Representatividade na Universidade: NEABI

Caroline Andreoli
AGEX
Published in
6 min readAug 30, 2018

Segundo dados obtidos pelo site G1 junto à Secretaria Estadual da Segurança Pública Geral do Brasil, entre 2016 e 2017, foram registrados um caso de injúria racial em instituições de ensino a cada cinco dias. Além disso, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou um dado que converge com a relevância de discutirmos esse tema. O percentual de estudantes, entre os 18 e os 24 anos de idade, em instituições de ensino superior do Brasil, que são negros (pretos e pardos) é de 12,8%, enquanto entre brancos na mesma faixa etária a porcentagem é de 26,5%. Estes números mostram que o acesso de negros ao ensino superior ainda é abaixo da média comparado a outros países e nos revelam também que o jovem negro que já está dentro de uma Universidade tem de buscar seu lugar a fim de se concretizar, ser reconhecido e espalhar sua cultura.

Na Universidade Luterana do Brasil do campus Canoas, desde 1998 há uma história de valorização dos negros e de sua cultura. O primeiro núcleo de extensão em história africana e afro-brasileira na instituição foi criado pelo professor Roberto Santos, do Curso de História. Depois de algum tempo, o percurso do núcleo se modificou, princialmente após a criação da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN) que tomou frente da coordenação desses espaços dentro das Universidades. Criado em 2014, o Neabi — Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas, assumiu o lugar da antiga entidade de 1998.

Vinculado às diretrizes curriculares nacionais, o Neabi possui um caráter institucional e multidisciplinar, aonde são exaltadas as relações étnico-raciais e a história da cultura afro-brasileira e indígena. Segundo o coordenador da unidade da Ulbra, Deivison Campos, o objetivo do núcleo é amplo: “O objetivo do núcleo não é só produzir pesquisa, não é concentrar a pesquisa mas sim articular iniciativas sobre este tema a fim de propagá-lo”, afirmou o também coordenador do curso de Jornalismo da Universidade.

O núcleo visa, além do que já citado anteriormente, divulgar e produzir conhecimento para situar os cidadãos quanto a pluralidade étnico-racial, com o intuito de garantir respeito aos direitos legais e valorização da identidade na democracia brasileira. Possui como propósito, também, a articulação entre instituições de ensino, governos, comunidade e movimentos sociais, visando a troca de tecnologias, de conhecimento e educacionais, como a realização de atividades de extensão e pesquisas conjuntas. Uma das atividades do núcleo para valorização da cultura foi o Slam da Ulbra promove Slam exaltando a cultura das ruas, realizado em maio deste ano.

Slammers presentes no 1º Slam do Neabi.

Segundo dados da ABPN, a região sul do Brasil conta com 36 unidades do Neabi, sendo 12 em Santa Catarina, 9 no Paraná e 15 no Rio Grande do Sul.

A Universidade possui uma história longa com essas temáticas. Antes do Neabi ser fundado, cerca de duas décadas atrás, criou-se um núcleo de extensão em história africana e afro-brasileira pelo professor Roberto Santos, do curso de História. Hoje em dia, o núcleo segue essas diretrizes. Coordenado por Deivison Campos, o núcleo possui dois estagiários: Marina Silveira, estudante de Jornalismo e Tiago Marques, estudante de História. A sede do NEABI Ulbra Canoas se localiza no corredor central do prédio 11.

A importância desse setor dentro da Universidade se dá ao mostrar para as pessoas que existe um lugar onde esses diferentes grupos possam ser representados e valorizados, exaltando que eles são tão importantes para a sociedade como qualquer outro grupo étnico social. Para Tiago Marques, estagiário do curso de História do núcleo, é dentro de locais como este que pode se ter uma ideia mais aprofundada do quanto a questão do racismo está presente na sociedade e as pessoas não enxergam, desde a luta da população negra a marginalização desse grupo. “As pessoas não enxergam, acham que é mimimi quando na verdade é algo que está cotidianamente na vida das pessoas. É por isso que é importante existir um núcleo assim dentro da Universidade, ela só ganha em ter um setor assim.”, afirmou o estudante.

Tiago na sala do NEABI.

O núcleo está de portas abertas para receber voluntários e admiradores da causa. Para mais informações sobre, basta comparecer a sala do Neabi ou entrar em contato através da página no Facebook.

Área de Atuação do Neabi Ulbra Canoas:

História, Cultura e Identidade no Brasil e na Diáspora.

Linhas de Pesquisa:

História, Patrimônio Cultural e Identidades.

Culturas Contemporâneas e Midiatização.

Programa Griot (documentação)

* Arqueologia Afro-Indígena;

* Arquivo bibliográfico e documental;

* Registro da Tradição Oral Afro-brasileira e Indígena.

Programa Uanda — Kya (formação e produção)

* Pesquisa e extensão Afro-indígena;

* Assessoria para docentes e discentes;

* Negrasgrafias; Palestras, cursos e afins sobre o negro e sua cultura

* Eventos relacionados à Semana da Consciência Negra.

História dos Núcleos de Estudo Afro-Brasileiros e Indígenas

A história de núcleos vinculados às instituições de ensino superior do Brasil, teve início em 1959, com a criação do Cento de Estudos Afro-Orientais (CEAO) na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Desde então, outras Universidades públicas e privadas passaram a criar órgãos correlatos, privilegiando a sigla NEAB.

A maior inserção de militantes e estudantes afrodescendentes nas IES possibilitou a aproximação desses profissionais no primeiro Congresso Brasileiro de Pesquisadores/as Negros/as (Copene) e a criação da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), em 2000. No decorrer dos anos, os NEABs passaram a incluir estudos indígenas denominando-se NEABIS (Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas). Ações providas dessas organizações vem impulsionando aaplicação das Leis Federais 10.639/2003 e 11.645/2008 que incluem as culturas afro-brasileiras e indígenas no ensino brasileiro.

Esses NEABIs produzem conhecimento de ensino, pesquisa e extensão sobre África, diáspora africana, afro-brasileiros e indígenas, além de manterem diálogos permanentes com Black Studies das Américas, África e outros continentes. A nível nacional, são mais de 120 Núcleos de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas: 36 na região sul, 31 no sudoeste, 24 no nordeste, 19 no centro-oeste e 12 no norte. Para se assemelharem no trabalho feito, todas as unidades devem seguir tais competências:

* Promover encontros de reflexão e capacitação de servidores para o conhecimento e valorização da história dos povos africanos, da cultura afro-brasileira e da cultura indígena, na constituição histórica e cultural do país;

* Promover a realização de atividades de ensino, pesquisa e extensão, relacionadas a temática;

* Propor ações que levem a conhecer o perfil da comunidade interna e externa dos campi nos aspectos étnico-raciais;

* Auxiliar na implementação das leis que estabelecem a cultura afro-brasileira e indígena como pontos de estudo e atividades no currículo escolar;

* Buscar a implementação de projetos de valorização e reconhecimento dos sujeitos negros e indígenas no contexto dos campi;

* Possibilitar o desenvolvimento de conteúdos curriculares, extracurriculares e pesquisas com abordagem multi e interdisciplinares sobre a temática de forma contínua;

* Colaborar em ações que levem ao aumento do acervo bibliográfico relacionado a educação plurimétrica nos campi;

* Organizar espaços de conhecimento, reconhecimento e interação com grupos étnico-raciais;

* Revisar documentos dos campi, sempre buscando a inserção e atualização dos mesmos no que compete as questões étnico-raciais;

* Propor e participar de eventos de outras instituições, como também de movimentos sociais que envolvam questões relacionadas a cultura afro-brasileira e indígena.

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