Muito além da alta velocidade, 6G promete trazer a grande revolução da Internet

Por: Maria Fernanda Avila e Paula Frizone

A quinta geração de Internet móvel foi estabelecida oficialmente no Brasil em julho de 2022 e já está presente em todas as capitais do país. Contudo, a trajetória da tecnologia tem mostrado uma inovação cada vez mais rápida. O 5G ainda está em fase de implementação ao redor do mundo mas pesquisas acerca da próxima geração das redes móveis já estão sendo realizadas por diferentes empresas como Samsung, LG e Huawei.

“A tecnologia está evoluindo mais rápido do que a capacidade humana” foi uma frase emblemática, dita por Thomas Friedman, colunista do The New York Times sobre a atual situação tecnológica no mundo. Friedman é defensor do discurso que o mundo moderno pode ser explicado por três acelerações que nele ocorrem: das mudanças climáticas, do mercado e da lei de Moore — que determina que a capacidade dos computadores dobra a cada dois anos.

Na nossa sociedade, as redes móveis sempre se adaptaram para as necessidades em que estão aplicadas. Em 1980, com a criação do 1G, a única necessidade prevista era de um sistema analógico que realizasse chamadas de voz. Em 1990, isso mudou para uma melhor qualidade, capacidade e segurança do sistema, tornando-o digitalizado com o 2G. Nessa fase, a criação do envio de mensagens por Short Message Service (SMS) foi o destaque.

A terceira geração de Internet móvel (3G) surgiu nos anos 2000 e trouxe o acesso a redes de dados. O início da quarta geração (4G) se deu 10 anos após, na qual o uso da Internet se tornou a principal função dos aparelhos móveis. Nesse momento as taxas de transmissão de dados atingiram até 10Gbps — medida usada para calcular velocidades de transferência de dados entre dispositivos Hardware.

Em 2020 a quinta geração de dados móveis ficou em evidência e com ela veio o suporte para a IoT (Internet of Things), além da capacidade para taxas de transmissão de até 10Gbps. Isso significa que o 5G é focado na Internet das Coisas, uma tecnologia que promete revolucionar o mundo e criar, talvez, uma nova revolução industrial.

Os núcleos usados na rede 5G utilizam uma frequência de 3,5GHz. Isso significa que ele garante menos latência, ou seja, um menor tempo de resposta entre o dispositivo e a rede em que ele está acessando; além de trazer menos instabilidade e uma maior velocidade. O Ministério das Comunicações divulgou números que mostram que, enquanto o 4G consegue conectar até dez mil dispositivos por quilômetro quadrado simultaneamente, o 5G suporta até um milhão.

Todavia, sequer a tecnologia chegou ao mundo todo e os grandes “players” da Internet já começam a falar na próxima geração: o 6G.

Durante inúmeros eventos para discutir o mundo econômico e tecnológico em 2022, a possível nova tecnologia já apareceu em destaque. Executivos das maiores empresas de telecomunicações, eletrônicos e computação estimaram que a nova tecnologia deve entrar em operação até o ano de 2030. De acordo com as previsões de mercado realizadas pela Transforma Insights, espera-se que o mercado de IoT passe de 7,6 bilhões de dispositivos ativos em 2019 para 24,1 bilhões em 2030.

Definitivamente, os smartphones como conhecemos hoje não serão a interface mais comum, porque até lá, muitas coisas serão construídas diretamente em nossos corpos, é o que preveem as maiores empresas de alta tecnologia do mundo.

Embora os smartphones continuem sendo dispositivos chaves na era 6G, as novas interfaces, como o futurístico homem-máquina, se tornarão mais convenientes para consumir e controlar as informações. Os dispositivos já estão embutidos nas roupas e até mesmo se transformarão em “adesivos de pele”.

As redes 6G serão capazes de usar frequências mais altas do que as redes 5G, que já era uma revolução. Reprodução: https://www.eldorado.org.br/

Algumas empresas, como a NeuraLink, de Elon Musk, têm trabalhado na produção de dispositivos eletrônicos que podem, até mesmo, ser implantados no cérebro humano e usados para criar uma espécie de simbiose entre máquinas e pessoas. Os chips podem ser colocados inclusive nas pontas dos dedos com a função de desbloquear itens do cotidiano.

