O Jornalismo segundo Tulio Milman

Roberto V. Belmonte
Reporteros
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21 min readMay 21, 2019
Tulio Milman na redação integrada do portal GaúchaZH na sede do Grupo RBS em Porto Alegre (RS) — Crédito: Junior Portela

Quando Tulio Milman chegou no campus Zona Sul da UniRitter antes do horário combinado para começar o ZH na Faculdade, foi cercado por estudantes da disciplina de Jornalismo Digital. Divididos em cinco times, eles tinham a missão jornalística de cobrir a visita do editor de opinião do jornal Zero Hora por diversos ângulos: a palestra, a conversa, o portal GaúchaZH, o perfil do jornalista e o ambiental do evento. Confira o resultado.

O Centro Universitário Ritter dos Reis recebeu no dia 8 de maio, no campus Zona Sul, o jornalista Tulio Milman, repórter e colunista de GaúchaZH. A visita fez parte do evento ZH na Faculdade, parceria do Grupo RBS com os cursos de jornalismo do Rio Grande do Sul. Em sua segunda vez na UniRitter, a primeira foi na edição de 2016, o jornalista falou sobre os desafios do Jornalismo e respondeu perguntas dos estudantes.

Entre relatos de histórias da sua carreira, Tulio Milman explicou o funcionamento da redação integrada de GaúchaZH. Fez questão de garantir que não existe crise na comunicação já que “nunca se gastou tanto dinheiro como hoje na comunicação”. Para o colunista, o que mudou foi a forma de comunicar, por causa da descentralização da informação. Apesar das mudanças, assegura, o profissional “nunca foi tão importante para a sociedade como é hoje”, já que é preciso que haja mediação.

Tulio Milman ressaltou a importância das mudanças acontecidas na comunicação e citou as próprias novidades criadas pelo grupo RBS, que integrou as redações dos jornais Zero Hora e Diário Gaúcho com a da Rádio Gaúcha, algo que, segundo ele, deu certo. Milman destacou ainda a necessidade de se reinventar e ressaltou que mudanças são sempre necessárias para acompanhar a evolução da sociedade.

O jornal impresso não é mais o principal meio de informação da maioria das pessoas. No Zero Hora ocorreram mudanças relacionadas às assinaturas do jornal. Mesmo o Grupo RBS aumentando o valor da assinatura — forçando, assim, uma migração para o meio digital — , há resistência por parte dos leitores, que seguem assinando a versão impressa.

O que pesa a favor da migração para o digital são os recursos disponibilizados. Milman ressalta a importância de um conteúdo de maior qualidade, já que na internet existem muitas outras formas de o público se informar. “Áudio, vídeo, colunistas com análise, tu tens que ter conteúdo de qualidade. Se antes a publicidade que segurava, hoje é o teu leitor, temos que ser bons”, afirmou.

“Imaginem uma festa open bar sem porteiro”, disse Tulio Milman ao falar sobre redes sociais, em especial o Facebook. O jornalista comentou que esses espaços digitais são como bolhas que limitam a percepção sobre a realidade e, dessa maneira, as pessoas estão desaprendendo a viver com o diferente, vivendo apenas sua realidade e achando que elas têm o tamanho do mundo.

“Se a gente acredita em democracia, precisa da imprensa”, afirmou Milman ao defender o papel de mediador do jornalista. Mesmo que a revolução digital, que começou com a invenção da internet em 1969 nos Estados Unidos e que teve uma explosão a partir dos anos 1990, permita que as pessoas expressem suas ideias para bilhões através das redes sociais, o jornalista criticou a maneira desregrada que os usuários da internet usam a rede e disse que a mediação continua sendo necessária: “sem isso é o caos”.

Após mais de 26 anos de profissão e muitas experiências vividas, Tulio se resume como um jornalista curioso, multiplataforma e que sempre buscou fazer de tudo e aprender com aquilo que contava ao seu público. Confira a seguir a entrevista coletiva concedida aos estudantes de jornalismo do Centro Universitário Ritter dos Reis em Porto Alegre (RS).

