A força de uma carta

Para uma atividade da cadeira de Representação tínhamos que fazer uma carta de um jogo, tarot ou algo do gênero, e eu escolhi fazer uma carta de tarot.

Crescer em um lar cristão no qual domingo é dia de ir para igreja foi tanto uma experiência enriquecedora quanto dogmatizadora. Acredito que os tijolos do meu farol metafórico que guiam o que eu já acreditei e acredito atualmente ser moral e ético foi construído fundamentado no cristianismo e quanto a isso não possuo arrependimentos. Contudo, por boa que tenha sido a experiência, em alguns momentos, ela limitou e muito a minha visão de mundo. Crescendo em um lar cristão eu tive pouco contato com outras religiões e eu acho isso bem engraçado. Acho engraçado porque cresci em um país laico, acho engraçado porque minha avó era católica-espírita, acho engraçado porque minha mãe já foi esotérica, médium… Na verdade não é tão engraçado assim, eu acho é bem triste que mesmo diante de uma pluralidade de crenças tão grande a minha visão do que era religião e crença era tão limitada quanto a visão de um cavalo com antolhos. E foi tendo isso em mente que decidi fazer uma carta de tarot, porque assim poderia explorar esse universo de leitura de cartas que até era inexplorado por mim.

Através de pesquisas descobri que inicialmente lá pelo meio do século XV cartas eram utilizadas para jogar e depois essas mesmas cartas, provavelmente no século XVIII, começaram a ser utilizadas em paralelo para adivinhação, tarotologia e cartomancia. Somente depois cartas foram especialmente produzidas com propósitos ocultos. Depois de ler um pouco sobre sua história busquei entender o significado de cada carta de tarô. Lendo o significado de cada uma encontrei a carta com a qual mais me identifiquei ou, quem sabe, a carta que mais estou precisando no momento em minha vida. Escolhi a carta Força, e eu percebo que eu poderia não ter escolhido uma carta que já existia no baralho mas sim criado a minha própria, mas a ideia de modificar o aspecto de uma carta já existente de forma que sua estética ressoasse mais comigo me pareceu mais atrativa.

A verdade é que a carta Força é belíssima. Força é a forma mais crua de poder, e todos nós a possuímos em alguma forma. A carta em si é uma carta muito feliz se você está combatendo uma doença ou se recuperando de um ferimento. Quanto à influência da Força sobre você e a forma como você a utiliza podem tender para luz ou para a escuridão. Muito provavelmente você que tira essa carta tende a encarar os seus problemas com coragem e com a cabeça erguida, conquistando-os através da perseverança e força de vontade. Porém, com essa habilidade de superar os obstáculos colocados pela vida vem a responsabilidade de se controlar, e essa carta pode ser um aviso para você tomar posse de suas próprias ações ou emoções antes que isso prejudique você ou as pessoas ao seu redor. E essa carta apresenta ou elementos que eu preciso na minha vida ou que eu gostaria de possuir e por isso a escolhi.

Quando comecei a construir o aspecto visual da carta eu sabia que eu queria que isso fosse um desafio para mim assim como são todas as atividades da cadeira de Representação Visual. Eu gosto de encarar dessa forma porque encaro as atividades ainda mais como uma ferramenta de crescimento, e acredito que isso é essencial. Desenhei primeiro a mulher e fiz pelo menos dois outros esboços que antecederam o que está na foto logo no começo do texto. Desenhei primeiro com um lápis azul, depois redesenhei por cima com um lápis vermelho buscando aperfeiçoar o esboço, e por fim passei uma caneta preta por cima buscando alinhar o esboço com a minha expectativa para o mesmo. Eu escolhi uma mulher porque sendo mulher é importante pra mim possuir símbolos que associem a figura feminina com força e também, já mais em segundo plano, a carta Força tradicionalmente possui ilustrações de mulheres na mesma. Depois disso fui para o Pinterest e para o Tumblr procurar referências de outras cartas de Tarot.

Pude observar que todas as cartas de força possuem o símbolo do infinito nelas. O símbolo em si é uma representação geométrica do perpétuo movimento e interação da energia com a matéria e sua essência indestrutível. Também observei que nessa carta a mulher sempre está acompanhada de animais, geralmente um leão, que representa força e também, alguns acreditam, uma representação de nossa consciência de uma forma mais instintiva. A forma como a mulher interage com esse animal ilustra sua união com ele e seu controle sobre ele. Após analisar esses elementos busquei adaptá-los para meus próprios sentimentos. Escolhi aquela pose da mulher pois queria algo que passasse a sensação de leveza e despreocupação, que são coisas que me fazem falta. Inclui o símbolo do infinito como também o animal, mas ao invés de incluir o leão coloquei uma tartaruguinha. Fiz isso porque tartarugas além de serem animais associados com sabedoria também são animais associados com calma, paciência, pensamento lógico e crítico. Inicialmente a mulher não ia ter uma varinha na mão mas quando eu fui desenhar a mão ficou deverás feia então eu usei a varinha para cobri-la.

Os conceitos vistos em sala foram utilizados da seguinte forma:

  • O contorno da carta com as folhas e pequenas ondulações exemplificam essa simetria
  • Eu acho que apesar de apresentar a repetição de elementos, por exemplo, no casco da tartaruga, a carta é mais dinâmica e eu diria até que um pouco inquietante
  • Acredito que a forma como as cores foram utilizadas traz equilíbrio para a carta uma vez que a mulher colorida gera um contraponto para com a tartaruga atrás dela com nenhuma coloração além do preto
  • A modularidade está presente na repetição do padrão da pequena ondulação nas bordas da carta

Quanto a paleta de cores percebi que muitas cartas de tarot utilizam o bege, o preto e o amarelo. Acrescentei o vermelho, porque o vermelho ajuda a expressar o sentimento de força que quero meu a mulher em minha carta expresse também, e o roxo porque para mim o roxo além de ter sido muito utilizado na Era Medieval é uma cor que está bastante associada a elementos místicos.

Para fazer o esboço utilizei:

  • Papel Canson de alta gramatura (300 g/m²) que é ideal para técnicas mistas, aquarela, etc.
  • Lápis azul e vermelho da Faber Castell
  • Caneta uni-ball AIR preta
  • Lápis aquareláveis da Faber Castell

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