Ao mesmo tempo, outras gigantes da tecnologia, como a Meta e o Google, junto a Microsoft, desenvolvem novos sensores e fones de ouvido de realidade aumentada, que também poderiam ser uma alternativa aos smartphones como conhecemos hoje. O fato é que, até o final desta década, as pessoas conectadas surgirão e haverá um gêmeo digital de praticamente tudo, o que exigirá recursos computacionais até hoje não utilizados. E é a partir daqui, que a tecnologia 6G entra em cena, ou melhor, a Internet dos Sentidos.

Quando se fala em alta tecnologia no mundo de hoje, do tipos que se vê em filmes de ficção, parece algo completamente fora da realidade. Inclusive muitas pessoas acreditam ser realmente difícil que essa ficção saia das telas e se torne vida real, mas fato é que a Internet 6G já está sendo desenvolvida enquanto você lê este texto.

Junto a sexta geração da Internet, um novo mundo, cheio de hologramas e sensações, que saem do virtual e vão para a realidade, é criado. Tudo o que hoje é visto e ouvido sobre a tecnologia 6G ainda está no domínio da imaginação de cientistas e engenheiros, que estão, agora, começando a criar essas bases para um objetivo que começará, brevemente, a se tornar real.

O desenvolvimento da rede 6g ainda precisa considerar o avanço tecnológico no transporte. Enquanto o 4G foi planejado para uma velocidade de massa a 250 km/h, a rede 5G pode se manter conectada a 500 km/h. Já a tecnologia 6G deve suportar componentes não terrestres, como aviões, satélites geoestacionários e de órbita terrestre baixa, além de plataformas de altas altitudes, conhecidas como HAPS.

Parece algo um tanto quanto futurista e desnecessário, mas a ideia é que a rede 6G, embora traga avanços significativos para os humanos, seja utilizada principalmente pelas máquinas. No ano de 2030, estima-se que teremos cerca de 500 bilhões de dispositivos conectados, usados por até 8,5 bilhões de pessoas. Essa tecnologia deve ser usada principalmente por esses dispositivos: carros, robôs, drones, eletrodomésticos, telas, sensores inteligentes, máquinas, equipamentos e fábricas.

Como esses dispositivos excedem as capacidades humanas, a ideia é que, embora para apenas uma parte da população o ser humano comece a viver em uma verdadeira simulação digital, com hologramas de alta fidelidade e réplicas digitais de si mesmo, espalhadas dentro do metaverso. Seja como for, imaginar a rede 6G pode ser fácil, difícil mesmo será criar o padrão, de modo que atenda todas as especificações técnicas.

No campo do espectro, o 6G deverá operar em frequências na casa dos THZ (terahertz), uma unidade de medida de frequência eletromagnética equivalente a um trilhão de Hertz. Enquanto o 5G mm-wave funcionará entre 6 e 110 gigahertz, as redes 6G emitiriam ondas de até 3 gigahertz. Isso significa novos protocolos, optimização da arquitetura das antenas, frequências mais altas e uma menor penetração de sinal, assim, o que será visto é a realidade contínua, entre o digital e o físico. Tudo vai parecer juntar-se e misturar- se mais do que nunca, o mundo digital e o mundo biológico serão apenas um.

A massificação dos robôs e sistemas robotizados, incluindo humanoides, será desbloqueada, e em vez de “apenas” as milhões de pessoas que já são conectadas, a previsão é de que serão muito mais robôs ligados com a necessidade de comunicação pelas redes superiores às dos humanos, porque terão mais tecnologia. O que poderá acontecer é que uma funcionalidade de radar a uma precisão impressionante, de poucos centímetros em chips implantados, será usada para saber exatamente onde estamos.

Vale ressaltar que toda essa capacidade deverá potencializar aplicações que, nos dias atuais, ainda são inconcebíveis. Além disso, entende-se, então, que o novo desafio que o 6G promete trazer é justamente conectar todos os equipamentos em uma rede única, com sensores implantados em máquinas, como verdadeiro de cérebros digitais, parecidos com redes neurais, em que o que um aprende todos aprendem.

O 5G, que sequer chegou ao mundo inteiro, seria apenas uma rede de transmissão para permitir essa viabilidade em um cenário onde a “Internet dos Sentidos” está chegando. Dessa forma, o aspecto mais notável do 6G será, de fato, a sua capacidade de sentir o ambiente, as pessoas e os objetos.

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