É Tempo da Tecnologia Servir toda a Humanidade com Rendimento Básico Universal

Pedro Pampolim
Rendimento Básico
33 min readApr 29, 2018

--

(O texto abaixo é um discurso que escrevi para uma apresentação na Suécia no fim de 2017. O PowerPoint é descarregável, assim como o video do discurso. Está autorizado a traduzir este texto para qualquer língua, e eu disponibilizarei os links para as traduções aqui.)

Ouça-me a ler a presentação no SoundCloud

Imagine um ano onde o que há muito temos por garantido, que a tecnologia destrói empregos mas também cria novos e melhores, mostra já não ser assim. Em vez disso, as máquinas removem permanentemente o trabalho humano, e quaisquer novos empregos criados são na sua maioria piores.

Uma cada vez menor percentagem da população está empregada, e para uma maioria dos que restam no mercado de trabalho, os vencimentos reduzem, as horas de trabalho aumentam, a variação de rendimentos mensal torna-se mais extrema, o intervalo entre empregos aumenta, os próprios trabalhos tornam-se mais parecidos com tarefas, mais raros, e os laços que mantêm a sociedade coesa começam a esgarçar à medida que a desigualdade cresce de modo cada vez mais extremo.

Em que ano prevê que este futuro chegue? 2030? 2040? 2050 ou mais tarde mesmo?

A resposta irá variar de nação para nação, mas nos EUA, a resposta é à volta de 1990. Sim, já ocorreu. Não está no futuro. Está no passado.

1990 foi o ano em que o crescimento do emprego entrou em paragem cardíaca. Foi também quando as horas trabalhadas por ano pararam de decrescer e começaram a crescer outra vez pela primeira vez desde a Grande Depressão. Desde 2000, a percentagem da população empregada entrou em tendência negativa. O Pico do trabalho humano nos EUA parece ter ocorrido há 17 anos atrás.

Esta é a história do desemprego tecnológico causado pela autonomização, e eu estou aqui para vos dizer que, não é um possível cenário futuro. É real e é um perigo imediato para a civilização humana, a menos que medidas adequadas sejam tomadas, e rapidamente, para transformar a devastação para emancipação — medidas que todos nesta sala devem seriamente considerar tomar.

Estou aqui também para vos dizer qual a medida singular que temos de tomar, juntamente com a infinidade de razões porque acredito não haver outra medida de maior importância para o futuro da raça humana. Essa medida singular mais importante é a dissociação do rendimento do trabalho, através de uma politica conhecida como rendimento básico incondicional ou RBI. Contudo, antes de mergulhar no assunto, gostava de viajar um pouco mais ao passado, até ao momento em que a raça humana descobriu o uso de ferramentas…

Nesta cena do filme de Kubrick 2001: Odisseia no Espaço, é-nos mostrado um momento histórico no tempo onde um homem primitivo usou a primeira ferramenta. É um osso, e usado como um taco, permite a um grupo fisicamente mais fraco dominar um grupo fisicamente mais forte. A história é obviamente ficcional, mas em determinado momento no tempo nós como humanos utilizámos mesmo a nossa primeira ferramenta, e desde esse dia temos sido capazes de conseguir fazer cada vez mais com cada vez menos.

Buckminster Fuller referiu-se a esse processo contínuo como “ Efemerização”. O seu teorético ponto final existe como uma assíntota da qual nos podemos só aproximar mas nunca atingir, onde ganhamos a capacidade de conseguir tudo com nada. Devia soar maravilhosamente. É maravilhoso. Mas há um senão. Há sempre um senão.

O senão é criado por nós. O senão, e é um grande senão, é composto de duas vertentes. Primeiro, exigimos a troca de dinheiro pelas necessidades básicas da vida como comida e tecto. E em segundo lugar, exigimos a troca de trabalho pela obtenção de dinheiro. O resultado desta combinação é que exigimos a troca de trabalho para existir. Portanto desde que todos possam trocar o seu trabalho por rendimento, todos podemos teoreticamente sobreviver num sistema onde a propriedade privada está consolidada e implementada.

No entanto, o uso de ferramentas cria uma inevitável distensão neste sistema.

Essa distensão é o desemprego tecnológico.

Se exigimos dinheiro para viver, e o dinheiro só pode ser obtido vendendo o nosso trabalho, como é que obtemos dinheiro para viver quando as máquinas conseguem fazer quase tudo o que nós fazemos, de modo mais barato, mais consistente, mais seguro, mais rápido, e acima de tudo mais eficiente do que nós conseguimos? Uma coisa é as ferramentas como ossos fazerem trabalho físico. O que é que acontece quando os ossos do século XXI estão a executar trabalho mental, e a aprender a uma velocidade que não conseguimos acompanhar?

Só podem existir três soluções, ou uma mistura delas, para este auto criado dilema baseado no nosso senão de duas vertentes.

Podemos deixar de exigir a troca de dinheiro por necessidades básicas, essencialmente tornando certas coisas como comida, água e tecto totalmente grátis.

Ou podemos assegurar que todas as pessoas poderão sempre encontrar trabalho pago por rendimento suficiente para satisfação das necessidades básicas.

Ou podemos deixar de exigir a troca de trabalho por dinheiro pagando a todas as pessoas um rendimento quer trabalhem quer não, e o montante só teria de ser o suficiente para cobrir as necessidades básicas.

A primeira opção eliminaria o sistema de preço para bens e serviços básicos.

Consequentemente, inviabilizaria a capacidade de calcular o que produzir, quanto produzir, quem receberia o quê, quando o receberiam, com que frequência, etc.

Esta opção é uma economia planeada de bens e serviços básicos onde as respostas a essas questões são centralizadas.

Alimentação grátis pode soar bem, mas depois não há limites. Já desperdiçamos metade do nosso fornecimento alimentar.

