Com a feira do livro, praça da alfândega ganha mais segurança

Francisco Amorim
Reporteros
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4 min readNov 19, 2017
Feira do Livro contou com reforço no policiamento. (Andréia Rodriguez)

(Por Aline Marques e Andréia Rodriguez e Matheus Dias)

Durante oito dias a equipe de reportagens coletou informações sobre a segurança na 63ª Feira do Livro de Porto Alegre. O tradicional evento teve início no dia 1ª de novembro, e desde o dia 28 de outubro dados sobre a segurança local foram reunidos. A Feira acontece na praça da Alfândega no Centro Histórico da Capital. O local é um conhecido ponto de tráfico de drogas.

O evento acontece até o dia 19 de novembro, e durante os últimos 4 anos a segurança é feita pelo 9º batalhão da Brigada Militar sob o comando do Tenente Coronel, Otto Eduardo Amorim. Neste ano a organização de segurança do evento conta, também, com uma equipe privada contratada pela prefeitura para fazer o patrulhamento.

Conforme observado pela equipe, entre os dias 28 e 31 de outubro o policiamento local era feito apenas pela empresa terceirizada. Ao todo foram contabilizados nove homens andando pela Praça entre os stands que ainda estavam sendo montados. Segundo o engenheiro responsável pela infraestrutura da Feira do Livro, Eduardo Bergallo, a segurança deste ano é feita da mesma forma que nos anos anteriores, a equipe patrulha os corredores durante o preparo e funcionamento da Feira e logo após o início do evento eles recebem o apoio da Brigada Militar(BM) que fica em uma espécie de “Quartel General” (QG) disponibilizado pelos organizadores do evento. Ainda de acordo com Bergallo, os policias fazem o patrulhamento dos corredores e acompanham através de câmeras no QG tudo o que ocorre na feira.

Durante os dias seguintes ao início da feira, entre 1º e 3 de novembro, a equipe registrou dezesseis policiais da Brigada Militar e mais doze da empresa contratada. O dia de maior movimentação foi o feriado de Finados no dia 2. Conforme entrevista fornecida pelo Major Medeiros do 9º Batalhão, o dia mais movimentado apresentou alguns registros de infrações, sendo o mais comum o roubo de livros.

A movimentação mais intensa ocorre principalmente entre as 13h e 16h, em alguns momentos chegam a ficar intransitáveis os corredores e, segundo o Major, é quando os crimes acontecem. “A gente sempre pede para que os expositores tomem cuidado e não deixem os stands sozinhos, mas infelizmente ainda assim os roubos acontecem”, afirmou.

A segurança do local chega inclusive a influenciar nas vendas, sendo que alguns visitantes deixam de comprar livros por medo de carregar dinheiro. “A gente gosta de vir, mas vem com medo mesmo sabendo que tem policiamento, já vi gente ser assaltada e não ter a quem recorrer. Isso há dois anos atrás”, afirmou Luiz Fernando Maciel que estava visitando a feira acompanhado do filho, de sete anos.

Um fato curioso ocorreu no dia 8 de novembro, ao observar a movimentação na feira, a equipe pode perceber que o número efetivo de policias diminui durante a chuva que aconteceu próximo das 5h da tarde. Dos dezesseis policiais contabilizados durante os dias de sol, apenas cinco foram avistados durante a chuva. Em função dos fenômenos climáticos o público diminuiu, mas os clientes que continuaram fazendo compras buscaram abrigo em baixo das tendas, causando aglomeração nos corredores.

O testemunho de quem frequenta a região

A Praça da Alfândega é um dos pontos mais movimentados do centro de Porto Alegre. Porém, ao longo dos anos, o local se tornou um lugar vulnerável por conta da falta de segurança e descaso do governo. O Estado vem tentando estabilizar a segurança com projetos de implantação de câmeras, cercas de proteção ao redor da praça e aplicação de guardas municipais em toda a extensão. Mas a maioria desses projetos, na hora de pôr em prática apresentaram falhas, com isso a população de moradores e comerciantes ficam à mercê da insegurança. Mesmo com a vulnerabilidade da praça moradores não deixam de ter seus momentos de lazer e diversão, jogam xadrez e botões. Os comerciantes, também, vão trabalhar todos os dias apesar da falta de segurança. No ano passado a prefeitura de Porto Alegre aumentou o policiamento e instalou oito novas câmeras para controlar a segurança e tentar garantir o bem-estar da população que caminha e visita a praça.

A técnica de enfermagem e acompanhante de idosos, Marina Gomes de 27 anos, relata que já presenciou diversas vezes rapazes menores de idade fumando maconha e cometendo algum tipo de infração. Apenas uma vez presenciou a polícia os repreendendo ao longo dos seis meses que frequenta o local para ir à casa do casal de idosos que mora no entorno. “Meu trabalho começa às sete e meia da manhã. Quando passo por ali, quase não vejo policiamento. Todos os dias que passo por ali fico com medo de ser assaltada.”, afirma Marina. Ela disse que nunca foi assaltada ou viu algum assalto, mas já presenciou e sofre constante assédio sexual por alguns homens que ficam pela praça e relata que fica muito apreensiva ao passar por ali.

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Francisco Amorim
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Jornalista, mestre e doutor em Sociologia. Professor de Jornalismo. Pesquisador nos grupos Violência e Cidadania (UFRGS) e Jornalismo Digital (UFRGS).