Pânico: a Síndrome que a Pandemia multiplicou

Douglas Braga
Reportagem Multiplataforma
5 min readDec 2, 2022

As doenças do psicológico são alertadas como o mal do século 21, durante a pandemia notou-se um grande aumento de casos de ansiedade, depressão e síndromes como a do pânico

Os sintomas da ansiedade são, muitas vezes, confundidos com outras doenças. (Foto: Banco de Imagens/Andrew Neel)

Medo de ser contaminado pelo vírus, medo das perdas financeiras, de morrer; são todos medos reais e que a pandemia suscitou com frequência. Mas esse sentimento tão inato aos seres humanos pode ser o sinal de problemas maiores, quando não conseguimos sair desse estado de tensão, insegurança; quando a sensação vem como ondas ao longo do dia, quando esse medo não se baseia no real, mas em uma angústia desmedida e que te impede de agir e viver normalmente. A psicologia explica que estes são sinais da ansiedade, umas das doenças mais comuns do mundo, que acomete, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), 18,6 milhões de brasileiros. Observemos agora os sintomas de uma síndrome descrita como um caso agudo de ansiedade, a Síndrome do Pânico: crises aleatórias que atingem o seu ápice em poucos minutos (algumas vezes até menos) e colocam a pessoa em um estado de desespero e desesperança, sensação de morte e descontrole emocional. Os especialistas afirmam que os tratamentos para este sofrimento são muito eficazes e podem proporcionar uma vida normal para as pessoas atingidas pela Síndrome do Pânico. Porém, caso não seja tratado, fica mais difícil o controle e pode levar, inclusive, a depressão e ao suicídio.

Vários estudos comprovaram o aumento da incidência de casos de ansiedade, depressão e pânico na sociedade pós-pandêmica, relatando ligações entre o surgimento dessas doenças com o medo e as restrições impostas pela Pandemia e as notícias veiculadas sobre. A própria OMS relatou um aumento de 25% na prevalência global de ansiedade e depressão durante o período, em um resumo científico divulgado em março de 2022, que revela que jovens e mulheres são os mais afetados. O relatório também apontou que, embora os governos estejam se empenhando na oferta de atendimento psicossocial, os esforços precisam ser ampliados. No Atlas da Saúde Mental lançado em 2020, a OMS alertou que os governos de todo mundo gastaram apenas pouco mais de 2% dos orçamentos relacionados à saúde com a saúde mental.

O uso de fármacos para o tratamento de ansiedades deve ser receitado por especialistas, mas não substitui a terapia. (Foto: banco de imagens/MART PRODUCTION)

De acordo com a psiquiatra Carolina Gallois, a Pandemia trouxe um novo modelo de sociedade, com vários estressores sociais que serviram de gatilhos para o aumento no número de pacientes com transtornos. Além disso, a especialista enfatizou que esse momento serviu como uma espécie de estopim, para que indivíduos tivessem os seus quadros de crises emancipados e nítidos. No entanto, destacou a importância de um maior “interesse” do Brasil em relação à doença. “Precisamos levar em consideração em nossos estudos, que o nosso país é o recordista em casos dessas doenças em todo o mundo, e que antes mesmo desse período, já sofríamos com esses números”.

Pergunta: Com que frequência você se sente nervoso ou ansioso?

Gráfico com base na pesquisa ‘ConVid — Pesquisa de Comportamentos’, mostra que a maioria dos entrevistados já se sentiu nervoso ou ansioso pelo menos uma vez. ¹

A faixa etária mais comum para o desenvolvimento da ansiedade é entre 20 e 45 anos. As causas podem, ou não, incluir fatores genéticos, mas também podem ser engatilhadas por traumas, situações de estresse extremo, mudanças e trabalho em excesso. Apesar de muitos avanços no reconhecimento dos problemas psicológicos como doenças que necessitam de tratamentos, muitas pessoas ainda evitam buscar ajuda por receio do preconceito e opinião de familiares e amigos. Mas as pessoas próximas podem exercer um fator importante na identificação dos sintomas — dentro os quais, físicos -, que podem ser confundidos com outras doenças. A ansiedade e o pânico geralmente também se manifestam através de sintomas físicos, como taquicardia, sudorese, falta de ar e desconforto no peito, muitas vezes confundidos com infarto e outras doenças.

Aparecimento de sintomas por faixa etária

Pesquisa demonstrou que os mais jovens estão mais propensos aos sintomas.

A doutora fez questão de destacar o papel dos entes queridos no processo de cuidados com as crises. “Um quadro de ansiedade ainda na infância, se não for tratado, no futuro, pode vir a se tornar um quadro grave de ansiedade, com isso, não se pode negligenciar qualquer tipo de sintoma ou indício da doença”. Por fim, ressaltou os modos de tratar a comorbidade. “É muito importante ter no âmbito familiar o entendimento do que é e o que pode se tornar, desse modo, deve ser realizado o tratamento com antidepressivos acompanhados da Terapia Cognitiva Comportamental”.

A psicoterapia ajuda a identificar os problemas e diferenciar a ansiedade e o pânico de outras doenças como a depressão e a bipolaridade. (Foto: Banco de Imagens/Antoni Shkraba)

Há diversas abordagens para tratar a ansiedade e o pânico, a psicoterapia (ou apenas terapia) pode ser combinada com a aplicação de remédios que controlem os sintomas, mas o tratamento varia de pessoa para pessoa, e requer o atendimento de psiquiatra. O uso de fármacos precisa ser receitado e acompanhado por um psiquiatra, já a terapia pode ser feita com profissionais como psicólogos ou psicanalistas. Em 2022, com a pandemia ainda em curso, vários estudos já demonstram que o impacto no psicológico da população é visível, mas não é irreversível, e é necessário entender que há tratamento para os distúrbios mentais.

Por Douglas Braga e William Freitas

Referências

¹ Pesquisa ‘ConVid — Pesquisa de Comportamentos’, desenvolvida por iniciativa da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), coletados entre 24 de abril e 24 de maio de 2020. (Consultado em: SciELO — Brasil — Relato de tristeza/depressão, nervosismo/ansiedade e problemas de sono na população adulta brasileira durante a pandemia de COVID-19 Relato de tristeza/depressão, nervosismo/ansiedade e problemas de sono na população adulta brasileira durante a pandemia de COVID-19)

Depoimento de uma pessoa diagnosticada com ansiedade.

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