QUEER: a representatividade na cultura pop

Caroline Andreoli
AGEX
Published in
3 min readAug 6, 2018

Um dos convidados da 8ª edição da ComicCon RS para discutir sobre representatividade foi o publicitário Christian Gonzatti, que é Doutorando em Ciências da Comunicação e Mestre em Ciências da Comunicação na linha de pesquisa de Linguagens e Práticas Jornalísticas pela Unisinos. Com diversos artigos publicados sobre cultura pop, semiótica, cibercultura, estudos de gênero e sexualidade, Christian conversou com a AGEX sobre sua fala no painel “Representatividade, palavra de discórdia?”.

Qual a relevância de tratarmos de representatividade na cultura pop? Acho que isso é bem importante e falo pela minha experiência. Eu sempre fui fã de alguma coisa, quando era bem novinho, era muito fã de Power Rangers. Com 5/6 anos eu já tinha a compreensão que eu gostava de meninos e ali já percebia nos discursos sociais e midiáticos que gostar de menino era algo anormal, era errado, e então eu guardava para mim esse segredo. Com 12 anos eu me tornei fã de Harry Potter e toda a questão do Voldemort de querer anular as diferenças, de que só podem ser bruxos as pessoas de sangue puro e nisso eu via uma metáfora muito forte com o preconceito em relação a gays, lésbicas, pessoas trans, mulheres, pessoas negras, no geral essa anulação da diversidade. No primeiro semestre da graduação eu entrei para um grupo de pesquisa e a primeira leitura foi Cultura da Convergência, de Henry Jenkins, e aí eu pensei “meu deus, isso é pesquisa, isso também é ciência” e com isso me encantei. Tive mais motivação, pois articulei toda a minha trajetória de preconceitos que sofri por ser gay e não ter representatividade com a possibilidade da pesquisa científica.

Tu falaste sobre como jornalismo pop é relacionado com a representatividade, podes explicar esse conceito? Claro. Na dissertação, eu comecei a tentar entender que a cobertura da cultura pop que está sendo feita em portais como Papel pop. Popline e Omelete não se enquadra nos pressupostos do jornalismo cultural. Após essa análise, eu começo a trabalhar com as teorias do jornalismo cultural, que mostra um olhar muito crítico sobre esses produtos anglófilos estadunidenses de altíssima visibilidade, que valorizam a cultura local, a cultura popular que é muito importante, mas não é o que essas coberturas estavam fazendo. A partir disso eu proponho esse conceito de jornalismo de cultura pop para pensar nessa cobertura que é marcada por um gênero. Se tu fores olhar gênero por John Scott, por exemplo, tu vais entender ele a partir de relações de poder, ele está nas instituições também, ele está no jornalismo. Um trabalho bem importante para mim é o da Márcia Veiga, porque ela mostra que o masculino é o gênero do jornalismo hegemônico, do tradicional. Observei que esse jornalismo mais voltado a cultura é visto como feminino. Que o masculino é hard news, e essa coisa mais cultural é marcada como algo do feminino. E o pop, quando relacionado a música pop e celebridades, especificamente, já é coisa transviada. É coisa de mulher fã, escandalosa. O conceito traz esse aspecto do jornalismo tradicional como algo masculino, jornalismo cultural como algo feminino e esse jornalismo pop como algo bixa, transviada.

A representatividade está mudando a forma de produzir cultura pop em filmes, quadrinhos e afins? Eu acho que está mudando, mas tem muito a ser discutido, pois sempre vai haver conflito na cultura. Acho que para uma mudança efetiva e para vermos representatividade em todas as camadas — produção, direção, criação, etc — ainda vamos ter muito confronto, muita disputa. Principalmente porque a gente vê muitas iniciativas de uma política do ódio, de um fascismo, pois ao mesmo tempo que as redes sociais deram voz para as diferenças elas também deram voz para o ódio. Temos visto essa parte da população mais fascista em relação a esse tema, voltada em anular a diferença, uma ideia sem lógica, pois é justamente ao contrário, queremos representatividade e liberdade de expressão para ser o que somos.

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