ENTREVISTA COLETIVA

“O jornalista é multimídia por definição”

O ZH na Faculdade com Tulio Milman no campus Zona Sul da UniRitter foi realizado dia 8 de maio de 2019 em clima de roda de conversa — Crédito: Renata Dorneles

Uma aula de jornalismo multimídia. É assim que pode ser definida a conversa com Tulio Milman, editor de Opinião do jornal Zero Hora, realizada no auditório do prédio D do Campus Zona Sul da UniRitter na noite de quarta-feira (8/5). Tulio falou sobre sua carreira, sobre a integração das redações que gerou o GaúchaZH e sobre a ética dos jornalistas nas redes sociais.

O bate papo fez parte do ZH na Faculdade, projeto em que o veículo percorre os cursos de jornalismo no Rio Grande do Sul a fim de ouvir as dúvidas e pretensões dos futuros colegas. Na entrevista a seguir, Tulio Milman fala sobre a disseminação de informações falsas, a integração das redações, questões do mercado jornalístico gaúcho e nacional.

A convergência de mídias é uma constante dentro do jornalismo, como demonstra a integração das redações da Rádio Gaúcha e do jornal Zero Hora. Como tu analisas o surgimento do jornalista multimídia?

Tulio Milman: O jornalista é multimídia por definição. Vocês não são jornalistas de rádio ou TV, vocês são especialistas em informação. A informação não se trata somente da forma como tu a distribui, mas da forma como tu trabalhas com ela. As tuas questões de técnicas de linguagem, isso aprende-se. Não é isso o mais importante e sim reconhecer a boa história, o conteúdo. E é muito mais simples do que parece. Nunca acreditei em jornalista de rádio ou TV, jornalista é jornalista, é o cara que trabalha com informação, certo? Editoria de opinião, que é uma editoria mais caretona, pesada e séria, a gente fez uma virada digital total. Hoje a gente produz pensando no digital, a coluna é feita no digital e o impresso é o resultado do esforço do dia inteiro. Se souber lidar com informação e tiver vontade de aprender olhando para a frente, beleza. Senão, fica complicado.

O que melhorou com o processo de integração das redações?

Tulio Milman: O que seria melhoria? Quantidade, qualidade? Eu acho que hoje o processo de integração é muito melhor do que era antes, é mais aberto e democrático, ele gera algumas distorções que temos que corrigir, mas eu acredito nessa evolução do GaúchaZH. Melhorou a qualidade e a quantidade do fluxo da informação e a relação com nossos públicos. Qual o sentido em ter três carros saindo do mesmo prédio, um para o Diário Gaúcho, outro para a Zero Hora e outro para a Rádio Gaúcha? Não tem mais necessidade nem sentido.

Existe algum plano para acabar com a versão impressa do jornal Zero Hora?

Tulio Milman: Não tem plano para isso, mas é um dos cenários. Quando olhamos para a frente um dos cenários é o dia em que a conta do papel não vai mais fechar, aí a empresa tem que ter coragem de tomar uma decisão. Mas não existe desejo de matar o jornal impresso.

Como vocês estão lidando internamente com a convivência na mesma redação do ClicRBS e do portal GaúchaZH?

Tulio Milman: O ClicRBS foi uma das primeiras experiências que se fez de portal dentro da RBS, lá na década de 1990. Quem criou esse nome foi a Dez Propaganda. Muita gente tem no seu navegador o Clic como página de abertura, especialmente o pessoal mais antigo. Já pensamos em matar o Clic, mas ele ainda está vivo e sendo visto. Eu, por exemplo, quando vou ler o portal ainda digito Zero Hora, e aí me joga para o portal GaúchaZH. O Clic continua sendo muito digitado e é uma marca que a gente pisou em cima, tentou matar, mas não morreu. Atualmente ele nada mais é do que uma porta de entrada e que tem uma capa e uma ótica de funcionamento que é independente do GaúchaZH.

Nessa era de mídias independentes, por que será que ainda não temos espaços nos veículos jornalísticos comerciais para declarações sem sermos rotulados como X ou Y?

