Jovens empresários apresentam inovações para reaproveitar resíduos

Roberto V. Belmonte
Reporteros
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6 min readJun 14, 2018
Heitor Campana e Nikolas Winck, da Bio8, com Natália Pietzsch, da Re-ciclo, durante aula inaugural da Escola de Negócios do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter) realizada na noite de 11 de abril no Auditório Master do campus Zona Sul — Crédito: Brunna Graco

A Escola de Negócios da UniRitter convidou três empreendedores para ministrar a aula inaugural do primeiro semestre de 2018. Confira as histórias de sucesso da Bio8 e da Re-ciclo.

Por Camilla Swider, Gabriele Torbis, Juliana de Faria, Rodrigo Paré e Willian Cardoso

Colaborar com o desenvolvimento sustentável de forma lucrativa para as empresas, transformando lixo em dinheiro. Essa foi a ideia que inspirou os engenheiros ambientais de São Leopoldo (RS) Heitor Campana e Nikolas Bitello Winck a participar da criação da startup Bio8 no início de 2017. “Usamos técnicas que já existem e aplicamos para desenvolver uma nova linha de produção”, informa Campana.

A Bio8 é uma startup que nasceu como cooperativa de trabalho, formada por oito sócios, por isso o oito no nome. Segundo Campana, os resultados apareceram no terceiro mês, devido ao interesse das empresas pelas inovações propostas. Ela já conquistou parceiros e atualmente também oferece serviços de suporte, assistência técnica, orientação para projetos e desenvolvimento de produtos.

O maquinário utilizado pela Bio8 chama-se Alawik, um equipamento de operação simples e barato que mistura polímeros plásticos com outros resíduos sólidos, possibilitando a manufatura de diferentes tipos de peças. O sistema de prensagem dispensa o uso de injetoras, tradicional equipamento para produzir peças plásticas, reduzindo assim os custos e facilitando a confecção dos produtos.

A tecnologia desenvolvida pela cooperativa de trabalho já foi apresentada em evento sobre negócios de baixo carbono realizado na Comunidade Europeia. Com clientes no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul, a Bio8 foi destaque de capa da edição de março/abril da Conselho em Revista, publicação do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul (CREA-RS).

Estudantes da Escola de Negócios da UniRitter durante Aula Inaugural do primeiro semestre de 2018 — Crédito: Brunna Graco

Modelos de negócio da Bio8

A tecnologia da cooperativa trabalha principalmente com reciclagem de polímeros (plásticos). É possível formular produtos com uma base de, no mínimo, 30% de plásticos. O restante pode ser incorporado na “carga”, que são resíduos não plásticos, como casca de arroz, serragem, orgânicos com baixa umidade, lodo de estação de tratamento de água, e demais resíduos classe II (não perigosos).

De acordo com Nikolas Winck, caso o cliente tenha uma demanda maior de plásticos, pode-se formular produtos com melhor acabamento, pois a matéria prima tem maior qualidade. Já os clientes que possuem demanda maior de resíduos não plásticos, o ideal é a formulação de produtos mais rústicos. As linhas de negócio variam de acordo com a necessidade de cada cliente e o tipo de resíduo gerado.

Re-Ciclo: coleta, compostagem e educação ambiental

Natália Pietzsch, fundadora da empresa Re-ciclo Compostagem Urbana — Crédito: Brunna Graco

Por Alexia Szortyka, Brenda Campos, Carla Franco Oliveira, Maria D’ Avila e Rafaela Martins.

O aterro sanitário de Minas do Leão, para onde vai o lixo de Porto Alegre e de outros 130 municípios, tem vida útil de 23 anos, mas se fosse utilizado apenas para os rejeitos, poderia ter uma durabilidade de até 200 anos. A constatação é da engenheira ambiental Natália Pietzsch, fundadora da empresa Re-ciclo Compostagem Urbana.

Em torno de 1500 toneladas de lixo são recolhidos todos os dias em Porto Alegre. Apenas cerca de 3% dos resíduos gerados em casa são reciclados. São necessárias 100 viagens de ida e de volta para transportar os resíduos até o aterro sanitário. “Isso equivale a cada dois dias uma volta ao mundo”, diz Natália.

