Ciência e tecnologia: os alicerces da casa inteligente

Por: Mateus Hipólito e Rafael Cardoso

Lâmpada inteligente controlada pelo celular — Mirele Kollarz

Muito além da conexão entre vigas, concreto, tijolos e cimento, uma casa é construída a partir de cálculos matemáticos e horas de estudo e trabalho contínuo. Nesse sentido, o conhecimento necessário para erguer uma habitação — tido muitas vezes como banal — é fruto de análises prévias e conhecimentos empíricos — aqueles derivados da experiência sensorial ou do procedimento experimental. Contudo, com o advento das casas inteligentes, a ciência envolvida no processo de criação de uma residência mudou drasticamente. A tecnologia invadiu — literalmente — os lares das pessoas e tomou conta da rotina diária dos adeptos da automação.

Segundo Lucas Bessas, sócio da Kali Automação e criador do Minha Casa Inteligente, “a ciência por trás de uma casa inteligente consiste em integrar as diversas tecnologias presentes na casa para gerar a melhor experiência possível para o usuário”. Bessas afirma que o ideal é que o próprio sistema possua um ambiente único, para que a pessoa não precise ter diversos aplicativos ou fique perdida na utilização. Para atender essa necessidade, é preciso a utilização de aparelhos que conversem entre si e consigam agregar outros equipamentos ao próprio sistema, com uma central que faça essa comunicação e possibilite uma experiência completa.

Bessas é formado em Gestão de Sistemas de Informação pela COTEMIG (Colégio e Faculdade referência no ensino de Tecnologia da Informação e Informática) e trabalha realizando projetos de alto padrão a mais de 5 anos. De acordo com ele, os conhecimentos necessários para entrar no ramo estão ligados às diversas áreas da tecnologias de automação que existem — para entender qual se encaixa melhor para a necessidade e momento atual de cada cliente — bem como a outras áreas que se conectam ao sistema para propiciar uma verdadeira experiência em casa, são elas:

  • Redes, para levar uma internet de qualidade para todos os dispositivos — ter um cabeamento estruturado para os equipamentos fixos (TV’s, streamers, receiver, Computadores, etc.), com um wi-Fi bem distribuído e de alta qualidade em toda a casa;
  • Sistemas de Áudio e Vídeo, para oferecer sistemas distribuídos e integrados de Som Ambiente ou home theater/cinema em casa (buscando sempre harmonizar com a arquitetura e possibilidades da casa);
  • Sistemas de Segurança, para integrar câmeras, alarmes e outras funcionalidades ao sistema da casa;
  • Assistentes Virtuais, para configurar os Assistentes de forma a gerar uma experiência fluida e agradável a todos os moradores.

Já para Guilherme Oliveira, empreendedor na área de casas inteligentes e criador de conteúdo digital, a ciência por trás do processo é, em suas palavras, “bem simples!”. “O que você quer automatizar? Pense que esse item precisa estar ligado na sua rede, seja Internet via wi-fi, ZigBee ou Bluetooth com suporte wi-fi. Se estiver na “nuvem” ligado na Internet e tiver compatibilidade com as assistentes virtuais, vai funcionar perfeitamente”, diz Guilherme com um leve tom de ligeireza e autoridade. Para ele, que trabalha no ramo há três anos, não há limites em relação às tecnologias de automação, “são infinitas as possibilidades”.

Popularização: utopia ou luxo?

Quando pensamos casas inteligentes e automação, imagens de robôs aerodinâmicos, mansões luxuosas e vozes do além que mais parecem dubladores surgem em nossas mentes como na animação “Os Jetsons” ou no longa “Homem de Ferro”. “Coisa de filme”, e realmente. O cinema do final da década de 90 e início dos anos 2000 já dava spoilers do que viria a ser uma casa inteligente atual. Filmes como “A.I- Inteligência Artificial”, de 2001, “O Quinto Elemento”, de 1997, e “A Casa Inteligente” de 1999 já retratavam em seus enredos aparelhos tecnológicos capazes de integrar uma residência por completo. A cultura pop passou a enxergar esse fenômeno com olhos promissores, o que fez com que o ideal tecnológico se aproximasse da mente da grande massa.

No entanto, apesar de próximas às telas do cinema e das TVs, as casas inteligentes estavam fora da realidade do cidadão comum, que nem sequer sonhava com um aparelho smart em seu domínio. É fato que os altos preços, que variam de R$30.000,00 a R$300.000,00, são os maiores empecilhos para a ampliação dos sistemas nas residências, o que torna a automação total das casas um ato considerado por muitos, elitista e segregador. Porém, é possível automatizar apenas algumas áreas, com a utilização de aparelhos e sistemas mais simples e de baixo custo. Um bom exemplo seriam as lâmpadas inteligentes, que custam em média R$50,00 e oferecem praticidade e acessibilidade aos interessados.

