Transformando pontos de sócio torcedor em ativos digitais

Felipe Ribbe
Felipe Ribbe
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3 min readFeb 7, 2021

Antes de começar, é importante salientar que não sou especialista em programas de sócio torcedor; no país há profissionais que se dedicam a isto, o que é natural, pois trata-se de uma das principais fontes de receita de vários clubes. Porém, nos últimos tempos tenho estudado bastante algumas iniciativas que surgiram com ativos digitais no esporte. No Brasil, quem paga a mensalidade de ST geralmente busca duas coisas: ingressos “gratuitos” ou com desconto, e prioridade de compra em jogos importantes. Os programas oferecem outros benefícios, como descontos em estabelecimentos parceiros e o acúmulo de pontos, que podem ser trocados por produtos oficiais e experiências diversas. É legal, mas não acredito que seja primordial na hora de se tornar sócio ou renovar o plano. Por isso, enxergo uma possibilidade de ir além: por que não transformar estes pontos em ativos digitais de verdade, que podem ser negociados livremente em um mercado secundário dentro da própria plataforma do clube?

Hoje eles só podem ser usados por quem os acumulou; mas se eu sou sócio torcedor, tenho pontos em minha carteira e não pretendo troca-los por produtos ou experiências, por que não permitir que eu os venda para outros sócios (ou mesmo não sócios) que queiram compra-los e usa-los? Por exemplo, digamos que visitar o vestiário e entrar em campo antes de um jogo custe mil pontos; se eu tenho apenas 500 e não quero esperar acumular mais para adquirir esta experiência, seria interessante se eu pudesse comprar os 500 pontos restantes necessários de outro sócio torcedor que os tenha e os queira vender. Isso daria a este sócio a chance de fazer dinheiro e abater do seu gasto mensal com o programa ou até lucrar com isso. A própria prioridade em fila de ingressos poderia ser uma das propriedades negociadas assim. O valor em reais destes pontos pode ser fixado pelo clube ou estipulado por cada torcedor, considerando as regras básicas de oferta e demanda — opção que considero a melhor, pois torna tudo ainda mais interessante. Imagine que em momentos de alta da equipe, quando a procura por ingressos e experiências com jogadores, por exemplo, está aquecida, a tendência é de valorização destes pontos.

A criação desta “nova economia” é boa para os clubes de diferentes maneiras: primeiro, a chance de fazer dinheiro é um atrativo poderoso para manter os sócios ativos mesmo em momentos de baixa performance do time ou períodos sem jogos; também é um ótimo estímulo para atrair novos membros para o programa; e abre-se até a possibilidade de não sócios (inclusive torcedores de outros times, por que não?) comprarem pontos para trocar pelos benefícios ou mesmo para tê-los apenas para esperar futuras valorizações, o que cresceria o número de participantes nesta economia e, consequentemente, os pontos e dinheiro em circulação. O clube ainda cria outra oportunidade de faturar. Por ser o dono da plataforma de comercialização (o mercado secundário que escrevi acima), ele pode cobrar taxas por cada uma das transações efetuadas e vender/comprar pontos diretamente com sócios e não sócios, aumentando e diminuindo o número de pontos disponíveis de acordo com seus interesses — algo como o Banco Central faz com dólares, por exemplo.

Indo ainda mais longe, e se este mercado secundário envolvesse programas de diferentes clubes e as pessoas pudessem comprar e vender pontos deles, como se fossem itens de investimento? É claro que seria preciso verificar a regulamentação deste tipo de operação, mas acho que vale ao menos o exercício de imaginação, tamanhas são as possibilidades. Porém, isto é assunto para um segundo momento. Por enquanto o foco é na transformação dos pontos já existentes em ativos digitais de fato, algo que está ao alcance dos clubes atualmente. Há bastante espaço para inovar em programas de sócio torcedor e vejo esta como uma grande chance de fazê-lo.

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Felipe Ribbe
Felipe Ribbe

Former Director Brazil at Socios.com and Head of Innovation at Clube Atlético Mineiro