Tulio Milman: O que tu achas que aconteceria se amanhã determinado jornal, um inexistente, dissesse assim: “Eu sou gremista e apoio o Bolsonaro”? Tu cancelarias tua assinatura, certo? Então eu vou simplificar a resposta. Mercado, é uma questão de mercado, a gente mora em um estado que tem uma situação econômica complexa, inclusive com fuga de anunciantes. Estamos lidando com mudança de liderança econômica constantemente. Novos nomes estão surgindo, novas pessoas, empresas tradicionais estão indo embora. Então eu não posso, aqui no Rio Grande do Sul, segmentar, pois se eu fizer isso eu não sustento o meu negócio; se eu brigar com metade do meu público, eu terei que fechar. Lá em São Paulo é um pouco diferente, já tem a Folha e Estadão que possuem um mercado muito maior, pois metade da cidade de São Paulo é três vezes o tamanho de Porto Alegre, e isso também em leitores e anunciantes. A gente não pode se dar ao luxo, infelizmente. Aqui os acionistas acreditam que o jornal tem que ser plural, tem que externar todas as posições. Em outros países, com outro tipo de cultura, os jornais são posicionados, mas eu vejo muito pela questão do tamanho do mercado e não só pelo fator dinheiro, mas também pela repercussão, número de leitores. Ainda não estamos no ponto.

Estamos percebendo que os veículos estão escolhendo o que vão querer passar, mas também têm se baseado muito pelo interesse do público e não indo atrás de outras notícias de interesse público com mais valor notícia. De que forma tu achas que a gente pode continuar fazendo jornalismo?

Tulio Milman: Eu acredito que a gente tenha que ter critério e esse critério tem que estar claro para o público, do motivo de eu optar por uma coisa e não por outra, o que é importante para mim e o que não é e quais os assuntos sobre os quais eu trato e quais eu não trato e por que eu não trato esses assuntos. Essa questão da uma oportunidade para falar sobre um processo. Por que assim a gente tem que olhar sempre as coisas como uma perspectiva. Hoje, por exemplo, a gente tem uma situação absolutamente maluca dentro da redação, a gente tem o dinossauro (impresso) e também o homem do futuro (digital) no mesmo ambiente, na mesma equipe e isso uma hora vai acabar, tomar outro rumo. Quando o bicho pega a gente dá uma forçadinha. O assinante tem um perfil diferente de leitura, mais analítico. O cara acomodado que entra para ver o BBB, a gente ama esse cara, mas ele não paga a conta no fim do mês. Cada post que eu coloco eu sei se ele está me lendo no desktop, no tablet, eu sei quanto tempo ele fica lendo cada postagem, isso está sendo monitorado 24 horas por dia. O nosso propósito, desde que a empresa foi criada, é fazer comunicação e entretenimento de qualidade que conecta os gaúchos. Esse é o motivo de a RBS existir.

Claiton Selistre, ex-funcionário ligado à gestão do grupo, informou semestre passado no portal Making Off que a RBS do Rio Grande do Sul também estaria sendo vendida, assim como ocorreu em Santa Catarina. Como isso repercutiu dentro da redação?

Tulio Milman: Já faz alguns anos, uns cinco ou seis, antes mesmo de vender a operação de Santa Catarina, que essa história de venda se repete. Internamente esse é um assunto que não existe, pelo menos onde eu participo dentro da empresa. Os donos da empresa afirmam que isso não aconteceu, tanto que já foram dadas umas sete datas diferentes. Isso acabou virando, para alguns setores, uma bandeira para cutucar, tu entendes? É complicado, gera instabilidade, mas pelo ritmo que eu vejo internamente de planejamento, de transformações, o olhar para o futuro, essa conversa não existe. É a informação que eu tenho e é com ela que eu trabalho.

Fala-se muito sobre o impresso acabar. A publicidade não paga mais a conta? O pessoal hoje se informa muito pelo Facebook, se fala muito que não quer informar a classe mais baixa, não quer que a informação chegue nela e por isso a disseminação de fake news está tão alta. O que tu achas?