Torná-lo grátis levaria a mais desperdício assim como tornar a gasolina mais barata leva a mais tráfego. O que quer que seja grátis também afeta os donos de negócios que o vendam por um preço. Já poucas pessoas conhecem esta história, mas nos EUA os vale-refeição foram uma resposta à distribuição grátis de alimentos na traseira de caminhões, literais dádivas. As pessoas que recebiam essas dádivas não iam a lojas, e isso significava que outras coisas não estavam a ser compradas. Os vale-refeição eram vistos como uma maneira mais eficiente de fazer chegar comida às pessoas; de certo modo levava os clientes aos mercados, estimulando a economia.

Considerem também a habitação. Porque deveria alguém em Nova Iorque e alguém nas zonas rurais obter exactamente o mesmo custo de $0 de renda? Seria justo? E se viver em Nova Iorque fosse grátis não haveria mais pessoas a mudar-se para lá?

O mercado é uma calculadora de distribuição. Oferta e procura usando dinheiro como dispositivo de sinalização funciona para distribuir recursos sem tomadas de decisão centralizadas.

Remover os sinais de preço para coisas como alimentação e habitação pode parecer boa ideia, mas teria consequências não intencionais desde o retorno de filas de pão dos que pouco teriam, ao esbanjamento dos que teriam mais do que necessitariam.

A segunda das nossas três opções, garantir trabalho, asseguraria que num mundo de máquinas capazes de fazer um cada vez maior número de tarefas melhor que nós, o trabalho garantido seria cada vez mais inútil - o equivalente a cavar buracos e voltar a tapa-los, ou contratar inspectores para inspeccionar inspectores.

Isto é o trabalho garantido (TG) e num mundo onde o trabalho já não está a funcionar, faz pouco sentido. Como disse Milton Friedman, se o objectivo é trabalhos, porque não usar colheres em vez de pás? Também requer colocar o mesmo tipo de questões que uma economia centralizada.

O que são trabalhos? Onde estão localizados? Todo o trabalho é pago por igual ou há trabalhos mais bem pagos? Se iguais, como é que isso é justo para aqueles que estão a fazer um trabalho mais duro? Se diferentes, quem é que fica com os mais fáceis? É possível que a resposta não seja pessoas de côr? O que dizer sobre pessoas com deficiência que ouvem dizer que não o são suficientemente? O que dizer sobre pessoas já a fazer trabalho de imenso valor que nem é considerado trabalho?

Seria 100% de todo o trabalho não remunerado compensado, especialmente prestação de cuidados? Pode alguém ser despedido de um emprego garantido? Se não, porquê preocupar-se a fazer o que quer que seja se odeiam a função e preferem estar a fazer outra coisa qualquer? Se podem ser despedidos, não tem de haver outra pessoa para os contratar, criando um loop infinito de trabalho desligado? E as pessoas que já têm trabalho e quase não conseguem sobreviver? Como é que beneficiam? E as pessoas que adoram o seu trabalho mas simplesmente precisam de um aumento?

E como tratar os custos para além dos salários do TG em gestão e administração? Empregos criados com o apoio de Governos tendem a custar muito mais do que o valor que providenciam como rendimento, geralmente mais do que 6 vezes. Finalmente, e a nível mundial, unicamente 13% dos trabalhadores estão envolvidos com o seu emprego. Como é que criar mais empregos iria ajudar a alterar isto? Estas são as questões para as quais os advogados do TG não têm respostas reais, para além de, empregos são bons, vamos criar mais empregos, nunca considerando a possibilidade de que talvez o emprego se tenha tornado o problema, não a solução, o que me leva à nossa terceira opção.

A terceira opção preservaria completamente o sistema de preços e evitaria totalmente as desvantagens do trabalho desnecessário. Na realidade, não só preservaria o sistema de preços, como o melhoraria, e não só evitaria a criação de trabalho desnecessário, como até o reduziria. Esta terceira opção é o rendimento básico incondicional. Se o desemprego tecnológico é o Nó Górdio do século 21, o RBI é a espada que o corta. Ao simplesmente dissociar a conexão entre rendimento e trabalho através de uma prestação incondicional de um rendimento para a vida sempre suficiente para as necessidades básicas, o medo do desemprego tecnológico é eliminado. Não fica por aí no entanto, porque uma prestação de rendimento básico tem uma multitude de repercussões para alem da eliminação do medo, e estas repercussões são elas próprias sistematicamente transformativas.

Agora, aqui estou eu a apresentar um problema e uma solução, mas muitos de vocês ainda acreditam que o problema não é real, e que a solução é um disparate. Pois bem. É para isso que aqui estou. Portanto agora vou mergulhar fundo no desemprego tecnológico , e depois ainda mais fundo no rendimento básico. Estão preparados?

Vamos começar aqui. Este único gráfico encapsula a automatização do trabalho humano, como nenhum outro que alguma vez tenham visto até agora.

O que deve ser imediatamente aparente é que à medida que o número de plataformas petrolíferas declinou nos EUA devido à queda dos preços do petróleo, também declinou o número de trabalhadores que a indústria petrolífera empregava. Mas quando o número de plataformas petrolíferas começou a recuperar, o mesmo não ocorreu com o número de trabalhadores contratados. Esta é uma observação importante, mas não é a única.

Outra é, já alguma vez ouviram falar de Iron Roughnecks? São basicamente berbequins robóticos, e são parte da razão porque o número de empregos na exploração de petróleo não recuperou. Graças aos investimentos nesta automatização, o que antes requeria uma equipa de 20 é agora expectável requerer somente 5. Esta é parte da razão porque depois da industria ter eliminado 440,000 dos seus empregos, seja agora expectável que metade desses nunca retorne.

A outra razão porque esses empregos não vão voltar, é que muitos deles tinham deixado de ser necessários há vários anos. Quando se vende à vontade como a indústria petrolífera andou a fazer a $100 por barril, ser eficiente e gerir bem custos não são uma prioridade. No entanto, quando é tempo de apertar os cintos, a eficiência ganha importância, e trabalho humano desnecessário é ineficiente. Se um trabalho pode ser feito com 10 pessoas, porque voltar a contratar 20?

Portanto isso foi o que aconteceu aqui, e o processo demorou somente dois anos. DOIS ANOS. Foi como rapidamente uma industria começou a investir mais pesadamente em automatização e se começou a ver livre de trabalho humano desnecessário. Também só aconteceu no ano passado, e poucas pessoas sabem o que quer que seja sobre o tema.

