A leitura é uma ferramenta de conexão

A leitura é uma das formas de conexão mais profundas e poderosas que existem, porque tem a capacidade de transformar quem lê.

Além de informar e educar, a leitura ajuda a pensar. Nos livros, está a reflexão sobre tudo o que conhecemos do mundo. Os livros nos conectam a um mundo INFINITO de conhecimento que NUNCA poderia ser acessado sem eles. Sem falar, claro, no prazer e no enriquecimento que os livros e seus conteúdos podem trazer para o leitor. Além de tudo, o livro é portátil, podemos levá-lo conosco para qualquer lugar. E hoje em dia, em tempos onde a tecnologia é ubíqua, você pode levar uma biblioteca gigantesca na palma da mão: seu smartphone pode ser o maior centro de conhecimento que você pode ter!

ARRUME TEMPO PARA LER

Se você ler 10 minutos por dia, supondo que leve 1 minuto por página, conseguirá ler 10 páginas em um dia, 300 em um mês e 3.650 em um ano. Você tem noção do que isso significa?

São 24 livros de 150 páginas (dois por mês) ou 12 livros de 300 páginas (um por mês) ao longo de um ano. Você acredita que não se tornará alguém melhor lendo tudo isso? Eu diria que é impossível não valer a pena.

E ai, sai 10 minutinhos dessa agenda? Defina agora com clareza esse período do dia para que possa dedicá-lo de forma ininterrupta a ler. Se acha que pode ocorrer algum imprevisto, já deixe na gaveta um “plano B”. O mais importante agora é você “reservar” o tempo e saber que 10 dos 1.440 minutos do seu dia (só 0,7%) estarão comprometidos com a leitura!

Para Galileu Galilei, a leitura nos dá superpoderes. Para Carl Sagan é a prova da nossa capacidade de realizar magia. E, para o escritor James Baldwin, os livros são uma forma de mudar o próprio destino.

Exagero? De forma alguma. Veja este caso. Até 2010, as penitenciárias privadas nos EUA chegaram a ser o segundo investimento mais rentável do país. Nos últimos anos, têm se mostrado um fracasso pela violência e exigência de lotação mínima.

Quando foram criadas, há mais de 30 anos, foi preciso fazer um cálculo para planejar o futuro: quantas células carcerárias seriam necessárias ser construídas para suprir a necessidade do momento e dos anos seguintes? Quantas pessoas seriam presas em 20, 30 anos? E eles descobriram que podiam prever isso muito facilmente, usando um algoritmo bastante simples: saber a porcentagem de crianças até 11 anos que não tinham acesso à leitura. Incrível, não é?

Fazendo uma comparação, no Brasil tem havido um sensível aumento na taxa de encarceramento desde 2008, principalmente entre jovens de 18 a 24 anos. Os dados foram apresentados pelo Instituto Avante Brasil, junto ao Ministério da Justiça. De acordo com a etnia, 43,7% dos presos são pardos, 35,7% são brancos, 17% são negros, e 0,7% são formados por índios e da etnia amarela. Desse contingente, 50,5% não têm o Ensino Fundamental completo e nunca leram um livro sequer. Chocante comprovação.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, surgia uma notícia surpreendente em 2012: estava acontecendo uma rápida e dramática mudança dos hábitos de leitura entre os jovens americanos. Os livros eletrônicos caíram nas graças dos jovens leitores. O sistema escolar americano decidira doar tablets às escolas públicas e privadas para as crianças, fossem ricas ou pobres. Crianças estavam lendo as mais diferentes histórias. Houve uma melhora no comportamento e no rendimento dos jovens. Consequentemente, fizeram escolhas melhores e puderam mudar seu destino.

O relatório completo está no artigo intitulado “Why Our Future Depends on Libraries, Reading and Daydreaming”, publicado no livro A View from the Cheap Seats, de Neil Gaiman.