Tulio Milman: O que pagava 30% da conta eram os classificados da Zero Hora. A OLX e o Mercado Livre chegaram e trouxeram um dos principais problemas das empresas de comunicação. Quebrou 25% do faturamento da empresa. Eu entendo o que tu queres dizer, só que eu te juro que não é por aí. Ao contrário, a conta é cara, tu queres informação, tu queres reportagem investigativa e isso custa. Só de pessoas são 300 salários de jornalistas, fora toda a estrutura da empresa. É uma conta cara. Nos Estados Unidos tem jornais com muito mais dinheiro do que aqui, o milionário tira do bolso, pois acham que a informação é importante para comunidade. Então não é isso. É uma decisão da sociedade e se a sociedade não quer pagar vai acabar. O sonho do jornal é ser lido por todo mundo e o nosso mercado é um mercado pequeno. Tu não tens como não cobrar, e quando tu começas a cobrar barato demais, tu estás dizendo que teu produto é ruim. Não estou dizendo que tem que cobrar 400 reais, mas tem um preço.

O Lula durante a entrevista concedida à Folha de S. Paulo na prisão disse que um dos arrependimentos dele foi não ter feito a regulamentação da mídia; já o Bolsonaro diz que não vai fazer a regulamentação, mas apoia veículos de comunicação alternativos. A regulamentação da mídia é importante?

Tulio Milman: A mídia já é regulamentada e quando se fala em regulamentação de mídia está embutido por trás disso um controle e a mídia é controlada pelos seus leitores, pelo seu público. A mídia não precisa disso, porque se as pessoas veem, assistem e consomem, é porque tem alguma coisa ali que conversa com ela. O dia que não tiver mais isso acabou. Então eu acredito que a mídia por definição ela tem que ter pressupostos, ter CNPJ, cara, nome, sobrenome e endereço. A mídia está submetida a todas as leis que os cidadãos comuns estão submetidos. Eu se caluniar ou injuriar, vou responder criminalmente, então o que significa a regulamentação da mídia? É a mídia só fazer aquilo que eu acho que ela deve fazer? Não. A mídia tem que agir com total liberdade, mas não significa que pode agir com irresponsabilidade. Eu tenho o direito de errar, só que eu terei consequências para o meu erro e aí é que está a diferença entre a censura, a ditadura e a liberdade. Na liberdade a punição vem depois.

Podes falar sobre a Operação Zelotes, onde o Grupo RBS é investigado, por ser beneficiado em julgamentos no Conselho de Administração de Recursos Fiscais (CARF), inclusive com um perdão de uma dívida de mais de meio bilhão de reais?

Tulio Milman: Sobre a Operação Zelotes, a própria RBS vem divulgando com naturalidade essa questão, existe uma investigação e a empresa nunca deixou de noticiá-la. Até onde eu sei está colaborando com a investigação inclusive. Agora não existe denuncia nem condenação, se um dia houver denúncia e condenação talvez a gente possa falar com mais propriedade sobre o assunto. Por enquanto o que tem é uma investigação.

“O jornalismo é o departamento de combate às informações falsas”

Com as redes sociais, a disseminação de fake news está muito frequente. No ano passado, o presidente Bolsonaro foi eleito com extrema ajuda dessas informações falsas. O GaúchaZH participou do Projeto Comprova, com mais 23 veículos em todo o país. A RBS tem um departamento especializado em checagem?

Tulio Milman: Bem, esse é o trabalho do jornalista, essa é a minha visão. Cada profissional do jornalismo que está na RBS é um cara que está lá para produzir notícia verdadeira, é o cara que é uma vacina contra a fake News. Essa é a essência do jornalista. É sempre subjetivo, a foto que vou escolher, a imagem que vou escolher, o texto, porque é feito por alguém, então eu acho que não precisa ter um departamento especializado para combater informações falsas, o jornalismo é o departamento de combate. Nosso negócio é produzir informação, analisar a informação, processar e repito, com nome, sobrenome, CPF e CNPJ, é isso que dá relevância ao que a gente faz. A empresa tem um manual de ética que estabelece direitinho quais são os limites do jornalista, o que ele pode fazer e o que não pode. Quem vai trabalhar lá com a gente precisa estar identificado com aquilo ali, com aqueles valores. Eu sempre digo, se tu vais trabalhar em uma empresa, tu tens que ver se te identifica com a missão dela na terra, se tu não te identificas com isso, nem vai. O que a gente faz: mecanismo de checagens, ele trabalha com documentos, fontes, antes de publicar eu ligo, checo em uma segunda fonte, pesquiso, peço para o cara me mandar o telefone para bater um papo.