Esta é a verdadeira história da automatização. É uma estória de cabeças enfiadas na areia. O trabalho humano é simplesmente um custo desnecessário que pode ser espremido dos lucros crescentes. As pessoas negam este facto, e negam-no com esperança ilusória.

O desejo principal é que apesar de haver empregos perdidos para as novas tecnologias, novos empregos sejam sempre criados. A questão não colocada é a natureza desses empregos. Que género de empregos estamos a criar? Que tipo de competências estamos a exigir? Quanto é que eles remuneram? Quais são os seus horários e duração? Quanto sentido dão?

Nos EUA, durante quatro décadas, os trabalhos não qualificados ocuparam o vácuo criado pela perda de empregos de níveis de qualificações médios. Sim, novos empregos altamente especializados foram criados, mas o crescimento liquido foi nos trabalhos não qualificados. E isso também faz todo o sentido.

Os postos de trabalho a automatizar primeiro são os que pagam mais aos humanos, mas não tanto dinheiro devido a qualificações altamente especializadas que a tecnologia não esteja ao nível de a produzir. À medida que a tecnologia se for tornando mais barata, faz sentido automatizar as funções de médio e e baixo nível de qualificação, e à medida que a tecnologia se for tornando mais capaz, faz sentido automatizar empregos altamente especializados.

O desaparecimento de empregos de níveis de qualificações médios é o que devíamos esperar como resultado da automatização, e é exactamente o que estamos a ver. Não somente nos EUA, mas em nação após nação, o meio está a ser esvaziado em todo o lado.

À medida que os empregos são automatizados à volta do meio, e porque as pessoas precisam de dinheiro para viver, e os empregos providenciam dinheiro, as pessoas aceitam qualquer emprego que consigam arranjar. Como resultado, as pessoas competem umas com as outras, e a natureza do emprego piora. Excepto para aqueles a entrar em empregos altamente especializados, os salários descem. Tempo inteiro passa a tempo parcial. Empregado passa a profissional independente. Salários passam de cada duas semanas religiosamente para, “Espero mesmo ser pago antes de ter de pagar a renda”.

Tudo isto é também verdade à escala global. A nível Mundial, o meio está a ser erodido à medida que as classes médias dos países mais desenvolvidos competem contra máquinas, e também contra o trabalho mais barato de países menos desenvolvidos, directamente graças à tecnologia que permite um globalizado mercado de trabalho.

Adicionalmente, e isto confunde as pessoas, a automatização pode abrandar a produtividade. Como? Porque estamos a automatizar os empregos mais produtivos e a forçar as pessoas a trabalhar em funções menos produtivas. Salários baixos também significa que menos trabalho é automatizado de que de outro modo o seria se os humanos não fizessem questão de ser um trabalho tão barato. Os salários baixos estão a ser um entrave à automatização.

Tudo isto é o que esperávamos ver como resultado da automatização onde as pessoas liberadas de empregos não têm outra solução que não encontrar outro. E é exactamente o que estamos a ver.

Em 2017 um estudo pioneiro na sua área olhou para o impacto de apenas robots industriais de 1993 a 2007 nos EUA e descobriu que cada novo robot substituía à volta de 5.6 trabalhadores, e que cada robot adicional por 1,000 trabalhadores reduzia a percentagem da população total empregada em 0.34%, reduzia os salários em 0.5%, e aumentava o PIB em 0.13%.

Durante esse período de 14 anos, o número de robots industriais quadruplicou, e entre 360,000 e 670,000 empregos foram destruídos. E como os autores referem, “Interessantemente e talvez surpreendentemente , não encontrámos ganhos positivos e compensadores em termos de emprego em quaisquer grupos ocupacionais ou educacionais. “Dito de outro modo”, os empregos não foram substituídos por novos empregos.

Lembrem-se, estas conclusões foram só referentes ao estudo sobre robots industriais, não todos os robots, não software, e especialmente não inteligência artificial. Considerem tudo isto, e como os rápidos avanços na IA estão a fazer com que os carros e os camiões já se conduzam sozinhos, que os algoritmos de código máquina já estão a aprender a escrever o seu próprio código, e estamos a testemunhar algo completamente novo na história humana.

Mas para vermos isto, precisamos de abrir os nossos olhos. Nos EUA perdemos empregos na industria transformadora ao longo das ultimas três décadas, e apesar de 8 em cada 10 Americanos saber disso, apenas 26% dos Americanos sabem que a produção industrial aumentou no mesmo período. Por outra palavras, a maior parte dos Americanos desconhece que a America produz agora mais do que nunca, apesar da perda de postos de trabalho na industria.

Os Americanos também acham que os postos de trabalhos perdidos são devidos a imigrantes e deslocalização, mas um estudo de 2015 da Ball State University que olhou atentamente para os dados descobriu que apenas 13% da perda de empregos não era devida a ganhos de eficiência. Segundo o estudo, em 2010 era possível conseguir com 12.1 milhões trabalhadores o que exigiria 20.9 milhões apenas 10 anos antes.

Consideremos agora o declínio do mercado petrolífero. Simulou efectivamente uma recessão. As recessões espremem sempre o trabalho desnecessário. Nos EUA, o resultado é que atingimos o pico do emprego em 2000. Então o que é que acontecerá a trabalhadores do mundo inteiro durante a próxima recessão? Quantos trabalhadores nunca voltarão a ser contratados por já não serem necessários?

Provavelmente demorará mais tempo até esses desempregados recentes encontrarem novos empregos, à medida que mais e mais pessoas competem na nosso continuo jogo musical de dança de cadeiras à procura um lugar não preenchido por hardware ou software. Nos EUA, isto tem sido uma tendência nos últimos 70 anos.