E isso acontece, porque quando se assiste a um filme na TV ou no cinema, quando se lê uma história em um livro, impresso ou digital, olha-se para coisas que acontecem com outras pessoas. No livro, um mundo é criado a partir de um conjunto de 26 letras, um punhado de marcas de pontuação e uma dose suficiente de imaginação. É possível ver o mundo através de outros olhos, a sentir e visitar lugares que, talvez, nem soubéssemos que existissem.

Sendo outra pessoa, é possível ver o próprio mundo sob novos pontos de vista. É a ferramenta da empatia, aprendendo a colocar-se no lugar do outro para compreendê-lo. O leitor importa-se por pessoas que não conhece, ou que nem estejam mais vivas, ou que somente existam no mundo da ficção.

O ser humano é agregador e cooperativo por natureza. A empatia faz parte da “configuração” do nosso cérebro. Portanto, porque não estimular esse traço desde cedo?

Pode haver também a identificação com personagem. Se ele pode vencer, o leitor também pode. Nasce um senso de certeza de ser possível melhorar o próprio mundo, melhorando a si mesmo.

Gaiman ainda faz reivindicações: “Precisamos de bibliotecas. Precisamos de livros. Precisamos de cidadãos alfabetizados”. Segundo pesquisas, cerca de 80% dos adultos que frequentam bibliotecas já o faziam quando eram crianças. (Demonstrando a importância de apresentar a leitura às crianças desde a mais tenra idade.)

E, ainda, toma cuidado para não tomar partido, ou seja, não confunde meio com mensagem. Livros podem ser de papel ou digitais. O que importa, segundo ele, é o conteúdo.

Uma biblioteca inteirinha pode caber em um smartphone, mas os livros físicos são difíceis de destruir e se acomodam bem em qualquer par de mãos. Sempre haverá lugar para eles.

Os livros são mágicos. Aprendemos lições com aqueles que já se foram, absorvendo qualquer conhecimento que a humanidade já produziu. Podemos ler para aprender ou ler por pura diversão. Podemos ler silenciosamente, enquanto um mundo é construído em nossa imaginação e podemos ler em voz alta para os filhos ou para os alunos.

Segundo os estudos de Véronique Boulenger, do Laboratório de Dinâmica da Linguagem, na França, diferentes regiões do cérebro são ativadas quando se lê. Se uma personagem está caminhando, por exemplo, áreas ligadas à motricidade são ativadas, mesmo que o leitor esteja deitado em sua cama.

As metáforas despertam conexões sensoriais. Se, na narrativa há uma descrição do quão sedosos são os lençóis de uma cama, o sentido tátil é despertado.

O tempo e as pesquisas mais recentes feitas com o cérebro humano mostraram que o professor e filósofo grego Sócrates estava errado. Um texto escrito não é algo morto. Ao abrirmos um livro, a linguagem pulsa. As palavras nos transportam para qualquer época ou lugar, permitindo que novos significados sejam a elas acrescidos para que a mensagem se faça clara. Sensações são ativadas. Novas palavras enriquecem o vocabulário do leitor e novos mundos são descortinados. Ler é sonhar acordado.

Para entendermos o pensamento de Sócrates, precisamos voltar no tempo. A Grécia vivia seu apogeu há mais ou menos 2.400 anos, no fim do século V a.C., pela enorme quantidade de artistas, poetas, dramaturgos, filósofos e estadistas. E também era a época de uma forma revolucionária de comunicação — a língua escrita.

A Grécia era uma sociedade oral e a moda da escrita estava “começando a pegar”. Muitos acreditavam que era algo passageiro. Muitos mais ainda se preocupavam com os efeitos que ela faria na mente de pessoas. Em uma sociedade organizada em torno da palavra falada, sendo comum guardar tudo na memória, uma notícia ou uma fofoca corria de boca em boca pela cidade com precisão de detalhes. E interessante era que o alfabeto grego já existia há várias centenas de anos, mas a escrita só emplacou na época de Sócrates e Platão.