Nesse âmbito, de acordo com uma pesquisa realizada recentemente pela Associação Brasileira de Automação Residencial e Predial (Aureside), atualmente há um número entre 900 mil e 2 milhões de casas inteligentes no Brasil — em 2015 beirava os 300 mil. Isso mostra o surgimento de novas necessidades e desafios, que podem ser facilitados pela automação de uma casa inteligente e comprova a crescente popularização e demanda desse sistema no país. Lucas Bessas atribui o aumento da adesão de casas conectadas à três fatores:

1) Difusão da informação: hoje em dia temos várias redes sociais mostrando que é possível (até hoje muita gente não conhece);

2) Chegada dos assistentes virtuais: pois o comando de voz desperta desejo e possibilita que várias pessoas experimentem mais tecnologia dentro de casa;

3) A chegada da tecnologia de baixo custo por meio da produção em massa na China e distribuição através de sites online, que popularizou bastante a automação, já que antigamente só era possível comprar esse tipo de equipamento através de revendas locais e o preço era infinitamente mais caro.

Os dispositivos mais populares e utilizados pelas pessoas são os aparelhos simples e rentáveis e os populares assistentes virtuais. Porém, segundo Lucas Bessas, outras tecnologias vêm chamando a atenção do público.

Mercado: o futuro é a automação

O mercado de casas inteligentes está crescendo cada vez mais. O aumento da demanda por aparelhos tecnológicos nos lares e a expansão e divulgação dos serviços por meio das redes sociais são algumas razões pelas quais esse campo está em constante expansão. Concomitantemente, o número de profissionais especializados na área também aumenta significativamente. Para Guilherme Oliveira, a pandemia de Covid-19 foi um dos fatores responsáveis pela popularização do serviço: “A pandemia fez com que as pessoas assistissem mais conteúdos na Internet. Buscas por reformas em casas ou apartamentos cresceram nessa época também, além do interesse das pessoas em valorizar mais o imóvel. Claro, o principal também é o fato de as pessoas quererem mais comodidade”.

Não é novidade que o mercado tecnológico é um dos mais promissores atualmente em virtude da expansão do 5G e das inteligências artificiais, que surpreendem a todos com sua funcionalidade. No entanto, apesar de estar em grande crescimento ainda é um mercado muito novo, a relação de casas que possuem automação x casas que poderiam receber é muito pequena. Lucas Bessas acredita que falta informação de qualidade (apesar de encontrarmos muita informação na internet), pois para ter uma boa experiência em casa o projeto precisa ser pensado de acordo com a necessidade de cada um, e se caso a pessoa resolva fazer por conta própria ou contratar um profissional desqualificado pode acabar perdendo tempo e dinheiro em equipamentos que podem não atender tão bem a suas necessidades.

Segundo Guilherme Oliveira, para entrar no ramo das casas conectadas é necessário pouca coisa, entretanto, o conhecimento e qualificação devem ser postos em primeiro lugar. “Casa Inteligente não é simplesmente ligar uma luz com a Alexa ou Google. É ter itens que não dependem da sua ação, ou seja, autônomos, não precisam da sua ação para executar. Entretanto, para quem está começando, apenas uma lâmpada e uma tomada já dá pra fazer muita coisa”. Bessas complementa: “Além do conhecimento nas áreas da automação, é necessário saber lidar com os clientes”.

Para Bessas: “Conhecimentos Administrativos, que fazem parte das necessidcades de todo empreendedor, devem ser destacados, sendo principalmente:

  • Vendas, pois não adianta ter o melhor sistema do mundo se não sabemos mostrar isso às pessoas e tornar o empreendimento viável;
  • Relacionamento com o cliente, para ter uma gestão eficaz dos clientes, suas necessidades, cronograma de obras, suporte e pós-venda;
  • Financeiro e Contábil, para ter uma boa gestão, saber as margens e quanto cobrar de cada cliente e estar em dia com as obrigações fiscais.”

Integração entre aparelhos dentro de casa

Para que as funções de uma casa inteligente funcionem da maneira correta, é necessário uma boa conexão, e a promessa é que o 5G resolva esse problema aprimorando uma tecnologia chamada Internet das coisas IoT, Internet of Things.

Internet das Coisas pode ser explicada como a conexão entre os aparelhos em uma mesma rede, de forma que eles interajam entre si sem a mediação de um ser humano. Utilizando machine learning e inteligência artificial, os aparelhos conseguem aprender padrões e responder perguntas personalizadas após obter os dados necessários. Para exemplificar esse processo, vale lembrar das lâmpadas e outros dispositivos que conseguimos programar pelo celular.

Mirele Kollarz classifica-se como uma usuária frequente de equipamentos eletrônicos que facilitam o dia a dia. A engenheira e empresária conta um pouco sobre o que espera para o futuro do mercado de aparelhos inteligentes. Confira:

Mirele ressalta que entre os aparelhos presentes em sua casa o que mais utiliza é a assistente virtual, Alexa. “Utilizamos ela para tudo, desde um aviso, um alerta, para tocar rádio ou tirar uma dúvida”.

Outros aparelhos que a engenheira possui em sua casa são lâmpadas inteligentes, máquina de lavar que recebe comandos pelo celular, um aspirador robô que pode ser programado remotamente. Para os próximos anos, Mirele pretende adquirir mais produtos inteligentes para sua casa, afirma. “Na medida que vamos ganhando confiança e percebemos que o aparelho se torna um bom custo-benefício”

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