E como serão esses novos empregos que as pessoas conseguirem encontrar? Porque mais uma vez, de acordo com tendências de longo prazo, não só demorarão mais tempo a encontrar e pagarão menos, também não serão empregos tradicionais, e resultarão numa maior variação mensal de rendimentos. Nos EUA e neste século, todos os 9 milhões de empregos líquidos que criámos são formas de trabalho alternativo, e se olharmos para os 20% base nos EUA, 74% dos trabalhadores vê agora o seu rendimento variar 30% de mês a mês.

Ao que tudo isto se resume é que as redes de segurança criadas pelos governos estão desenhadas para uma noção de trabalho do século 20 quando os empregos caiam de árvores de trabalho e providenciavam um regular, confiável rendimento, com benefícios, décadas a fio. A automatização mudou entretanto o modo como trabalhamos. Mudou também os negócios.

À medida que a tecnologia permite às empresas fazer mais com menos empregados, isso significa que para conseguirmos “pleno emprego”, também precisamos de mais empresas, ou todos teremos de trabalhar menos. O que é que observamos?

Bem, nos EUA, a criação de startups tem vindo a decrescer há décadas, e na realidade, em 2008, a morte de negócios ultrapassou a criação de novos pela primeira vez. No entanto, o numero de negócios multi milionários está em tendência crescente. Apple, Google, Facebook, Amazon, e Microsoft valem em conjunto $2.7 triliões e empregam apenas uma pequena dos funcionários parte que empresas como a GM, Ford, Exxon, GE,e a IBM empregavam há décadas atrás.

Talvez mais importante, os rendimentos discricionários estão a cair. Apesar do crescimento da produtividade, as pessoas ficam com uma cada vez menor percentagem do que ganham para gastar no que está a ser produzido por máquinas, depois de cobrirem as suas necessidades básicas.

Isto não é uma tendência sustentável. As pessoas precisam de ser capazes de adquirir o que as máquinas estão a produzir, ou qual é a razão para as máquinas estarem a produzir esses produtos no primeiro lugar?

E quais são as consequências sociais para sociedades cada vez mais esfomeadas de rendimento, e onde a desigualdade apenas continua a atingir novos extremos limite? Acredito que já estamos a ver as consequências na forma de reacções como nacionalismo, xenofobia e dependência de drogas. Trump e Brexit são são sinais de não podemos continuar a ignorar os efeitos sociais da tecnologia.

Temos de tirar a cabeça da areia. Não podemos olhar para uma baixa taxa de desemprego e achar que que está tudo bem. Não podemos dizer a uma pessoa que veio de uma carreira de 40 horas semanais com benefícios e e uma sensação de segurança, para passar a ter três empregos/ocupações diferentes sem quaisquer benefícios, trabalhando mais horas para receber menos rendimento e com uma vida vida muito mais insegura do que apenas mera sobrevivência.

Não podemos olhar para um mundo onde 5 homens possuem mais riqueza do que metade do planeta e varrer para o lado como insignificância. As desigualdades afectam as sociedades transversalmente ao longo de uma ampla série de medidas. à medida que a desigualdade cresce, a coesão social diminui, o crime aumenta, a violência armada e o consumo de drogas sobem, a generalidade da saúde física e mental piora, a esperança de vida diminui, o bem estar mental e emocional declina, e até o crescimento económico sofre.

Talvez o pior de tudo, sejam os efeitos da desigualdade extrema na nossa juventude.

Quanto mais baixo for o nível social económico de nascimento de uma criança, pior será o seu desempenho em testes linguísticos, memória de curto prazo, memória a longo prazo de factos e acontecimentos, e relações espaciais. Porquê? Porque quanto menor for o rendimento familiar, menor será a superfície cortical que os filhos acabarão por ter.

Daqui a décadas, vamos olhar para este momento como barbarismo. Como é que alguma vez pudemos pensar que era aceitável infligir danos cerebrais a um número incalculável de seres humanos só por não terem tido pais privilegiados?

Ademais, até que ponto estamos a atrasar a sociedade permitindo o empobrecimento continuar? Quanto mais poderíamos conseguir como espécie, se decidíssemos, SIM, É UMA ESCOLHA, abolir a pobreza e a desigualdade para sempre, simplesmente investindo na humanidade-no outro?

E se optássemos por criar uma fundação por baixo de todos nós desde o nascimento à morte que prevenisse qualquer um de nós, de não ter o suficiente para sobrevir?

O que é que farias na vida, se começasses cada mês com dinheiro suficiente para viver?

Este é o conceito de rendimento básico incondicional. Não é uma ideia nova, mas era nova para mim em 2013 quando comecei à procura de soluções para o desemprego tecnológico. Também não é uma ideia confinada à esquerda ou à direita. Atravessa todas as linhas políticas, com apoiantes e opositores em todo o espectro politico, desde o defensor de direitos civis Martin Luther King, Jr ao apaixonado pelo mercado Friedrich Hayek.

O RBI é a disponibilização mensal regular e garantido de um rendimento a cada individuo, sem condições, de valor suficiente para criar um tecto financeiro acima da linha de pobreza.

Pode parecer simples, mas existem muitos mal-entendidos. Uma das primeiras questões levantada é de onde vem o dinheiro. Bom, vem de todos nós. Todos recebemos o mesmo valor, mas todos contribuímos diferentemente para o tornar possível.

É muito importante percebermos isto, porque também responde a outras questões frequentemente levantadas e equívocos comuns sobre o custo. Porque todos contribuimos para o RBI e todos recebemos RBI, o custo é liquido, não bruto.

Vejam-no assim. Imaginem que o RBI é implementado amanhã e os seus impostos aumentam $12,000 para poderem pagar a implementação, mas recebem $12,000 de RBI. Quanto é que custou ao Estado providenciar-lhe o RBI? Àparte o custo administrativo de menos de 1%, custou nada.

Custa zero para pagar RBI aos contribuintes líquidos, e o custo para contribuintes não liquidos é o valor total do RBI, menos o valor adicional em impostos cobrados. Dito de outra maneira, o RBI pode custar o mesmo que o seu primo o Imposto de renda negativo, referido por Milton Friedman.