Vocês têm cuidado ou alguma privação nas redes sociais por conta da profissão?

Tulio Milman: A empresa não pode proibir ninguém de se manifestar. Na minha condição de jornalista, sendo essa a profissão que escolhi, eu vou me preocupar com a minha exposição, eu vou saber que tem determinadas coisas que eu não posso e não vou dizer, a empresa inclusive recomenda. Eu sou um jornalista de opinião, aí é uma outra diferença, eu trabalho com opinião, eu sou pago para dar opinião, o que é diferente de dar informação, mas mesmo assim eu sou cuidadoso.

Como tu lidas com os críticos e com os comentários nas redes sociais e no portal GaúchaZH?

Tulio Milman: Sobre os comentários, eu comecei uma campanha interna na RBS para fechar ou mediar comentários. Eu não consigo entender. Imagina na universidade, vocês deixam aberto os comentários e comentam que quem trabalha ali é corrupto, então tu expõe tua marca a um bombardeio anônimo, onde qualquer um entra e fala o que quer. Nesse momento tu desqualifica teu produto e tu não promove debate. Isso é diferente de censura. Dá para restringir os comentários para assinantes. Quer me xingar, paga. Outra coisa é identificar quem está te criticando, eu procuro responder, mas o problema aqui no Rio Grande do Sul, e a gente tem muito disso, é que a gente é bravateiro. Ao invés de o cara que me responde dizer que o meu argumento está errado, ele me desqualifica dizendo “tu estás a serviço dos comunistas”, aí não tem conversa. Se o cara me diz que eu estou errado por determinado motivo, aí tem conversa.

Tu terias alguma dica para os futuros profissionais sobre como lidar com as redes e até que ponto usar as redes sociais?

Tulio Milman: Quando eu tenho que selecionar ou participar de uma contratação de determinado colaborador, se olha o Facebook, vê o que o cara está postando ali. Vocês podem ter as redes privadas, mas as que são públicas sempre pensem que um dia alguém que vai ser sócio ou chefe de vocês e vai olhar aquilo e pode atrapalhar a vida de vocês no futuro.

Como jornalista, o que a gente pode fazer para sair dessa bolha e tentar furar a bolha do leitor e passar uma informação de forma que ele possa ter uma visão de 360º sobre o que realmente está acontecendo?

Tulio Milman: Essa é a pergunta de 1 milhão de dólares. A gente está tentando, mas é difícil, pois não tem uma resposta pronta. Na minha visão seria sempre refletindo e mudando o que é necessário, mas de certa forma mantendo a essência do que a gente faz, explicando o porquê. Isso é importante. Tentando achar formas de fazer uma ponte entre essas bolhas. Não tem uma solução mágica para isso.

Pesquisas de opinião nas eleições são válidas ou não?

Tulio Milman: Quase tudo tem seus lados positivos e negativos. Muitas pessoas se influenciam pelo que se chama de voto útil, olha para a pesquisa e decide o voto em função disso. É melhor tu tentar organizar e regulamentar do que proibir as pesquisas. Faz umas cinco eleições que a RBS não dá manchete para pesquisas nas eleições, sendo elas sempre informação secundária. A pesquisa erra, mas erra pouco e quando erra é de forma grave. O trabalho tem que ser na medida de aperfeiçoar a pesquisa, para que ela seja uma pesquisa correta e demonstre uma realidade.

Como a comunidade judaica no Rio Grande do Sul vê a aproximação de Bolsonaro com Israel?