O processo de compostagem da Re-ciclo acontece com os resíduos recolhidos direto nas residências ou estabelecimentos com uma bicicleta. Eles recolhem o material e depois levam para fazer adubo e usá-lo em hortas e jardins. O projeto atua em Porto Alegre, cidade que gasta mais com resíduos do que com a segurança.

O orçamento municipal de Porto Alegre para 2018 prevê R$ 880 milhões para saneamento (água, esgoto e resíduo) e R$62 milhões para a segurança, R$49 milhões para cultura e R$17 milhões para transporte. As informações foram divulgadas pelo site da Câmara Municipal de Porto Alegre.

Cursos

Segundo Natália Pietzsch, sua empresa também atua fazendo educação ambiental. A Re-ciclo disponibiliza cursos que tem como o objetivo sensibilizar e capacitar pessoas para que possam fazer a compostagem em casa, o que possibilita um maior aproveitamento dos alimentos e diminui a produção de resíduos.

Além da compostagem, o curso difunde a proposta da agricultura urbana e aproveitamento integral de alimentos. O valor da inscrição fica em torno de R$100,00. Os cursos são voltados para a população em geral e há vagas disponíveis para pessoas de baixa renda e em situação de vulnerabilidade.

Cerca de 5% das mensalidades de cada empresa que contrata a Re-ciclo vão para um fundo social, o que possibilita a existência das vagas sociais no curso. O ato agrega valor as empresas que são apoiadoras das ações socioambientais, e faz com que elas tenham uma responsabilidade maior.

Recentemente foi feito um edital onde foram selecionadas três instituições que receberam gratuitamente capacitação e mutirão para construção de hortas e compostagem. Entre os pré-requisitos para a inscrição, a instituição não deveria ter nenhum fim lucrativo.

Divulgando a sustentabilidade

Por Eduardo Santana, Eric Goudinho, Guilherme Maia, João Cammardelli, Lucas Gabech.

“Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU compreendidos e colocados em prática são revolucionários”. A opinião é da sócia da MVM Technologies, Julia Caon Froeder, especialista em gestão empresarial e empreendedora na Franca Sustentabilidade, que não pode comparecer à aula inaugural na UniRitter mas concedeu entrevista à revista Reporteros do curso de Jornalismo.

Julia Caon — Crédito: Arquivo Pessoal

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável foram estabelecidos em 2015 pela Organização das Nações Unidas visando erradicar a pobreza e combater a desigualdade socioeconômica. A aplicação dos ODS pode ser um importante passo para uma melhora considerável na atual situação do Brasil, avalia Julia Caon, que também participa da Virada Sustentável.

“A Virada Sustentável de Porto Alegre tem grande papel na conscientização da comunidade sobre a importância da sustentabilidade para o nosso planeta, afinal as pessoas não têm noção do impacto negativo de um produto não sustentável nas nossas vidas”, assegura Julia Caon. A edição deste ano ocorreu na capital gaúcha nos dias 6,7 e 8 de abril.

Plano de ação global

Em setembro de 2015 mais de 150 líderes mundiais se reuniram na sede da ONU, em Nova York, e estabeleceram um plano de ação global responsável por promover uma vida digna para todos cidadãos do planeta, erradicar a pobreza em todo o mundo e qualificar a gestão dos recursos naturais.

Este plano de ação consiste na adoção de uma nova agenda de desenvolvimento sustentável, que deve ser implementada por todos os países do mundo nos próximos 15 anos. A chamada Agenda 2030 é formada pelos 17 ODS, que, segundo Julia Caon, facilitam a compreensão do que é sustentabilidade na prática.

Texto produzido na disciplina de Redação Jornalística, do segundo semestre do curso de Jornalismo do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter). Supervisão: Prof. Roberto Villar Belmonte.

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Roberto V. Belmonte
Reporteros

Jornalista interessado em ensino do Jornalismo, ambiente e economia.