Embora universal, o papel do RBI é circular o rendimento de cima para baixo, e reiniciar o circuito. Por outras palavras, o RBI fecha o ciclo de um sistema económico correntemente dependente do crescimento infinito. O rendimento básico cria um eco sistema sustentável. Ao fazê-lo também responde à pergunta sobre de onde vem o dinheiro de maneira inovadora. Vem de para onde vai, como a água.

Percebam isto, e percebam outro medo como um medo, o medo da inflação galopante. Poucos modelos de RBI envolvem expansão monetária. O RBI é antes de tudo a circulação de dinheiro existente dos que o estão a assambarcar pra os que os gastarão imediatamente.

Esta circulação acrescida também leva directamente a uma economia mais forte através de efeitos multiplicativos. Alguém em Wall Street receber mais um dollar adiciona 39 cêntimos à economia, enquanto que alguém de baixo rendimento que receba um dollar adiciona $1.21 à economia. Isso é três vezes melhor para a economia. Portanto garantir que todos nos 60% base têm dinheiro para gastar na economia faz muito mais sentido do que dar pázadas de mais dinheiro à camada 20% superior.

Como conceito, isto soa muito bem, ou ainda completamente louco. Não sei o que pensa, mas como alguma coisa soa só vai até certo ponto comigo. A grande pergunta é se funciona?

Bom, países à volta do mundo estão crescentemente a colocar a mesma questão. Testes começaram na Finlândia, na Holanda, Canada, Quenia, Uganda, Brasil, Espanha, Itália, e mesmo nos EUA, com mais testes previstos na Escócia e provavelmente India e mais países.

Mas na verdade não temos de esperar por estes testes. Quando comecei a olhar para o RBI, fiquei chocado por descobrir quanta prova já estava disponível para quem a procurasse. Há tanto que já sabemos.

Aqui estão algumas das várias observações que me tocaram mais, colectadas de uma variedade de pilotos e estudos dos EUA, Canada, India, Namibia e Líbano.

O crime reduziu 42%, a caça ilegal desceu 95%, as taxas de hospitalização caiam 8.5%. O peso à nascença melhorou devido a melhor nutrição maternal. O consumo de fruta fresca e vegetais aumentou. O consumo de álcool e outras tentações desceu. As personalidades melhoraram ao ponto de crianças se tornarem mais honestas e trabalharem melhor em grupo. A assistência escolar e as notas melhoraram. A taxa de gravidez infantil desceu. A frequência com que as pessoas se ofendiam com as outras desceu. A confiança aumentou. A poupança aumentou e a divida desceu. O empreendedorismo quadruplicou numa zona e foi três vezes maior do que o control de armas noutra. Os beneficiários trabalharam mais horas, e receberam mais rendimento adicional. E desproporcionalmente os resultados positivos foram observados nas mulheres jovens, na terceira idade e nos deficientes...noutras palavras, nos tradicionalmente marginalizados.

Alguns dos resultados foram observados uma vez, alguns múltiplas vezes. Empreendedorismo crescente por exemplo parece ser um efeito comum de dar RBI às pessoas, pelo que acho serem três razões: mais capital, mais clientes, e maior tomada de risco.

Receio de arriscar perante falência catastrófica previne demasiada inovação. Quando um reporter do New York Times lhe perguntou como se sentia sobre ter falhado 700 vezes, Thomas Edison respoondeu “Não falhei 700 vezes. Não falhei uma. Provei que aquelas 700 não funcionavam. Quando tiver eliminado as razões porque não funcionam, encontrarei a maneira de trabalharem.”

O RBI transforma o fracasso de um risco existencial numa oportunidade para aprender o que não funciona. O fracasso não é uma coisa má. Fracasso é como aprendemos. Fracasso é como inovamos. Errado é quando vemos o fracasso como risco de vida em vez de aprendizagem de vida.

Agora, outro resultado comum da disponibilidade de rendimento básico são bebés mais saudáveis, e isto é um resultado muito profundo. Para aqueles familiarizados com a epigenética, onde os ambientes que nos rodeiam podem provocar alterações genéticas no útero, as implicações de bebés mais saudáveis devia obrigar-vos a considerar os efeitos generacionais.

Por exemplo, um alto risco de obesidade pode ser um efeito de inanição no útero, já que os bebés são programados para armazenar mais calorias. Considerem as implicações de gerações de crianças com maior dificuldade de obesidade.

Considerem também a que ponto sociedades com rendimento básico ganhariam na redução de custos com crime, má saúde, e perda de produtividade cujos custos juntamente com muitos outros, excedem na realidade o da implementação do RBI. Aplicado como uma vacina social, o RBI é uma grama de prevenção contra um quilo de cura.

Depois há também o que eu chamo o “Custo Einstein”, que é o custo para toda a sociedade se apenas um novo Einstein já tiver nascido, não se tornando o próximo Einstein, simplesmente por estar demasiado ocupado a tentar sobreviver no dia a dia cumprindo múltiplas funções que uma máquina podia fazer.

Se recuarmos um bocadinho e olharmos para o grande plano, é a não adopção do RBI que custa demasiado.

O que estamos mesmo aqui a ver no que diz respeito aos efeitos do rendimento básico é essencialmente à hierarquia de necessidades de Maslow em acção. Todos temos necessidades básicas, e quando elas são cobertas, as pessoas buscam necessidades mais elevadas.

Acredito que as nossas necessidades mais elevadas são mais importantes do que as nossas necessidades básicas. O suicídio não é uma decisão geralmente tomada por quem está a passar fome. É uma acção tomada por aqueles que acham que não haverá mais nada na vida do que simplesmente passar fome. O rendimento básico, ao iniciar todas as pessoas num nível mais elevado na hierarquia de Maslow, possibilita que todos possam atingir o topo em vez de ficarem presos à base. A vida não é suposto ser uma passadeira para lado nenhum. A vida é suposto ser uma constante viagem.

Aqueles que pensam que o rendimento básico inibe o trabalho estão portanto a falhar 3 entendimentos chave.

O primeiro é que a motivação intrínseca é muito mais poderosa do que a motivação extrínseca. Isto é, o que fazemos porque simplesmente queremos, por razões próprias como autonomia, auto domínio, e finalidade, fazemos com muito maior compromisso do que o que fazemos por benefícios externos.

