A saga da escolha profissional

Renata Ramos
Renata Ramos
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3 min readSep 6, 2020
Imagem de Robin Higgins do Pixabay

Vivemos em uma sociedade onde a escolha de nossa carreira profissional está diretamente ligada à nossa identidade pessoal. Não é incomum uma criança, ainda em sua primeira infância, ouvir a clássica pergunta: “o que você vai ser quando crescer?”.

Conforme vamos crescendo, a pergunta permanece. Quando cursamos o Ensino Médio, somos bombardeados implacavelmente por este questionamento graças à proximidade dos vestibulares e do ENEM. Assim, o jovem de 16 a 17 anos deve escolher o curso universitário que deseja fazer e a profissão que pretende exercer em sua vida adulta. Afinal, nosso modelo educacional nos oferece cursos universitários engessados e direcionados para uma carreira específica, diferentemente do modelo universitário dos EUA, por exemplo, onde o estudante escolhe uma área e, no decorrer da vida acadêmica, define sua especialização.

Será que a cabeça de um adolescente tem a maturidade necessária para uma escolha tão decisiva? É saudável pensar que deve fazer uma escolha que vai perdurar POR TODA SUA VIDA?

Para os millenials, talvez seja uma escolha mais fácil de ser feita: cresceram em meio a uma infinidade de informações disponíveis, com a internet ao seu alcance. Para a geração Y, da qual a pessoa que escreve estas linhas faz parte, era bem mais complicado: só se conseguia informações sobre o Ensino Superior por meio dos guias disponibilizados pelas universidades no momento da inscrição para o vestibular ou no Guia do Estudante publicado pela Editora Abril e vendido em bancas de jornais.

Desta forma, minha escolha profissional foi feita baseada em coisas que eu gostava de fazer: ler, escrever e dar aulas (comecei a dar aulas de reforço para colegas de sala aos 14 anos). Eliminei as áreas com as quais não me identificava de forma alguma e optei por dois cursos de Humanas: História e Jornalismo. Optei por vir para Uberlândia cursar História na UFU. Após estágios e 5 anos de estudos, diplomei-me no bacharelado e na licenciatura. Apesar de gostar da pesquisa, segui o caminho do magistério: sou professora efetiva na rede municipal de Uberlândia há quase 10 anos.

Desde a minha entrada na universidade até hoje, já se passaram 20 anos. Se meus cabelos mudaram tanto de cor nesse intervalo de tempo, por que os meus desejos profissionais continuariam os mesmos? Por que a escolha profissional teria que ser a mesma até eu me APOSENTAR?

Não deveria… E não foi. Em um hiato no magistério, fui trabalhar como promotora de vendas de uma marca de eletrônicos. Meu currículo foi selecionado por eu ser professora, pois a empresa desejava um funcionário que tivesse condições de dar treinamentos aos vendedores de lojas. E lá fui eu elaborar treinamentos que contemplavam táticas de vendas e informações técnicas sobre os equipamentos da marca, aos quais adicionava uma pitada de apelo motivacional. Viajei por várias cidades de MG, interior de SP e até em SC ministrei uma maratona de treinamentos para uma grande rede varejista.

Esse trabalho me abriu uma nova perspectiva profissional. Gostei tanto que resolvi me especializar na área: fiz uma pós em Pedagogia Empresarial e outra em Gestão de Pessoas. Abri a minha empresa de consultoria, mas a sociedade não deu certo e fechamos a empresa após 3 anos de atividades.

Com isso, continuei em sala de aula, apesar de ter ficado quase 2 anos fora dela, atuando somente na formação continuada dos professores de História da rede municipal. Quando retornei à escola, percebi que meu trabalho já não me satisfazia como antes. Eu queria algo novo, porém não sabia exatamente o quê. Já passou por isso? É uma sensação de insatisfação misturada com impotência, que faz refletir sobre sua trajetória e se perguntar: vale a pena mudar? E se você exterioriza seus anseios, é comum ouvir julgamentos do tipo: “Não acha que está velha demais para isso?”.

Mas se tudo muda o tempo todo no mundo, como diz Lulu Santos, por que EU não posso mudar também?

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Renata Ramos
Renata Ramos

Escritora desde a primeira infância. UX Writer em construção.