Irmã Rosetta Tharpe: a artista gospel que inspirou o rock and roll

Rafaela Hermes
AGEX
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4 min readNov 22, 2018

A Irmã Rosetta Tharpe (1915–1973), nascida Rosetta Nubin no Arkansas em 20 de março de 1915, foi uma das primeiras artistas gospel a se apresentar em igrejas e pubs. Ela recebe os créditos por popularizar a música gospel nos anos 1930 e 1940, e realizou turnês até sua morte, em 1973.

Rosetta Tharpe apresentando-se por volta de 1930. Foto: Rock and Roll Hall of Fame

Sua mãe, Katie Bell Nubin, era cantora, tocava bandolim e pastora evangélica na Igreja de Deus em Cristo, fundada em 1894 por um bispo batista negro. A Igreja encorajava expressão musical no culto e permitia que mulheres pregassem. Sua mãe encorajou a filha a cantar e tocar guitarra desde cedo, e Rosetta era, sem dúvida, um prodígio.

Tharpe, aos seis anos, juntou-se a sua mãe como artista regular num grupo evangélico viajante. Ela acompanhava sua mãe em performances que poderiam ser descritas como parte sermão, parte concerto gospel por todo o sul dos EUA.

Nos anos 1920, Irmã Rosetta e sua mãe se mudaram para Chicago e viajavam ocasionalmente para se apresentar em convenções de igrejas por todo o país. Como resultado, Tharpe desenvolveu uma fama musical considerável, destacando-se numa época em que mulheres negras guitarristas eram muito raras.

Em 1934, aos 19 anos, a Irmã se casou com um pastor da Igreja de Deus em Cristo, Thomas Thorpe. Apesar de o casamento ter durado pouco, ela decidiu incorporar uma versão do sobrenome dele ao seu nome artístico: e assim surgiu Irmã Rosetta Tharpe, nome que usou por toda sua carreira.

Em 1938, Tharpe se mudou para Nova York, onde assinou um contrato com a gravadora Decca Records. Naquele ano, ela gravou as primeiras músicas gospel da Decca: “Rock Me”, “That’s All”, “The Man and I” e “The Lonesome Road”. As quatro se tornaram hits imediatamente, tornando Tharpe a primeira cantora gospel comercialmente bem sucedida dos EUA. “That’s All” foi a primeira música em que Tharpe tocou a guitarra elétrica, e esta música iria influenciar futuros artistas como Chuck Berry e Elvis Presley.

Em 23 de dezembro desse mesmo ano, Rosetta se apresentou no Carnegie Hall, no show Spirituals to Swing de John Hammond, uma série de concertos bastante famosos na época. Sua apresentação foi controversa e revolucionária em muitos aspectos: cantar música gospel a um público laico, junto de artistas de blues e jazz, era extremamente incomum. Entre os religiosos conservadores, uma mulher se apresentar tocando guitarra era motivo de desaprovação. Mas a performance de Rosetta Tharpe chocou e impressionou o público, e ganhou ainda mais notoriedade apresentando-se regularmente com a lenda do jazz Cab Calloway, no Cotton Club, no bairro Harlem.

Em 1944, Rosetta gravou seu hit “Strange Things Happening Every Day”, junto com o artista de jazz Sammy Price, no piano. Este foi a primeira música gospel a alcançar a segunda posição na lista “race records” da Billboard, esta que no ano seguinte se tornou a lista de R&B. A música também foi citada como a precursora do rock and roll.

Tharpe continuou se apresentando em igrejas e clubes laicos. Um destaque foi sua performance que durou uma semana no Café Society, em Nova York, para um público misto racialmente. Com sua mistura de estilos musicais, a Irmã se tornou um dos únicos artistas gospels negros a ser convidados para gravar um V-Disc (“V” de “Vitória”), álbuns que eram feitos por diversos artistas da época, convidados pelo governo dos EUA, e enviados às tropas estadunidenses em combate para aumentar a moral e o otimismo.

A Irmã Rosetta Tharpe faleceu em 9 de outubro de 1973, aos 58 anos, na Pensilvânia, devido a uma acidente vascular cerebral.

Irmã Rosetta Tharpe em 1964. Foto: Internet.

Ela foi mais do que apenas popular na década de 1940: ela impactou profundamente a história da música estadunidense, sendo pioneira na técnica de guitarra que se tornaria o rock and roll que conhecemos, de Chuck Berry, Elvis Presley e Eric Clapton. Mas, acima de tudo, Tharpe era uma artista gospel que compartilhava sua espiritualidade com todos que a ouvissem.

Tharpe entrou no Hall da Fama do Rock’n’Roll em 17 de outubro de 2017 como uma das primeiras influências do gênero.

Fontes:

Biography Online

Encyclopaedia Britannica

Biography

Rock and Roll Hall of Fame

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