De facto, os benefícios externos já demonstraram inibir trabalhos que requeiram criatividade, e estudos também mostram que ter simplesmente a possibilidade de recusar uma tarefa, aumenta o compromisso com essa tarefa. O trabalho totalmente voluntário é muito mais motivador do que o trabalho obrigatório.

O segundo entendimento chave é a que ponto sistemas não universais, condicionais de previdência social desencorajam o trabalho. Ninguém tem maiorais taxas marginais do que as pessoas sob assistência social — ninguém. À medida que alguém sob assistência social recebe rendimentos, perdem os seus benefícios. O resultado é a realidade das pessoas ganharem muito pouco em aceitarem um trabalho, ou até ficarem em pior situação.

Um dos exemplos mais extremos é o daqueles com incapacidades que têm de provar que são “inaptos para trabalhar” (o que acaba por excluir à volta de 80% das pessoas com alguma forma de incapacidade) e que depois se deparam com a possibilidade de perderem 100% do seu apoio social por ganharem rendimento adicional. Basicamente, a assistência social é um sistema onde os governos pagam a burocratas para garantirem que as pessoas não trabalham, e para puni-las com a remoção dos apoios sociais caso o façam. É também sobre tomar decisões pelas pessoas, em vez de as deixar tomar as suas próprias decisões. As agências de segurança social destroem a acção.

O terceiro entendimento chave para perceber como é que o RBI facilita mais trabalho é o reconhecimento do trabalho não remunerado como talvez o mais valioso de todos os trabalhos. Nos EUA, só o montante de trabalho social não remunerado está avaliado em $700 biliões por ano, ou 4,3% do PIB, e é feito por quase um terço da população, maioritariamente mulheres, à volta de 1.2 biliões de horas por semana, o equivalente a cerca de 30.5 milhões de assistentes sociais a tempo inteiro. O que aconteceria à economia se todos estes assistentes sociais não remunerados entrassem em greve? E o que dizer de outros tipos de trabalho não remunerado?

Se alguém com rendimento básico largar o seu emprego de salário mínimo para se dedicar a desenvolver software para uma comunidade de código aberto ou dedicar o seu tempo à pesquisa científica, a sociedade piora? Se alguém deixar o seu emprego como operador de telemarketing para tomar conta dos seus filhos em vez de sub contratar esse serviço a outros, a sociedade piora? Porque é que só é considerado trabalho tomar conta dos filhos dos outros e não dos nossos?

Temos de começar a perceber que que trabalho e emprego são coisas diferentes. Nem todos os empregos são trabalho. Nem todo o trabalho é relevante. Nem todos os empregos são relevantes. Nem todos os empregos são trabalho. E a busca de emprego, trabalho e sentido são todos melhor possibilitados quando as necessidades básicas estão garantidas.

Na realidade, eu próprio tenho um rendimento básico. Desde Janeiro de 2016, começo cada mês com $1,000 como vencimento básico. É financiado publicamente através do Patreon, e não estaria aqui agora sem ele. Permite-me perseguir o trabalho que considero mais relevante, e que é pesquisar, escrever e falar sobre rendimento básico.

A maior percepção que ganhei do meu rendimento básico é uma sensação de segurança. Até ter segurança, não tinha ideia de quanto pouca tinha antes. Era apenas uma palavra sem definição. Agora SINTO-A. Saber que todos os meses serei capaz de cobrir as minhas necessidades básicas é uma sensação de liberdade que não consigo explicar bem aos que ainda não a sentem.

O rendimento básico também aumentou a minha resistência ao desastre. Cruzei caminho com um tornado o ano passado, e fui capaz de cobrir essa despesa inesperada com o meu carro. Imaginem a diferença que um RBI faria a todas as vitimas de situações como inundações, incêndios e furacões? Será o RBI até justificado pelas alterações climáticas só por si?

Comecei também a pensar de maneira diferente sobre coisas como propriedade intelectual, e até o próprio dinheiro. O que escrevo, escrevo para as pessoas lerem. Quantas mais pessoas lerem o que escrevo melhor. Portanto porque é que devia publicar por trás de um acesso pago?

Isto leva-me a questionar, será possível que com o RBI, o movimento de código aberto se expanda massivamente? Se já não forem forçados a vender o vosso trabalho para viver, será que mais de vocês oferecerão o vosso trabalho? Será possível que o número de solicitações no GitHub se multipliquem de um dia para o outro, ou que wikis de todo o tipo vissem ainda mais páginas aumentadas e criadas?

Basicamente, o rendimento básico permite a todas as pessoas dizeres “SIM” ao que poderiam ter de dizer não para sobreviver. Por outro lado, também permite dizer “NÃO” ao que não se teria outra chance que dizer “sim”.

Por outro lado isto significa que o RBI pode remover a necessidade de ordenados minimos. Se todos tivermos a capacidade de recusar um trabalho por uma remuneração considerada muito baixa, os salários vão ter de subir para se tornarem atractivos. Também tem a ver com mais emprego. Considerem quantas mulheres, e homens também, estão em relações abusivas porque simplesmente não se podem dar ao luxo de as abandonar, ou mesmo quantas opiniões não são expressas, pelo medo de se perder o emprego actual, ou de nos ver-mos negado um emprego futuro?

Será mesmo possível que, direitos como a liberdade de expressão não existam na realidade sem direitos económicos? Que a inexistência de um rendimento básico viole a cidadania ao impor às pessoas emprego sobre voto, onde aquele segundo ou terceiro turno seja mais importante do ser um cidadão informado e envolvido?

Neste momento, talvez estejam a pensar que independentemente da boa ideia que o RBI pareça ser, de como é economicamente viável, e do melhor e mais valioso trabalho que as pessoas poderiam fazer, talvez até de forma grátis, que as pessoas não o merecem.

