Competições virtuais e simulações viram alternativa para o esporte em meio à pandemia

Felipe Ribbe
Felipe Ribbe
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4 min readMar 30, 2020

A pandemia de COVID-19 que assola o mundo tem impactado fortemente diversos setores da sociedade e a indústria esportiva, é claro, também tem sofrido bastante. Basicamente todos os eventos e competições mais importantes do ano foram suspensos, adiados ou até cancelados, causando prejuízos incalculáveis para clubes, ligas, entidades, casas de apostas, patrocinadores e veículos da mídia especializada.

Uma saída encontrada para tentar amenizar ao menos um pouco as perdas bilionárias de todas as partes foram os games. Falar que os eSports estão em grande evidência não é novidade — segundo a consultoria especializada Newzoo, vão bater US$1,1 bilhão de receita gerada em 2020, crescimento de 15,7% em relação ao ano passado -, mas mesmo estas competições profissionais sofreram com alguns cancelamentos, uma vez que são disputadas em ginásios e arenas. Estou falando mesmo dos games em sua versão tradicional, com torneios criados por entidades renomadas, colocando atletas “da vida real” para competir entre si do conforto e segurança de suas casas.

Grandes ligas como NBA e Bundesliga já organizam competições virtuais há algumas temporadas. Outras, no entanto, aproveitaram o momento para gerar conteúdo, audiência e engajamento ao invés de ficarem paradas esperando tudo voltar ao normal. A Fórmula 1, por exemplo, criou a F1 Esports Virtual Grand Prix, na qual colocará alguns de seus próprios pilotos para competirem em um simulador. A F1 adiou seus seis primeiros GPs da temporada e, para ocupar os finais de semana, os substituirá por seis corridas virtuais nas versões digitais das pistas do circuito. Tudo isso será transmitido ao vivo pelo Youtube, Twitch e Facebook oficiais da entidade. A iniciativa pode se estender por mais tempo, caso outros GPs sejam adiados, mas não irá contar pontos para o campeonato oficial.

A NASCAR foi além: criou uma corrida entre grandes nomes da atualidade e da história da organização, como Dale Earnhardt Jr e Kyle Busch, na versão digital da Homestead-Miami Speedway, icônico circuito oval da Flórida. Os pilotos profissionais participarão junto a especialistas do simulador virtual, com direito à transmissão na Fox Sports dos EUA capitaneada pela equipe oficial de transmissão das corridas da NASCAR. Outro exemplo foi a La Liga, que durante este final de semana organizou um torneio beneficente de FIFA20 com participação de todos os clubes que disputam o campeonato. Cada clube é representado por um jogador do elenco e as partidas transmitidas pela Twitch, onde os fãs podem fazer doações que serão repassadas à Unicef. Na Itália, um canal de televisão criou a Quarentena League, colocando astros do futebol local para disputar uma competição de FIFA20, entre eles Fabio Cannavaro, Pirlo e Balotelli. Até ligas menores, como a Major League Rugby, optaram por versões virtuais de seus campeonatos.

As iniciativas, porém, não se limitam a ligas e entidades esportivas. Clubes também têm buscado novas formas de entretenimento para seus seguidores e parceiros. O pequeno Leyton Orient, da quarta divisão inglesa, foi ao Twitter desafiar outros clubes do mundo para o Ultimate Quaran-Team, um torneio de FIFA20. A ideia inicial era ter 64 clubes participantes, mas o sucesso foi tanto que o número aumentou para 128, incluindo gigantes como Manchester City, Roma e Ajax. De quebra, as casas de apostas também celebraram. Em uma época em que apenas campeonatos de países de 3º e 4º escalão continuam ativos, competições como esta são mais uma opção para seus clientes apostarem. Se você quiser fazer “uma fezinha”, basta entrar nos principais sites do gênero que é possível colocar dinheiro em cada uma destas partidas virtuais.

Nos EUA, o Phoenix Suns, da NBA, e o Los Angeles Kings, da NHL, decidiram simular jogos da temporada regular nos games NBA2K20 e NHL20, respectivamente. As simulações foram transmitidas no Twitch e Twitter, e atraíram bons números de audiência. Washington Wizards e Washington Capitals foram pelo mesmo caminho, mas as simulações terão transmissão da emissora NBC Sports para a região, com narração e comentários dos profissionais que trabalham nas transmissões dos jogos reais destas equipes.

Claro que este tipo de iniciativa não substitui nem de perto a verdadeira ação e emoção dos eventos esportivos, com atletas de carne e osso mostrando suas capacidades em campos, quadras e pistas, além do calor humano do público presente. As perdas serão de fato bilionárias, o futuro ainda é incerto, mas pelo menos são amostras de que há o que fazer nestes tempos obscuros, criando relevância para fãs e parceiros comerciais. Só não dá para ficar parado.

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Felipe Ribbe
Felipe Ribbe

Former Director Brazil at Socios.com and Head of Innovation at Clube Atlético Mineiro