Tulio Milman: A comunidade é plural, embora as pessoas que não estão nela enxergam os judeus como uma coisa só e não são. Tem correntes mais ortodoxas, e até uma corrente reformista, onde tem mulheres que são rabinas. É claro que como Israel é um tema polêmico, a pessoa que vai lá e dá apoio é acarinhada, mas aqui mesmo em Porto Alegre houve vários movimentos da comunidade criticando Bolsonaro e dizendo que essa forma que ele tem de se relacionar com Israel não é uma forma positiva, nem para Israel, nem para a comunidade judaica. Então ela é uma comunidade essencialmente plural e tem de tudo. Ela está dividida e eu noto que, inclusive agora com o desgaste do governo, o mesmo entusiasmo arrefeceu nos setores que eram mais entusiastas.

Tu sofreste ataques com essa onda de intolerância? E por que no Rio Grande do Sul o mercado de esportes é tão fechado em relação ao time do jornalista?

Tulio Milman: Tem uma diferença entre o jornalista esportivo que está no dia a dia cobrindo treino e precisa ter um pouco mais de resguardo. Eu não posso cobrir o Grêmio ou o Inter, acho que o cara tem que ter um certo resguardo, é uma questão de postura profissional. O único lugar do mundo que tem problema em ser colorado ou gremista é aqui no Rio Grande do Sul. Sobre os ataques, alguns ainda me machucam, mas é cada vez mais raro, acho que desenvolvi uma casca, aprendi a me proteger, mas não é bom tu abrir o teu e-mail e ter aquilo.

Tem algo que tu ainda não fizeste e tem vontade e fazer? E das coisas que tu já fizeste, qual tu achas que mais te fez crescer como jornalista?

Tulio Milman: A primeira cobertura de guerra, a invasão americana no Haiti, eu estava com muito medo, porque eu estava indo para o meio de uma guerra, aquilo me desafiou ao extremo. Hoje vou te dizer que o que me desafia na profissão são as coisas mais simples. Nessas alturas, as coisas que eu queria fazer na profissão eu já fiz, mas as vezes eu invento. Por exemplo, eu estou começando a jogar golfe, então vocês vão ver na minha coluna eu falando de golfe.

JORNALISMO DIGITAL

Redação integrada produz portal GaúchaZH

GaúchaZH é uma plataforma digital de notícias decorrente da junção de outros dois portais pertencentes ao Grupo RBS, o site da Rádio Gaúcha e o Jornal Zero Hora. Esta fusão foi oficialmente lançada em 21 de setembro de 2017. O novo portal dispõe de conteúdos de jornalismo e esportes, 72 colunistas diários, semanais ou mensais, juntamente com o conteúdo das marcas ligadas ao Grupo RBS.

No dia 17 de abril, o Grupo RBS anunciou que em março de 2019 o GaúchaZH registrou 83,7 milhões de visualizações nas páginas do site e dos aplicativos GZH, Colorado e Tricolor, alcançando a marca de 18,4 milhões de usuários, o maior número desde a criação da plataforma, em setembro de 2017.

O projeto foi criado em 2017 com o intuito de juntar o que há de melhor na Zero Hora e na Rádio Gaúcha para criar conteúdo em uma experiência exclusiva no digital. No site, passou a existir muito mais conteúdos realizados a partir da integração dos comunicadores e jornalistas. São experiências únicas em vídeo, áudio, ao vivo, em uma única plataforma que une as duas marcas.

O menu do portal conta com 47 editorias, que passam por esporte, comportamento, cultura e lazer, segurança, política, opinião, reportagens especiais, grupo de investigação entre outros. Uma das novidades implantadas na entrada do site foi um botão de player de acesso à transmissão ao vivo da Rádio Gaúcha, também disponível no aplicativo.

O botão de play para acessar a programação ao vivo da Rádio Gaúcha, localizado no canto inferior direito, foi uma das novidades do novo portal Gaúcha ZH, disponível também no aplicativo

PERFIL

Tulio das mil e uma atividades

“Ter equilíbrio entre saúde, alimentação, vida pessoal e profissional é o tipo de equação que me faz feliz”. Assim Tulio Milman descreve seu estilo de vida. Jornalista há quase 30 anos no mercado, acumula uma variedade de prêmios no currículo, além de diversas coberturas internacionais, entre elas os Jogos Olímpicos de Barcelona, Pequim e Londres.