Bom, deixemos-nos de tretas. Primeiro, ninguém criou os nosso recursos naturais. Ninguém criou a terra. Só há poucos séculos começámos a impor direitos. A Terra pertence a todos nós igualmente. Este foi o argumento essencial de Thomas Paine quando disse “ É uma posição não controvertida que a terra, em seu estado natural, não cultivado era, e sempre teria continuado a ser, a propriedade comum da raça humana … é o valor da melhoria somente, e não a terra. Todo o proprietário, portanto, de terras cultivadas, deve à comunidade uma renda básica pela terra que detém, e é dessa renda que o fundo proposto neste plano deve emitir”. É a lógica por trás do dividendo anual do Alaska e também proporciona um enorme apoio a ideias como dividendos sobre imposto fundiário e taxa de carbono.

Mais do que isso, toda a tecnologia que nos rodeia tem raízes nos nossos impostos porque a Investigação e Desenvolvimento de nível 1, também conhecida como investigação básica, é simplesmente demasiado arriscada para o sector privado investir. Toda a informação que nos rodeia é também gerada por todos nós a um preço estimado e médio de $2,000 por ano e a crescer. E finalmente tudo o que criamos e descobrimos é apenas o passo seguinte numa longa cadeia geracional iniciada na primeira de utilização de ferramentas na aurora da humanidade.

Como disse Isaac Newton, Se vi mais longe foi por estar de pé sobre ombros de gigantes. Não fez o que fez sozinho. Tudo o que Newton fez só foi possível devido a tudo o que tinha sido feito pelos que o precederam. Ele herdou o conhecimento em que se baseou. Quase que podemos dizer que a civilização é-nos grátis. É toda herdada.

A produção económica por pessoa nos EUA aumentou à volta de sete vezes durante o século 20 de aproximadamente $7,000 para $52,000 dólares de 2017. Se os ganhos económicos do século 20 mantiverem o mesmo crescimento, por volta de 2100 valerá mais ou menos $365,000 por pessoa. Alguém que nasça no fim deste século não terá feito nada para merecer esse enorme ganho. Será tudo uma prenda do passado, da acumulação recebida de conhecimento tecnológico e cientifico, simplesmente por se ter nascido.

Agora imaginem um RBI indexado ao crescimento com produtividade, e portanto com automatização. Quanto maior a automatização, maior o rendimento, maior o RBI. Em vez de recear a automatização, as pessoas desejariam o máximo de automatização possível, para maximizar o seu RBI. Espera aí? As pessoas no futuro deveriam ser pagas 6 dígitos só por estarem vivas? Sim! Porque é a sua herança!

O RBI é a nossa herança natural.

O RBI é a nossa herança tecnológica.

O RBI é o nosso retorno sobre investimento como contribuintes.

O RBI é o nosso dividendo sobre os bancos de dados.

Na realidade, acho que entender o RBI como dividendo de dados será cada vez mais importante. Empresas como Facebook, Google e Twitter valem biliões não devido à sua infraestrutura mas por causa dos seus utilizadores, e os seus utilizadores vivem no mundo inteiro. São mais do que cidadãos. Passaram a ser cidadãos da internet. E fazem trabalho não remunerado de cada vez que actualizam o seu estado, com cada pesquisa, e com cada tweet. Este trabalho é devido ao que refiro como dividendo de cidadãos de internet, porque é devido aos que constituem as redes.

Temos de reconhecer o que fazemos online como uma forma de trabalho atomizado-trabalho tão pequeno que nem o vemos assim. E precisamos de o ver a toda à nossa volta. A nossa geração criadora de dados é omnipresente. Tudo o que fazemos, e tudo o que não fazemos, gera dados. Mas apenas os accionistas estão a receber dividendos disso.

Isto precisa de mudar, e todos nós podemos ajudar à mudança. A resposta ao como está acredito no desenvolvimento do blockchain e das criptomoedas.

Os dividendos de internauta podem ser incorporados em qualquer criptomoeda, e alguns já o são. Tomem por exemplo a plataforma Steemit. É uma mistura híbrida entre uma plataforma de blogging e o Reddit e baseada em blockchain. As pessoas criam posts, que são votados. Quantos votos conseguem determina quantos Steem o post ganha, divididos entre a pessoa que escreveu o post, e aqueles que votaram positivamente. Esta moeda é cambiável por outras moedas como a bitcoin e ethereum, que por sua vez podem ser trocadas por moeda tradicional.

Deste modo os utilizadores de Steemit são tratados simultaneamente como profissionais liberais e accionistas. Já não existe necessidade de seguir o modelo antigo. Qualquer plataforma que faça o que seja pode seguir este modelo baseado em blockchain. E acho que o único tipo de empresa capaz de transformar o Facebook no próximo MySpace vai seguir este modelo e incorporar dividendos de internauta. Imagine receber múltiplas fontes de rendimento através de dúzias de diferentes plataformas, apenas por as utilizar.

Como um jovem super herói aprendeu à força, com grandes poderes vem grande responsabilidade. Acho que os programadores de software são uma nova espécie de heróis. A automatização do trabalho humano é uma enorme vantagem para toda a humanidade, mas não só por si. Alterações sistémicas vão ter de acompanha-la de modo a que os benefícios da automatização cheguem a todos.

Não consigo explicar suficientemente como importante é para a sobrevivência a longo prazo da nossa espécie, passar da ideia de fornecimento condicional de caridade, para distribuição incondicional de prosperidade. Somos uma espécie jovem, mas para nos podermos tornar uma velha espécie, temos mudanças incríveis perante nós que requerem pensamento a longo prazo.

As alterações climáticas são um dos nossos maiores desafios e podem mesmo ser o nosso fim. Para as combater, temos de deixar de pensar unicamente em sobreviver. Enquanto estivermos unicamente preocupados acerca das coisas do dia a dia, as nossas mentes não estarão livres para ver o grande filme. Enquanto o rendimento estiver agarrado ao trabalho, um mineiro de carvão desempregado vai continuar a querer minerar carvão. Biliões de decisões diárias continuarão a ser tomadas para sobreviver até ao dia seguinte em vez do próximo milénio.

