Arcano Maior 8: A Morte

yago albert de souza cruz
Representacao Visual School
3 min readSep 11, 2018

Na cultura Olodunedá, assim como em muitas outras tribos da costa atlântica africana, existe a figura do Babá Egun (Xamã dos mortos) cuja função e simbolismo girava em torno do “Leito de morte”.

Para o aldeão, o xamã vestido com o Asó-Ikò (Veste de palha que cobre o corpo) era somente usada pelo médico, o curandeiro, que era também quem limpava os corpos durante seus rituais funerários. Culturalmente, o Babá Egun representava a imagem da morte, sem face, uma vez que as roupas de palha cobriam o rosto (Como era de costume para os sacerdotes tribais africanos), a morte sem face, inumana em natureza, fria.

Há um conto Iorubá que conta a jornada de Obaluayê, o filho de Nanã, afligido com lepra, vestido com a roupa de palha para cobrir sua pele pútrida, seguindo sua saga para ganhar a imortalidade. Um dos épicos de seu mito envolve a travessia do Pântano da Morte, muito semelhante (Porém não relacionado) à Floresta dos Enforcados na Divina Comédia, uma floresta morta e assombrosa, onde vão as almas não embalsamadas, os filhos sem pais e os desonrados. Apesar disso, o Pântano da Morte é onde habita Obaluayê, pois, é por lá onde todas as almas dos mortos deve vagar para seguir, ou para o além do arco-íris, ou se perder e lá ficar, ele é o guia das almas justas.

Na carta em questão foi escolhido o Arcano maior do Tarot “A Morte”, devido à abundância de cartas de Tarot já feitas pelos colegas de sala, digamos, um “Instinto de colecionador” guiou essa escolha. Na carta pode-se notar alguns elementos típicos da ilustração tradicional africana, sendo usada como um plano de cor e espaçamento, centralizando a ilustração, tanto verticalmente quanto horizontalmente. Nas pontas podem ser vistos símbolos simples identificando a morte, duas máscaras tribais das zonas mais tropicais da África e ossos, elementos genéricos, que não querem competir por atenção com a ilustração.

Existem dois jogos tipográficos na carta, o nome da carta: “Death”, que usa os elementos tribais previamente mencionados, e o número do arcano: “XIII” que é desenhado como um sorriso que separa a ilustração do nome, “A morte sorri pros vivos.”, porém, foi desenhado em um formato coerente para um baralho, assumindo que haveriam diversos outros arcanos com uma forma uniforme.

O Pântano da Morte é a mão da moça que se veste como Babá Egun, enorme e divina, porém, seus fios de palha desenham um fluxo, um caminho, como uma Deusa que aceita a alma do mortal, guiando-o com sua mão. A escolha por uma figura feminina vem da noção moderna da morte como uma mulher, e também para completar a imagem materna, porém misteriosa, que ela assume na carta. Essa moça sobrenatural ao mesmo tempo convida o mortal, guia ele e não diz nada à respeito da rota, uma mãe que sabe que seu filho deve seguir seu caminho sozinho para chegar ao final de sua jornada.

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