Uma oportunidade para Júnior

Renata Ramos
Renata Ramos
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3 min readAug 19, 2021
Um homem pensativo, com pontos de interrogação acima de sua cabeça.
Imagem de Eliza Riva por Pixabay.

Era uma vez, no final da década de 1990, um adolescente que cursava o Ensino Médio. Vamos chamá-lo de Júnior. Com a iminência da maratona de vestibulares, Júnior teve que escolher sua profissão muito jovem. Maratona cumprida, aprovação na primeira chamada e matrícula efetuada com sucesso, lá se foi Júnior de mala e cuia para outra cidade, estudar por longos 5 anos para a obtenção do tão necessário diploma universitário.

O tempo passou, Júnior estudou e, antes mesmo de se formar, já atuava em sua área. Fez pós-graduação, trabalhou em dois ou três empregos simultaneamente, casou, teve filho… enfim, cumpriu os protocolos que a sociedade geralmente espera de um jovem adulto.

Você deve estar aguardando pela clássica finalização “e assim, Júnior viveu feliz para sempre”. Sinto desapontar, mas a história de Júnior não termina assim — até mesmo porque ela ainda está longe de terminar.

Apesar da estabilidade conquistada em sua profissão, Júnior estava incomodado. A satisfação outrora encontrada no labor já não existia mais. Estimulado por essa inquietação, ele começou a procurar outras possibilidades, pensando em como poderia aproveitar suas habilidades para algo diferente.

Foi assim que Júnior, às portas da quarta década de existência, escolheu uma profissão pela segunda vez, agora amparado pela maturidade adquirida ao longo da vida. Dividiu o tempo dedicado ao trabalho e à família com os estudos e a atuação em projetos temporários, algo essencial para colocar em prática as aprendizagens adquiridas e consolidar a construção da nova carreira.

Após vários cursos, meetups, lives, hackathons, bootcamps e freelas, Júnior finalmente sentiu confiança para iniciar a cruzada por um novo emprego. Preencheu incontáveis formulários, aplicou-se para vagas postadas no LinkedIn, mas não recebia um único convite para entrevista. Seria a idade? Ou talvez a formação inicial muito diferente da área pretendida? Quem sabe a falta de um portfólio, apesar de sempre deixar claro que poderia mostrar em uma entrevista os trabalhos já realizados? Ou, ainda, por ele ser considerado um profissional JÚNIOR?

Especulações à parte, o fato é que Júnior ansiou aguardou por meses a oportunidade que parecia nunca chegar. Até que recebeu o convite tão esperado para uma entrevista! Pesquisou sobre a empresa, organizou os materiais que mostravam seu trabalho, tentou afastar a síndrome do impostor que insistia em dizer que ele não era apto para o cargo e seguiu adiante.

Empatia: esse foi o sentimento que Júnior percebeu do início ao fim do processo seletivo. A cada etapa vencida, ele constatava que, naquela empresa, poderia ter o apoio necessário para concretizar a desejada migração de carreira.

No dia seguinte à entrevista final, Júnior recebeu o sim que tanto queria. Sem pensar duas vezes, abandonou o emprego que ocupava há 10 anos e se entregou por completo a esta inédita experiência.

Na nova empresa, Júnior foi bem-recebido por toda a equipe, independentemente de sua idade ou nível de senioridade. Logo, a cada dia ele vem aprendendo um pouco mais e, apesar de não saber como será o amanhã, uma certeza impera: esta empresa será inesquecível em sua vida profissional, por ter lhe proporcionado a oportunidade de mostrar — e desenvolver — suas habilidades, mesmo Júnior sendo, ainda, considerado um Júnior.

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Renata Ramos
Renata Ramos

Escritora desde a primeira infância. UX Writer em construção.