Somos primatas evoluídos. Progredimos muito, meus amigos macacos pelados, mas temos alguma coisa no nosso ADN que mudou de brilhantemente nos adaptar ao nosso ambiente, para passar a ser uma ancora amarrada aos nossos tornozelos. É chamada a resposta ao stress, ou mais popularmente, a resposta luta ou fuga.

Em tempos passados, há muitos milhares de anos, desligar o pensamento criativo de longo prazo foi uma ferramenta inteligente, e fomos temporariamente capazes de pensar mais rápido, reagir mais depressa, sermos mais fortes, movimentarmos-nos mais rapidamente, correr por mais tempo, e pensar unicamente sobre sobrevivência…. esses foram os humanos que sobreviveram. Era basicamente um super poder.

O problema é que já não vivemos nesse mundo. Não estamos a ser caçados por leões ou a ser comidos por lobos enquanto estamos sentados em frente ao nosso computador nos nossos escritórios com ar-condicionado e no entanto as nossas respostas luta ou fuga ainda estão activas. Na realidade, para demasiados de nós, a existência diária não é mais do que luta ou fuga.

A resposta ao stress só era suposto ser usada em caso de emergência, não ser um estado persistente. O stress sem fim não leva só a todos os tipos de problemas de saúde, mas a problemas sociais como displacement aggression e learned helplessness. Reprograma o nossos cérebro para se manter stressado, e como resultado, estamos como espécie a olhar para os nossos pés, em vez de olharmos para o horizonte.

O stress crónico é um assassino da mente. Por desenho, limita-nos a pensar a curto prazo. Cria uma escassez de recursos mentais. É um imposto sobre a mente, que quando removido, até já foi considerado como equivalente a um ganho de 14 pontos IQ. Porque a preocupação sobre não ter o suficiente opera como um tipo de software a correr no nosso subconsciente que limita recursos disponíveis para funcionar com outros recursos.Atingir um estado de ter o suficiente para não nos preocuparmos, resulta na libertação desses recursos.

A cada ano que passa, a tecnologia é capaz de fazer mais, e a uma escala exponencial. Portanto deixem-me perguntar-vos isto. Vamos pretender que amanhã todos temos uma ferramenta com um botão desencadeador do fim do mundo se pressionado. Quanto tempo imaginam que o nosso mundo sobreviveria?

A resposta seria não nos dar esse género de ferramenta? Acho que não. Essa tecnologia seria unicamente mais um género de osso. O nosso desafio é que à medida que a tecnologia avança, temos de avançar com ela. Temos de nos tornar em humanos que não pressionariam o botão.

Então como é que fazemos isso? Bom considerem duas sociedades. Uma sociedade inicia todos na base da pirâmide de Maslow e diz “Boa sorte parvalhão. Cada um por si”. A outra sociedade inicia todos no meio da pirâmide, e diz “Preocupamos-nos contigo, e acreditamos em ti. Estamos todos juntos nisto.” Que sociedade é menos provável de carregar no botão? Quero que sejamos essa sociedade.

É por isso que tenho opiniões tão fortes sobre o RBI. Se vamos bater as alterações climáticas, se vamos sobreviver avanços futuros em bio-tecnologia, nanotecnologia, e IA geral…. se vamos usar o interface Neuralink de IA do Elon Musk e assim transformarmos-nos numa civilização onde o botão não existe, não temos outra opção senão tornarmos-nos melhor. Temos que. E temos de o fazer agora porque precisávamos de o ter feito ontem.

Todos temos uma responsabilidade que não pode ser ignorada. Não podemos simplesmente automatizar de vez o trabalho humano sem reconhecermos o que mais deve ser feito. A tecnologia não existe no vacuum e os que percebem a tecnologia têm a responsabilidade de ajudar a guiar o barco em vez de apenas rezarem pela falta de icebergs. As consequências de nada fazerem só levará a mais desastres, quando a alternativa é um futuro que nunca brilhou mais forte. Porque o problema não é que os trabalhos estejam a ser automatizados, é que requeremos trabalho para ter rendimento, e por qualquer motivo achamos que 40 horas é “tempo-inteiro”. temos de aprender a partilhar a riqueza, e também partilhar as horas.

Estamos num momento crucial da civilização humana. Que caminho nos vão ajudar a seguir? O com mais medo e raiva e insegurança e stress? Ou o com mais esperança e amor e possibilidade, e acima de tudo, mais tempo?

Temos a oportunidade de libertar para sempre a humanidade do trabalho duro e da labuta, mas enquanto as pessoas necessitarem de dinheiro para viver, e os empregos são o modo primário de obter dinheiro, as pessoas vão recear automatização. Vamos remover esse entrave ao progresso humano. Vamos apagar o medo existencial de não ter as necessidades básicas. Deixar de sobreviver. É tempo de florescer.

Há uma ultima coisa que gostava tivessem em consideração. Se é verdade que todos temos o direito à vida, e que a vida não nos pode ser tirada, será que alguém tem verdadeiramente direito à vida se o que for necessário para viver for condicionado à servidão?

Se viver tem um preço, não deveria suficiente dinheiro ser incondicionalmente disponibilizado para cobrir esse custo, como um direito humano fundamental?

Pensem nisso a sério, porque acho que daqui a décadas as pessoas vão olhar para o passado e ficar perplexas com o facto de não ter sido uma questão.

O RBI não é “dinheiro grátis”. É liberdade. E a liberdade é de todos nós.

É tempo da tecnologia servir toda a humanidade. Empregos são para máquinas.

A vida é para as pessoas.

This post was written thanks to a crowdfunded basic income. You can support it along with all my advocacy for basic income with a monthly patron pledge of $1+ or a donation to my UBI advocacy travel fund.

Scott Santens writes and speaks about the idea of unconditional basic income. You can follow him on Medium, Twitter, Facebook, Huffington Post, Futurism, Steemit, or Reddit where he is a moderator for the /r/BasicIncome community of over 50,000 subscribers.

If you feel others would enjoy this article, please click (and hold) the applaud button.

--

--

Pedro Pampolim
Rendimento Básico

Human. Basic Income. Climate Change. Plastic Recycling. Circular Economy. Social Economy. Cannabis CBD