Era o máximo os jovens se encontrarem nas ruas para ouvirem as palavras de um orador brilhante. Os oradores que se destacavam viravam verdadeiras celebridades e o público disputava espaço nas praças para ouvi-los falar.

A tecnologia da conversa foi criada em algum momento da história da humanidade para suprir necessidades básicas de sobrevivência. O sentido da comunicação oral foi encolher distâncias.

Só que as informações sempre se multiplicam e a escrita chegou para aliviar a mente sobrecarregada. Platão percebeu essa mudança positiva, mas Sócrates não. Tanto que hoje são colocadas muitas dúvidas sobre época ou situações em que não há registros, como no caso de Sócrates. Muitos se perguntam surpresos por que Sócrates não deixou nada escrito. E a resposta é simples: ele não dava a menor importância para os textos escritos.

E tanto é verdade, que Platão, em seus Diálogos, reproduz uma conversa entre o professor Sócrates e o jovem aluno Fedro. Nessa época, Sócrates estava com mais ou menos 60 anos. Era um homem que sempre dera valor aos amigos e acreditava que quanto mais uma pessoa estivesse conectada melhor. E estar conectado em sua época era fazer parte da multidão que vivia nas cidades. Essa conexão se dava através das conversas cara a cara. Sócrates era um homem urbano, gostava do burburinho e nem conhecia os recantos mais isolados e bucólicos de sua região. Não adiantava nem convidar. Ele não ia.

Fedro era jovem e estava animadíssimo por ter ouvido Lísias, um dos oradores mais brilhantes da época, falar sobre um tema em especial: deveríamos fazer sexo somente por quem estivéssemos apaixonados, e correr riscos de sofrer, ou fazer apenas pela vontade, sem o vínculo da paixão? Na Grécia antiga, os oradores tinham seus fãs. Disputavam sempre o maior público, como os youtubers têm feito hoje.

E mais. Fedro carregava um pergaminho com todo o texto de Lísias. Ele poderia reler quantas vezes quisesse não só para reviver a experiência de ouvi-lo da primeira vez, mas também poderia se debruçar e analisar com profundidade as palavras ditas pelo mestre. O pergaminho passara a ter utilidade para as pessoas. O pergaminho de Fedro era como o nosso celular.

Fedro queria discutir com Sócrates o assunto e conhecer seu ponto de vista. O professor, então, pede ao seu aluno para contar exatamente o que ouvira. Fedro, humildemente, diz não recordar de tudo e lança mão, com vergonha, do pergaminho. Depois de indignar-se e brigar com seu aluno, Sócrates se rende e resolve ouvir seu aluno na leitura do texto.

Sócrates nunca leu e achava a escrita perigosa, porque as ideias não fluíam como em um diálogo e, portanto, era algo morto. Contudo, o pergaminho de Fedro permitiu que Sócrates tivesse acesso às ideias de Lísias. Através do pergaminho, as ideias começavam a se propagar. Que maravilha, isso!

A ansiedade e o medo das tecnologias emergentes turvam a visão para a sua real necessidade — a de que elas surgiram para resolver problemas. A escrita solucionou o problema da distância e do armazenamento. Passou a ser um meio de troca e desenvolvimento.

Platão era vinte anos mais novo que Sócrates e percebeu as vantagens da escrita. Tanto que registrava tudo o que via, como o diálogo descrito acima. Sócrates tinha medo do novo, assim como muitos hoje temem as novas tecnologias digitais.

Todo escritor é responsável pelos seus leitores. E quem escreve para criança ainda tem a mais deliciosa e árdua tarefa de instigar a sua curiosidade natural.

E isso também é uma verdade para o professor que precisa escolher livros para serem trabalhados durante o ano letivo. Um professor jamais deve escolher um livro que ele mesmo não gostaria de ler. Jamais escolher um livro só para fazer uma prova. Jamais escolher um livro que não responda aos seus anseios ou desperte sua imaginação.

