa vida além do vestuário (multidisciplinar), está nos itens de segurança, construção civil e meio ambiente, área médica, indústria aeronáutica, área esportiva, nessa área, as principais disciplinas que convergem são, microssistemas e nanotecnologia, internet sem fio e móvel, têxtil, física e química, e, engenharia elétrica (BYRNE, 2000).

SCHWARZ, 2010

Conectados ao desejo de sustentabilidade, essas tecnologias influenciam diretamente o comportamento de compra do consumidor.

Jayaraman (2015) constata que o tecido, é equivalente a placa mãe do computador, embutimos dispositivos específicos e os customizamos conforme as nossas necessidades, isso significa que a roupa serve de suporte para produtos tanto benéficos quanto nocivos pois ambos estão em contato direto com a nossa pele e também, próximos das vias respiratórias (TAO, 2011; SCIENTIFIC AMERICAN, 2016).

Têxtil técnico é uma competência avançada, que permite através da tecnologia, gerar inovações e oportunidades, e, é um fator determinante para reagir a oscilações de mercado. FIBRENAMICS, 2016

O problema da lavagem de roupa

Uma residência familiar brasileira costuma lavar suas roupas 3.5 vezes por semana (DUPONT, 2013) sendo que 51% das famílias no país utilizam somente máquina de lavar, considerando uma média de 100 L de água por lavagem (SAAEB, 2016), começamos a perceber a gravidade que esse processo residencial tem como impacto direto na natureza.

Machines, Rahul Jain, 2016

Além da contaminação de bilhões de litros de água anualmente com tensoativos do sabão e amaciante, conforme o consumo e custo de energia elétrica se torna menor por conta da tecnologia embutida nas máquinas de lavar, os ciclos de lavagens semanais aumentam (DAVIS, 2008).

Um dos pilares do sistema fast-fashion, está no efeito drástico que a lavanderia tem sobre o têxtil, a cada nova lavagem, a cor, o aspecto, a maciez e a resistência do artigo, são reduzidas, datando a vida útil deles. (YATES, EVANS, 2016).

Diversos países educam seus habitantes para utilizarem o modo de lavagem em baixa temperatura (CPA, 2016) e ciclos rápidos, porém ainda existe um vasto campo de estudo para a redução dos ciclos de lavagem e preservação do meio ambiente (LAITALA, KLEPP, BOKS, 2012).

Soluções para reduzir a lavagem de roupa

Uma delas consiste aplicar em tecidos — de maneira industrial — produtos bactericidas e bacteriostáticos, assim, a lavanderia seria necessária apenas quando a roupa está realmente suja, com manchas (CITEVE, 2008). Essa metodologia é aplicada pela indústria têxtil, porém, isso incide diretamente em quatro fatores:

  1. As roupas se tornam mais caras por conta do beneficiamento;
  2. Crianças menores de 3 anos, seja através do contato com a pele ou por levar o tecido a boca, podem sofrer danos prejudiciais ao seu crescimento (TULVE, et. al, 2015);
  3. Levaríamos décadas até toda a população ter seus armários substituídos por artigos têxteis funcionais, e se isso ocorrer, o descarte de artigos têxteis funcionalizados necessita de uma solução de reciclagem, já que, em aterros ele mata as bactérias que iriam degradá-lo. Para acelerar essa mudança deveria haver uma normatização industrial para todas as tinturarias aplicarem produtos desse tipo por padrão, porém, não há maneira eficiente de controle; então, outra possibilidade, está em aplicar residencialmente, porém, os produtos atuais, despejados na natureza, impactam permanentemente os seus biomas.

A outra solução é o Visto.bio, que nasceu pra criar uma relação mais equilibrada entre nós, nossas roupas e a preservação do planeta. A maioria das pessoas quando chegam em casa, colocam a roupa todo dia no cesto de roupa suja só por causa do cheiro de suor, daí lavam elas só pra tirar o cheiro, isso consome nosso tempo e dinheiro, desgasta o tecido e consome água.

Quando o Visto.bio é aplicado na roupa limpa (antes de sair de casa), ela fica protegida contra cheiro de suor pois ao longo do dia a tecnologia vai eliminando todos os microorganismos que entram em contato com ela, assim o usuário pode chegar em casa com o mesmo conforto e limpeza do início do dia.

3. O que o open-source pode nos oferecer

Oportunidade para todos

A definição de open-source vem do universo dos computadores e significa código aberto. Uma das principais plataformas para esse tipo de compartilhamento é o Github, os programadores interagem entre si na criação, reprodução e melhoria dos códigos, qualquer um pode usar para a finalidade que desejar e os aprendizados são compartilhados para a evolução de todo o grupo.

O interessante desse conceito é que todo o processo é rastreável e todos os participantes são contemplados pela sua devida colaboração.

GOURCE, 2012

Os computadores não seriam o que são hoje se não fosse por conta do open-source, o Linux é um dos casos mais clássicos de código aberto e que hoje inclusive integra sistemas da Microsoft (THE VERGE, 2019).

Um caso oposto é o da impressora 3D que só evoluiu depois que as patentes expiraram e agora ela tem sido útil para ajudar pessoas e empresas nas mais diversas esferas (TECHCRUNCH, 2016).

