Sojourner Truth: a evangélica que trouxe sua fé para o movimento abolicionista

Rafaela Hermes
AGEX
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4 min readNov 22, 2018

Sojourner Truth (1797–1883), nascida Isabella Baumfree, foi uma escrava afro-americana que escapou para a liberdade e tornou-se uma das oradoras mais notáveis sobre direitos civis e abolição.

Quando foi comprada para o dono de escravo John Dumont, em Nova York, depois de ter passado por outros proprietários, Truth foi obrigada a casar-se com um escravo 20 anos mais velho que ela, por volta de 1815, com quem teve quatro filhos.

Nova York foi um dos primeiros estados a começar o término da escravização. O processo começou em 1799, mas só terminaria oficialmente em 1827. Truth tornou-se incansável por buscar a liberdade e, depois de Dumont ter negado uma oferta de conceder sua liberdade, em 1826, ela pegou sua filha pequena, Sophia, e deixou Dumont. Encontrou, então, um trabalho como criada doméstica com outra família.

Truth em um dos cartões que vendia para financiar suas viagens pelos EUA. Na frase: “Eu vendo a sombra para sustentar a substância”. Foto: Reprodução/Biography Online.

Truth foi a primeira mulher negra a ganhar um caso judicial contra um homem branco. Mesmo com o fim da escravidão em Nova York, ela descobriu que seu filho de cinco anos, Peter, foi vendido para o Alabama, onde a escravidão estava bastante solidificada. Com a ajuda de seus novos patrões, Truth levou John Dumont para o julgamento, afirmando que ele vendo seu filho ilegalmente. Ela ganhou o caso e seu filho foi trazido de volta.

Ela adotou o nome “Sojourner Truth” em 1843. Truth era muito religiosa, e o nome refletia essa devoção, sua nova liberdade e sua aceitação na religião metodista. Ela disse, em seu livro The Narrative of Sojourner Truth, publicado em 1850, que sua fé foi uma grande fonte de luz. Truth diz que recebeu um ‘chamado’ para viajar pelo país e falar sobre as realidades da escravidão e outras formas de injustiça. Sua fé foi importante para lhe dar convicção para lutar por justiça.

Sojourner também tornou-se ativa no apoio aos direitos das mulheres, tolerância religiosa, pacifismo e reforma prisional.

Em maio de 1851, Truth foi à Convenção dos Direitos das Mulheres de Ohio, onde deu seu famoso discurso extemporâneo, mais tarde conhecido como Ain’t I a Woman? (Não sou uma mulher?), que demandava direitos iguais para negros e mulheres. O discurso teve um grande impacto na audiência, que presenciaram seus relatos pessoais sobre a escravidão. Tanto foi o impacto que muitos membros da audiência registraram seu discurso, publicado anos mais tarde.

“Se a primeira mulher que Deus fez foi forte o bastante para virar o mundo de cabeça para baixo sozinho, todas estas mulheres juntas aqui devem ser capazes colocá-lo de cabeça para cima de novo. E agora que elas estão exigindo isso, é melhor que os homens as deixem fazer o que elas querem” — Sojourner Truth, 1851.

Entre 1850 e 1860, Truth realizou diversos discursos pelo estado, numa época em que falar em público tinha grande importância, sendo a maior fonte de informação, já que não havia a mídia moderna. O circuito de discursos era dominado por homens brancos, então a presença dessa mulher de 1.80m foi muito notável, falando com autenticidade sobre suas experiências como escrava.

Retrato de Sojourner Truth, por volta de 1860. Foto: Hulton Archive/Getty Images

Truth sofria preconceito em dobro, por ser mulher e negra. Por causa de sua voz grossa e poderosa, alguns achavam que ela era um homem. O público era hostil, mas Truth aprendeu a adaptar seus discursos e a lidar com essas pessoas.

Sojourner não apenas realizava discursos: ela também colocava a mão na massa. Em Washington, tentou forçar a dessegregação dos bondes viajando em vagões para brancos. Ela tentou votar em 1872, mas a mandaram embora da cabine de votação. Ela recrutou tropas negras e suprimentos para a União durante a Guerra Civil nos EUA. Depois da guerra, ela tentou encorajar o Congresso a dar terras para os escravos libertos no Oeste, afirmando que apenas assim eles poderiam se manter e ganhar um verdadeiro sentido de dignidade. Entretanto, seus esforços nunca persuadiram o governo realizar mudanças.

A Proclamação da Emancipação, em 1864, foi um grande marco para os direitos civis, e uma das poucas conquistas políticas que Truth viu se concretizarem em sua vida. Apenas 37 anos depois, houve uma emenda constitucional que permitia o voto das mulheres. Somente nos anos 1960 os negros ganharam esse direito.

Confira uma dramatização do discurso de Sojourner Truth, interpretado por Kerry Washington.

Fontes:

Biography Online

Encyclopaedia Britannica

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