Pai de duas adolescentes, de 13 e 16 anos, Tulio combina a carreira jornalística com a família: “eu tenho guarda compartilhada das gurias, eu sou ‘tuliuber’, faço comida, lavo roupa. Depois de passar um tempo fora do Brasil eu resolvi viver mais a minha vida e consigo conciliar perfeitamente bem”. Ele relata ainda um sentimento de gratificação com a rotina do dia a dia, como as idas ao supermercado, academia uma vez por semana, levar as filhas ao colégio.

Nascido em Porto Alegre, desde a época da escola era um amante dos exercícios. Jogava vários esportes ao mesmo tempo, mas tinha habilidade mesmo para o vôlei. Como ele mesmo conta, foi atleta de voleibol do clube Grêmio Náutico União (GNU), jogou no time do colégio Farroupilha e também na equipe da Pontifícia Universidade Católica (PUC), faculdade onde estudou Jornalismo. Passou também por um período de maratonista e atualmente está aprendendo golfe.

Assador, torcedor e floricultor

A leitura já faz parte da rotina do jornalista, não só como hobby, mas como parte da profissão. Túlio conta que nas horas vagas adora reunir os amigos e familiares para um churrasco. Devido a sua origem germânica, ele acredita que certas vezes possa ser meio duro e através das habilidades culinárias demonstra afeto pelas pessoas do seu círculo.

“Unir os amigos, a família e fazer um churrasco é uma forma de mostrar carinho, faço com muito amor. Eu escolho cada pedaço de carne, planejo pratos e talheres que vou servir. Ttenho muito prazer em cozinhar e compartilhar isso com quem eu gosto”, comenta. E revela como se faz um churrasco a moda Tulio Milman.

. Abandone o espeto e use grelha;

. Faça cortes menores de carne, pois leva menos tempo para assar;

. Associe legumes ao churrasco, como pimentão amarelo;

. Corte o pimentão ao meio e coloque na grelha para assar;

. Quando estiver quase mole, coloque queijo gorgonzola;

. Espere derreter e largue por cima castanha ou noz e pronto.

“Fica uma delícia”, garante Tulio Milman, que também gosta de futebol, mas prefere ser torcedor. “Na verdade não escolhi torcer para o Internacional. Na minha casa a gente sempre teve muita liberdade de escolha, mas essa não era uma opção”, conta aos risos. Segundo ele, a influência veio do avô judeu refugiado da 2º Guerra Mundial, da Alemanha, que ao chegar no Brasil encontrou no Sport Club Internacional uma porta de aceitação e passou a fazer parte de uma cultura como qualquer outra pessoa.

Hoje sócio do clube, Túlio percebe que a paixão do avô foi transmitida para os seus descendentes. O paizão, colorado, cozinheiro, jornalista e esportista agora começa a voltar a sua atenção também para a floricultura. “Tenho algumas plantinhas dentro de casa, eu rego, eu cuido e agora descobri o fabuloso mundo das pitaias”. Ele conta ainda que a fruta também é conhecida como fruto do dragão e tem um gosto delicioso, por isso começou a plantar mudinhas em casa.

Tulio Milman em poucas palavras

O profissional

À frente da editoria de opinião da Zero Hora e participando das relações institucionais do Grupo RBS, Tulio Milman destaca que “há diversas maneiras de fazer jornalismo, desde um mais posicionado até um mais neutro. Mas tem que dominar o processo, não ser engolido por ele. O importante é ter noção das consequências que o posicionamento envolve. Tu tem que estar no comando”.

Ele conta que mesmo acompanhando o início da expansão das redes sociais, na época não conseguia ter dimensão de como elas viriam a fazer parte da vida das pessoas. Um dos fatores negativos que observa é a falta de educação ao lidar com o outro: “Questionar é tranquilo, fico até feliz. O problema é a agressividade das pessoas de forma desnecessária. Às vezes eu até respondo educadamente, quando eu acho que vale a pena. Mas a hostilidade no geral é algo que não me conformo, mesmo sabendo que faz parte”.