Uma leitura pode ser mágica, mas pode ser trágica. Ao afastar uma criança da leitura, diminui-se, assim, sensivelmente, seu horizonte e seu poder de escolha para escrever seu próprio destino.

Sempre escolhi histórias que me encantavam. Consequentemente, eu passava para os meus alunos sentimentos positivos. Inúmeras vezes, eu ouvia frases do tipo: “Não gosto de ler, mas esse livro é legal!”; “Gostei. Até que a história é maneira”. E via, por vontade própria, eles indo atrás de outras histórias do mesmo autor, ou buscando novos livros que repetissem aquela sensação de prazer. Que satisfação eu sentia! Tinha cumprido a minha parte. E só torcia para que os futuros professores continuassem com o processo.

Sejam os pais lendo em voz alta, ou os professores para seus alunos, as crianças que crescem ouvindo histórias têm seu vocabulário enriquecido ao perceberem tanto o significado das palavras, quanto à pronúncia e o tom certo para cada intenção dentro da comunicação.

Além disso, desenvolvem uma virtude cada vez mais escassa: serem bons ouvintes. A procura por terapeutas tem crescido pela necessidade das pessoas de serem ouvidas. A tendência a falar mais que ouvir é um problema na educação do indivíduo. Quem não deseja encontrar alguém que saiba ouvir seus anseios e medos, alegrias e fracassos?

Na escola, observa-se que crianças e jovens falam muito, fazem muito barulho e parecem não ouvir quando alguém lhes chama a atenção por algum motivo ou quando um colega expõe uma ideia na sala de aula. Isso mostra que elas não sabem como é importante ouvir.

Descobri cedo o poder do momento de contação de histórias na sala de aula. Mesmo em turmas com alunos muito agitados. Quando uma criança para de falar, de se mexer e de expressar seus desejos para que outra pessoa, seja um colega ou o professor se manifeste, ela aprende não só a importância do saber ouvir, mas também que as pessoas possuem sentimentos e desejos que necessitam ser expressados e que, portanto, devem ser respeitadas. Ler é ensinar a conviver com o próximo.

O benefício da leitura é comprovado:

  • As crianças desenvolvem a capacidade de aprendizagem, de linguagem e de comunicação.
  • Os adultos tanto podem contar com um poderoso instrumento de aperfeiçoamento na sua profissão, assim como um aliado para combater o estresse.
  • O leitor desenvolve vocabulário, imaginação e conhecimento, fazendo associações e usando a inteligência de forma mais plena.
  • Os idosos conseguem manter a mente viva, integrados à sociedade.
  • O leitor pode escolher o seu destino.

Quando comparamos nossos leitores com os de outros países mais desenvolvidos economicamente, observamos que, no Brasil, há poucos adultos apaixonados pela leitura. A causa está na infância, quando crianças, ou não são expostas aos livros ou são apresentados a leituras maçantes que só fazem alimentar um mindset negativo, ou seja, um conjunto de ideias que prejudica e alimenta um afastamento do universo literário. Para muitos adultos, uma biblioteca é um lugar estranho, simplesmente desconhecido.

Por mais incrível que pareça, há universitários que passam toda a graduação sem sequer passar pela biblioteca da universidade. Há pessoas que nunca entraram em uma livraria, porque acreditam ser um ambiente chato.

Professores têm as chaves mais poderosas nas mãos e, muitas vezes, não as usam. Ou pior, usam, mas de forma errada. Na escola, podemos construir um universo para a leitura realmente eficiente.

E mais… Livros desenvolvem o verdadeiro senso de cidadania, dando voz aos leitores para dizer aos políticos o que querem de verdade. Leitores não querem partidos, mas, acima de tudo, querem uma sociedade mais justa. Leitores querem ser livres.

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Fontes e Referências:

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🎯 Renatho Siqueira MBA™®🎓
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