A riqueza de informação e a pobreza de atenção

Felipe Ribbe
Felipe Ribbe
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4 min readMar 29, 2024

“In an information-rich world, the wealth of information means a dearth of something else: a scarcity of whatever it is that information consumes. What information consumes is rather obvious: it consumes the attention of its recipients. Hence a wealth of information creates a poverty of attention”.

Em 1971, o economista Herbert Alexander Simon escreveu um paper chamado “Designing Organizations for an information-rich world”; naquela época, há mais de cinco décadas, certamente Simon não tinha noção do que estaríamos vivendo hoje. Nunca fomos tão “ricos” em acesso à informação — vejam bem, não estou julgando a qualidade das mesmas, apesar de que sim, temos acesso à muita coisa de excelência atualmente — e nunca tivemos tanta escassez de atenção.

Com o advento de inúmeras ferramentas de inteligência artificial, a produção de informação/conteúdo tende a crescer de forma ainda mais exponencial, dificultanto a tarefa de se conseguir o foco das pessoas. Assim, torna-se ainda mais claro que empresas e marcas devem concentrar mais esforços em atingir menos gente.

Pode parecer contraintuitivo, mas prestem atenção nas palavras: não estou dizendo que a comunicação de massa deve ser abandonada. É óbvio que não. Ela sempre terá um papel relevante para as empresas, principalmente as que baseiam seus modelos de negócio no volume e, por conta disso, precisam atingir o maior número de pessoas possível. Porém, prender a atenção de tanta gente é (e será cada vez mais) muito difícil. Daí a necessidade de colocar mais esforços em menos pessoas, mas naquelas que querem dedicar tempo, dinheiro e atenção às marcas, os “superfãs”. As comunidades, grupos — em geral pequenos — de pessoas que compartilham de interesses em comum, ganham bastante relevância.

Redes Sociais + Comunidades

“Social media has become less social and more media — a constellation of entertainment platforms where users consume content but rarely, if ever, create their own. Influencers, marketers, average users, and even social-media executives agree: Social media, as we once knew it, is dead.”

Há alguns meses, li dois artigos bastante interessantes (aqui e aqui) sobre como redes sociais, ao mudarem totalmente seus propósitos iniciais, estão estimulando pessoas comuns (não creators) a usarem estas plataformas apenas para consumo de conteúdo, mas buscarem ambientes mais privados, grupos e comunidades nichadas para interagir com aqueles/aquelas com os quais têm uma relação mais próxima, seja por afinidade, seja por interesses em comum.

As missões originais do Facebook (“connect and share”), Twitter (“create and share”) e Instagram (“capture and share”) mostravam um caminho para um mundo mais conectado, mas, ao mudarem seus modelos de negócio em busca de novos usuários e novas fontes de receita, tais redes sociais deixaram de focar em oferecer conexões significativas para privilegiar o consumo de conteúdos, produtos e estilos de vida — estes, muitas vezes, fake. Não à toa, apesar de termos cerca de 5 bilhões de pessoas com acesso à internet no mundo, vivemos o período de maior isolamento e epidemias de solidão. Ao entrarmos em um feed e sermos bombardeados com filtros e lifestyles inalcançáveis pela maioria, os sentimentos que mais têm crescido são ansiedade e frustração.

Li Jin, autora que gosto bastante, em “Love vs. fame: A framework for social applications” explora a diferença entre redes sociais, colocando-as em um espectro que vai do “amor” à “fama”. As redes que Jin coloca como redes de amor são aquelas marcadas por conexões bidirecionais, com pessoas que você conhece ou com as quais compartilha interesses (como no caso de comunidades, por exemplo); as redes de fama são aquelas que priorizam a descoberta de conteúdos e que permitem a viralização de perfis, independentemente de conexões sociais.

Ultimamente, por uma questão de modelo de negócios, grande parte das plataformas tem caminhado em direção a features que priorizam a fama; porém, dado o caráter impessoal que tais features trazem, muita gente tem buscado locais mais privados de interação, longe da exposição que os algoritmos proporcionam. Nessa linha, abrem-se possibilidades para plataformas focadas no “lado amor” do espectro crescerem em importância e número de usuários. E aqui também residem oportunidades para marcas.

Em um cenário como este, no qual a competição acirrada pela atenção cria o que chamo de “Economia da Distração”, a conexão mais profunda e pessoal por meio de comunidades e grupos exclusivos, e até via mensagens 1:1 customizadas, já é e será cada vez mais fundamental para se construir fidelidade real e verdadeira.

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Felipe Ribbe
Felipe Ribbe

Former Director Brazil at Socios.com and Head of Innovation at Clube Atlético Mineiro