HAKKENS, 2012

O designer Dave Hakkens criou um protótipo 3D de um celular modular e compartilhou publicamente, o resultado disso foram inúmeras marcas se inspirando na causa, premiações e até soluções ramificadas como o fairphone.

Fairphone
Machines, Rahul Jain, 2016

4. Como lidar com a problemática da patente

Iterações rápidas

A patente é uma das maiores problemáticas quando uma nova idéia se dá, é natural do ser humano acreditar que idéias valem mais do que execução e para provar que isso está errado, diversas metodologias foram construídas.

Vision without execution is hallucination (SINEK, 2014)

Hoje a que mais performa é uma junção de três: Design Thinking (que permitiu a Apple conseguir criar produtos inovadores), o método Lean (que foi criado pela Toyota para vencer a GM ) e do Agile (que proporcionou com que o instagram tivesse um time tão pequeno para um valuation tão grande).

Muitos pesquisadores acreditam que a execução está na construção do produto, mas na verdade ele se encontra na usabilidade e market-fit. A combinação destes três métodos aponta que deve haver interações rápidas e constantes com protótipos da solução entre usuário final e equipe de desenvolvimento antes da patente ser depositada ou, que serão necessários depósitos contínuos de patentes a cada novo ciclo de contato com o consumidor final.

Yann Arthus-Bertrand

5. Framework entre empresas, universidades, governo e venture capital

Inovação e sustentabilidade

Bootstrapping é o termo utilizado quando os fundadores investem os próprios recursos para que a idéia seja prototipada e validada. Um erro muito comum entre empresas e pesquisadores é acreditar que precisam de um investidor para validar a solução, na verdade, esse é o estágio mais barato.

Em quanto grandes empresas como a Nike investem uma porcentagem (≈2%) do seu faturamento bilionário em inovação (e que na maioria das vezes testam, erram e perdem todo o investimento), pequenas empresas devem enxergar a inovação como um colaborador, dedicando um salário (≈R$5k/mês) para “ele”, permitindo que o dinheiro seja gasto como “ele” achar melhor, sem expectativas de retorno.

A união europeia, constata que o crescimento e desenvolvimento vêm por conta da inovação e desenvolve um framework oficial para processos de inovação, estruturando empresas, acadêmicos e governo em prol da sociedade.

Luke Georghiou, Universidade de Manchester, citado em House of Commons Select Committee on Science & Technology. Report Bridging the Valley of Death: improving the commercialisation of Research, março de 2013.

Exemplo prático

O visto.bio, citado anteriormente interage com todos os pilares do framework, isso garante que haja uma estrutura consistente para a startup atravessar dificuldades que poderiam bloquear o propósito da qual veio ao mundo.

  1. Empresas: prova de conceito realizada com a marca de roupas como a Farm, gerando financiamento para melhorar a pesquisa e interações massivas com o consumidor final.
  2. Universidade: investe em pesquisa em parceria com laboratórios de universidades nacionais e contrata os melhores pesquisadores.
  3. Centros de pesquisa: utiliza os mais sofisticados laboratórios internacionais trocando conhecimento e participação no equity.
  4. Venture Capital: participa de processos de incubação, aceleração e escala através de programas como Troppos lab, Startup-Farm, Braskem Labs, Ace Startups, Abstartups e capta recursos de fundos de investimentos para investir em pessoas.

Gostou? Que tal apoiar testando o visto.bio e compartilhando seu feedback?

Referências bibliográficas

  1. BRUNELLO, F. The art of dyeing in the history of mankind. AATCC, 1973.
  2. BYRNE, C. Technical Textiles Market — an overview. In: Handbook of technical
  3. KAAT, D.; BRULOOT, G. 6 Antwerp Fashion. Ludion, 2007.
  4. JAYARAMAN, S. Fabric is the computer. ITMF anual conference, São Francisco, 10 de setembro de 2015.
  5. DAVIS, L. W. Durable goods and residential demand for energy and water: evidence from a field trial. The RAND Journal of Economics, v. 39, n. 2, p. 530–546, 2008.
  6. GEORGHIOU, L. Improving the Framework Conditions for R&D. University of Manchester. Bruxelas, 22 de junho de 2015.
  7. LAITALA, K.; KLEPP, I. G.; Boks, C. Changing laundry habits in Norway. International Journal of Consumer Studies, v. 36, n. 2, p. 228–237, 2012.
  8. SCHWARZ, A. “A roadmap on smart textiles.” Textile progress v. 42, n. 2, p. 99–180, 2010.
  9. TAO, X. M. Smart Fibres, Fabrics and Clothing: Fundamentals and Applications. Elsevier, 2001.
  10. TULVE, N. S.; SETEFANIAK, A. B.; VANCE, M. E.; ROGERS, K.; MWILU, S.; LEBOUF, R. F.; SCHWEGLER-BERRY, D.; WILLIS, R.; THOMAS, A. T.; MARR, L. C. Characterization of Silver Nanoparticles in Selected Consumer Products and Its Relevance for Predicting Children’s Potential Exposures. International Journal of Hygiene and Environmental Health v. 218, n. 3, p. 345–57, 2015
  11. KRAANEN, F. Money makes the world go round. Working Group FINANCE. Países baixos, março de 2016.
  12. Yates, L.; Evans, D.;. “Dirtying Linen: Re-evaluating the Sustainability of Domestic Laundry.” Environmental Policy and Governance v. 26, n. 2, p. 101–15, 2016.

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