A literatura como refúgio

Francisco Amorim
Reporteros
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4 min readNov 19, 2017
Concentração de conhecimento exposta nos varais da Feira do Livro. (Milena Braga)

(Por Isabela Moura, Milena Braga, Pedro Munhoz, William Correa, Willian Leppa)

A depressão vem sendo cada vez mais discutida entre os jovens, e o combate à mesma tem sido ainda mais procurado na atualidade, incluindo produções audiovisuais como a série “13 Reasons Why”, da Netflix. Sem saber muito por onde se basear, as pessoas costumam ir atrás de maneiras próprias, em uma tentativa de “amenizar” esse problema. E entre essas “soluções” estão os livros classificados de autoajuda, gênero muito discutido entre os profissionais da saúde quanto à eficácia no tratamento.

Para entender este problema, é necessário conhecer os efeitos que ele pode causar no organismo humano. Segundo a psicóloga Jamille Pantoja, os sintomas da depressão são diferentes em cada indivíduo. Em alguns casos pode haver alterações mais perceptíveis e intensas, enquanto em outros há poucas indicações do que realmente está ocorrendo. Porém, os sintomas principais valem para todos. Mesmo que em menor escala, a insônia ou hipersonia, falta de apetite ou compulsão alimentar, ansiedade, angústia, agressividade, sentimento de “vazio”, entre outros, são indícios de que a doença pode estar presente. “Será a frequência e intensidade destes sintomas, e a existência ou não de estímulo externo que irão indicar se de fato existe um diagnóstico de depressão, ou se são sintomas que tendem a serem superados antes do agravamento do caso”, completa a psicóloga.

Em uma primeira procura sobre o tema, jovens e adultos tendem a ir atrás de auxílios mais acessíveis, como é o exemplo dos livros de autoajuda. Esse gênero de livro é geralmente bastante procurado pelo público e segundo a lista divulgada pelo site PublishNews do ano de 2017, dos vinte exemplares mais vendidos, oito são de autoajuda, o que equivale a 40% do total.

Em julho deste ano a presidente do grupo Record, Sonia Jardim, concedeu entrevista a coluna Mercado Aberto da Folha de São Paulo, e falou sobre a recuperação do mercado editorial brasileiro após alguns anos de declínio. Na ocasião, Jardim ainda disse que o segmento de autoajuda se saiu melhor que os demais, pois em tempos de crise as pessoas precisam se sentir mais seguras e se recolocar no mercado. Esse tipo de literatura sai mais em conta que cursos em áreas específicas.

Na 63ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre essa grande procura foi observada. Com mais de cem bancas na Praça da Alfândega, muitas eram direcionadas a este segmento que está em crescimento. Pensando nisso, Nélio Tombini, psiquiatra, lançou seu primeiro livro no dia 2 de novembro intitulado “A Arte de Ser Infeliz”. Ele adianta que sua obra não pode ser considerada de autoajuda, pois oferece ideais para as pessoas pensarem e refletirem através do imaginário e a partir disso entenderem o que acontece consigo mesmos.

Falando no gênero de autoajuda, ele também diz que as pessoas estão sempre atrás de caminhos, de preferência prontos. Acreditam que o livro irá mostrar isso para elas, quando na verdade, é na prática que se resolve isso. Ele prossegue, “eu acho que os livros de autoajuda não irão ajudar, porque é um tipo de conselho, por recebermos de todos os lados. Essa, é a minha crítica ao livro de autoajuda. Eu acho que ele não é para tratar depressão, é para oferecer possibilidades e caminhos que as pessoas devem seguir. Não é para tratar gente doente, é para gente saudável. Gente doente precisa ter um olhar de um profissional da área da saúde. Um psiquiatra, um médico, um psicólogo, acho que isso é importante”.

Para Jamille Pantoja, esse estilo literário pode servir como excelente ferramenta no auxílio da prevenção e do tratamento da depressão, mas não são unanimidade e nunca devem substituir os tratamentos psicológico e psiquiátrico. “A literatura, tal qual a meditação e outras práticas, podem induzir ao relaxamento e reduzir a ansiedade. Esses fatores externos podem contribuir para a mudança interna que a terapia proporciona”, acrescenta a psicóloga. Seguindo a mesma linha de raciocínio, Nélio Tombini diz não considerar esse tipo de material prejudicial. “Eu não sou muito adepto aos livros de autoajuda, não leio e nem escrevo, mas acho que mal não faria”.

A depressão pode ser uma doença silenciosa e extremamente prejudicial à saúde humana. Os livros de autoajuda sempre rendem diversos debates quanto à sua importância e credibilidade. Sabe-se que eles podem ajudar com esclarecimentos, até mesmo em uma pequena parte na prevenção, mas o recomendado sempre é a procura de um profissional na área, seja um psicólogo ou um psiquiatra. O mais importante nesses casos é a busca por ajuda.

Juntamente com a depressão, outro grande problema de saúde pública é o suicídio. Segundo dados do Ministério Público, cerca de 4 pessoas tentam tirar a própria vida por hora no Brasil, e uma delas consegue de fato. Com intuito de tentar oferecer suporte à essas pessoas, está o Centro de Valorização da Vida (CVV). A instituição sem fins lucrativos e de serviço voluntário disponibiliza durante as 24 horas do dia linhas telefônicas gratuitas, para conversas a fim de proporcionar apoio emocional a quem esteja precisando, sob total sigilo.

Por mais que a depressão seja uma doença que atinge uma pessoa a cada 45 minutos, para a sociedade, falar sobre saúde mental ainda é visto como tabu. Quem sofre, muitas vezes tem receio de revelar e procurar ajuda. Tombini ressalta, “se uma pessoa está em uma roda de amigos e diz estar em tratamento para outra doença, como diabetes, eles tratam normalmente. Agora se falar que está tomando remédio para depressão, eles dizem que é coisa de gente desqualificada”.

Esse suporte é muito importante para quem sofre com esse mal, confira as formas de contato possíveis com a CVV:

Para ligações: 141;

Para o chat: www.cvv.org.br/chat

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Francisco Amorim
Reporteros

Jornalista, mestre e doutor em Sociologia. Professor de Jornalismo. Pesquisador nos grupos Violência e Cidadania (UFRGS) e Jornalismo Digital (UFRGS).