Carta aberta a Brené Brown
Sinceramente, não sei como selecionei seu vídeo para assistir na Netflix. Um lanche quentinho em uma noite fresca combinava com algo diferente e achei que o vídeo que aparecera na minha tela em primeiro plano era um stand-up. Mesmo que eu não seja fã de stand-ups, passara mais tempo que de costume assistindo TV neste dia e estava saturada de programas de reformas de casas e séries dramáticas — sim, sou um tanto pragmática em meus gostos televisivos e não costumo arriscar em minhas escolhas, temendo ficar presa naquele carrossel infinito de opções oferecidas pela plataforma de streaming.
Eis que descubro ser uma palestra, e não um show de comédia, com uma simpática PhD que se dedicou, nos últimos 20 anos, a pesquisar coragem, empatia, vulnerabilidade e vergonha. Com o lanche já parcialmente mordido, apertei o play e bastaram poucos minutos para ser arrebatada por aquela mulher de fala fácil e fascinante.
Aprendi várias coisas, emocionei-me com diversas falas e, o mais importante: saí do limbo da ignorância no qual estava por acreditar que para ser corajoso é preciso não ser vulnerável. Assim como um homem que insistiu com ela que coragem e vulnerabilidade estão em extremos opostos, era assim que eu também pensava: para ser corajosa, eu preciso ser forte, e não existe força na vulnerabilidade, apenas fraqueza.
Por meio de suas explicações, senti-me constrangida pela pequenez de meu pensamento. E, ainda, fiz uma breve retrospectiva de situações na vida em que corri riscos e fracassei, e do quanto me sinto envergonhada com isso. Aquela vergonha interna, sabe? Do tipo que não deixamos transparecer, mas que ficamos remoendo em nossa mente, tentando imaginar como poderíamos ter agido de formas diferentes.
Entretanto, essa vergonha interna é impiedosa, pois mina nossa autoconfiança e tolhe nossa coragem, fazendo-nos permanecer em uma zona de conforto. A zona de conforto nem sempre é o ponto onde gostaríamos de chegar, mas onde permanecemos por medo de tentar sair dela e fracassar novamente. Medo dos comentários alheios, também, já que esses são abundantes e maldosos.
Ouvir você me deu vontade de viver na arena. De recomeçar, apesar de minha idade. De aprender algo novo e mudar de carreira — afinal, 37 anos pode ser uma idade avançada para eu começar a praticar ginástica olímpica visando competir nas Olimpíadas, mas não para iniciar um trabalho que envolva uma das coisas que mais gosto de fazer em minha vida: escrever. Seu “call to courage” me tirou da caverna. Obrigada, Brené Brown!