Embora os desafios de Tulio hoje envolvam lidar com reestruturações digitais e adequação de tecnologias na imprensa, lembra que nem sempre foi assim. “Mandava reportagens lá de Barcelona por cartas para o Correio do Povo, era ano anterior às Olimpíadas. Boa parte eles publicavam, e quando voltei para Porto Alegre, fui contratado definitivo para trabalhar na redação por alguns meses, e logo depois vim pra RBS”.

Além da Espanha, esteve recentemente na Filadélfia (EUA) e, quando jovem, morou em Israel. Embarcou para lá quando trancou a faculdade de jornalismo depois de cursar o primeiro semestre na PUCRS. Inexperiente, conta que teve os desafios do idioma e das vivências de um país diferente.

Pela RBS, foram dezenas de coberturas: três Olimpíadas e quatro Copas do Mundo de Futebol. Além de viagens a países em guerra e coberturas de posse presidencial. Demonstra satisfação quando recorre às lembranças: “Viajei muito, foi bastante coisa, fiz muita coisa legal no meu trabalho”.

BASTIDORES

De peito aberto

Alunos do curso de Jornalismo da UniRitter com o jornalista Tulio Milman ao final do ZH na Faculdade realizado na noite de 8 de maio de 2019 no campus Zona Sul em Porto Alegre (RS) — Crédito: Mariana Gomes/Agência INQ

Presente no ZH na Faculdade com Tulio Milman, realizado no dia 8 de maio no campus Zona Sul da UniRitter, a coordenadora do curso de Jornalismo, Mariana Oselame, destacou a importância da aproximação dos alunos com um profissional referência no jornalismo regional e que está inserido diariamente na comunicação com a sociedade.

Oselame disse ter achado interessante a forma como Tulio se portou: “ele veio de peito aberto para dialogar, foi uma conversa ao invés de uma palestra formal e os alunos tiveram respostas para boa parte de seus questionamentos”.

O estudante Vithor Duarte, 22 anos, achou inspiradora a conversa proporcionada pelo ZH na Faculdade e não poupou elogios a Tulio Milman: “Ele é um profissional que conseguiu ampliar mais a nossa visão da profissão, mostrou onde podemos chegar e o que podemos fazer”.

Para o estudante Luis Magnário, 31 anos, a palestra foi positiva e construtiva, além de ressaltar a pluralidade de opiniões: “nossa sociedade está assim hoje, uns pensam mais à esquerda e outros à direita. O importante é o respeito, a liberdade de expressão e uma imprensa livre, democrática e imparcial”.

De acordo com a repórter da Agência INQ Mariana Gomes,18 anos, “a palestra foi esclarecedora e mostrou como é a redação de um veículo de comunicação na prática. Túlio levantou pontos importantes como lidar com críticas em relação aos posicionamentos e sobre como construir sua versão ao analisar fatos que possuem mais de uma versão”.

Sobre a cobertura que fez do ZH na Faculdade, Mariana disse ter sido uma grande oportunidade porque estava fazendo o que gosta: “trabalhando como jornalista”.

EXPEDIENTE

Cobertura produzida pela turma de Jornalismo Digital / Noite do curso de Jornalismo do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter) — Campus Zona Sul em Porto Alegre (RS).

Palestra: Andrew Fischer, Danrley Passos, Leonardo Bartz e Pâmela Bassualdo

Perguntas e respostas: Renata Dorneles, Márlon Nobrega, Lorenzo Rivero, Matheus Lourenço e Luis Magnário

GaúchaZH: Beatriz Rehermann, Bruna Jordana, Paula Fabyolla e Tassiane Costeira.

Perfil: Junior Portela, Brenda Aurélio e Paulo Nunes

Ambiental: Rejanir Balbino, Johan Mello, Luiz Henrique Santos e Sofia Collin

Supervisão: Roberto Villar Belmonte (roberto_belmonte@uniritter.edu.br)

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Roberto V. Belmonte
Reporteros

Jornalista interessado em ensino do Jornalismo, ambiente e economia.