O papel da inovação na estrutura de uma entidade esportiva

Felipe Ribbe
Felipe Ribbe
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3 min readDec 29, 2020

Quando publiquei o white paper “A inovação na estrutura organizacional de uma entidade esportiva”, um dos assuntos mais comentados foi o posicionamento da área de inovação, reportando diretamente ao presidente/CEO e separada de outros departamentos. É comum vermos em empresas diversas a inovação ficar sob responsabilidade da Tecnologia ou do Marketing, por exemplo. Não tenho a pretensão de dizer o que é certo ou errado, afinal cada organização conhece suas próprias necessidades e entende qual o modelo ideal para si. Porém, na minha visão, ao colocar a inovação abaixo ou ao lado de outro setor, limita-se o alcance das iniciativas, pois entende-se que apenas ali se inova. Também pode se criar uma certa resistência no relacionamento com outras áreas, uma vez que eventuais papéis de proeminência em novos projetos poderiam ser vistos como sobreposições de autoridade.

Fundamentalmente, devemos considerar que inovação não se faz apenas com tecnologia e não existe somente para criar novas fontes de receita. Em uma entidade do esporte, ela deve olhar ainda para o aprimoramento de performance física, técnica e cognitiva de atletas profissionais e das categorias de base; para a prevenção e o tratamento de lesões; para desenvolvimento de novos modelos de negócio em produtos já existentes, como programas de sócio torcedor; e até em áreas mais tradicionais, como jurídico, RH e financeiro. Só para citar alguns exemplos.

Por conta disto, acredito que o papel da área de inovação em uma organização esportiva é muito mais de uma consultoria interna, navegando por todos os departamentos, ajudando na identificação de problemas e necessidades, e na estruturação de iniciativas que busquem soluções. Para se evitar ciúmes entre áreas que são obrigadas a tocar projetos idealizados por outra, o fluxo de trabalho é uma via de mão dupla. Tanto a Inovação quanto os departamentos sugerem projetos. A análise de viabilidade, planejamento, aprovação e montagem de equipe também são feitas em conjunto. Mas não há mudanças na hierarquia — diretores e gerentes seguem “donos” destes novos projetos. Neste modelo de organograma, a função dos embaixadores é imprescindível; são eles que irão criar esta ponte entre chefias dos departamentos e área de inovação. Cada departamento terá um ou mais embaixadores, dependendo do tamanho e das demandas.

A área de inovação, no entanto, não atua apenas como consultoria; ela também tem iniciativas próprias. Ela, por exemplo, desenvolve junto ao RH atividades para ampliar a capacidade de colaboradores para inovação, como treinamentos em metodologias ágeis; acesso a cursos, workshops e palestras; visitas a outros ambientes inspiradores e/ou de negócios; e produção de conteúdos em texto, áudio e vídeo com temas relevantes para deixar as pessoas atualizadas sobre o que vem acontecendo pelo mundo na interseção de inovação, tecnologia e esporte. Este “braço” educacional também pode/deve ser aplicado ao público externo, algo com potencial inclusive de gerar novas fontes de receita para a organização.

Os relacionamentos externos também são pedra fundamental, afinal inovação não se faz sozinho. Outras organizações esportivas da mesma modalidade ou não, startups, grandes empresas, universidades e centros de pesquisa ajudam em todo o processo e cabe ao Chief Innovation Officer e equipe buscarem sinergias e costurarem acordos.

Por último, o olhar para o futuro da organização também é papel da área de inovação. Entender e desenhar cenários para como a indústria esportiva será em 5, 10, 20 anos; o comportamento de consumo dos fãs; o papel de tecnologias emergentes no esporte, como inteligência artificial, blockchain, realidades aumentada e virtual, 5G, engenharia genética, nanotecnologia e outras. É raro encontrar organizações esportivas com planejamentos para o longo prazo, muito em função de suas estruturas políticas. Mas se estamos em um mundo que passa por mudanças constantes, antecipar tendências será questão de vida ou morte.

No white paper, explico em mais detalhes porque acredito que este é o modelo ideal para a inovação em uma organização esportiva. Falo bastante também sobre cultura de inovação, obtenção de recursos, iniciativas internas e externas, além de disponibilizar uma sugestão de canvas para projetos de inovação.

Se você quer se aprofundar no assunto, faça o download neste link: http://bit.ly/2LXYobO

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Felipe Ribbe
Felipe Ribbe

Former Director Brazil at Socios.com and Head of Innovation at Clube Atlético Mineiro