Criaturas e Sentimentos: Final

vinicius baltar pires
Representacao Visual School
4 min readDec 3, 2018

O medo é talvez uma das emoções mais expressadas por nós. Manifesta-se através de diferentes reações aos elementos que nos cercam e pode assumir qualquer tipo de forma. Entretanto, o medo humano é manifestado mais naturalmente quando nos deparamos com o desconhecido. Um exemplo deste conceito é o abismo oceânico.

Muitas pessoas possuem medo do oceano porque, apesar de nossa tecnologia, conhecemos no máximo 5% do território submarino da Terra. É escuro, frio e não é possível saber como são as coisas lá embaixo. Tudo isso contribui para um sentimento de insegurança e desconforto, a antecipação de que alguma coisa hostil irá subir à superfície para nos devorar. A ausência de uma forma física induz o cérebro a criar uma personificação para a sensação incômoda que nos assola. A abstração, vazio e silêncio do oceano é o que nos causa medo. Este é conceito por trás da peça exibida abaixo:

O cartaz representa um abismo oceânico e induz o observador, através do medo, a imaginar a criatura. Assim, a imagem acima corresponde a temática da exposição: “Criaturas e Sentimentos”. Uma das principais referências para a composição do artefato foi o jogo de exploração “Subnautica”, que apesar de não ser um jogo focado no horror, conseguiu transmiti-lo de forma natural através da sua ambientação. Abaixo, uma screenshot do jogo captura um Leviatã Ceifador.

Voltando ao artefato feito para a exposição, a peça é um cartaz feito em uma folha de papel A4 de gramatura 244g. Foram utilizados pedaços de esponja, tinta guache verde escura e preta, uma caneta branca e uma hidrográfica preta. Os conceitos de Gestalt presentes são os de unidade e pregnância da forma. A pintura e estêncil foram as principais técnicas utilizadas. A paleta de cores segue abaixo:

Também é possível analisar a pintura mais a fundo ao focarmos em sua semiótica. O cartaz é composto por tintas verde escura e preta, como mencionado previamente, que foram pintadas em movimentos circulares e misturadas na medida que se aproxima do centro da folha de papel. A frase “What lies in the Abyss?” (“O que há no abismo?”) é escrita próxima e acima do abismo, direcionando o foco do observador para o abismo, o círculo escuro no centro da pintura. A cor branca utilizada na frase se destaca contra o verde e o preto, chamando atenção e contribuindo para a contextualização do cartaz através das palavras. A mistura gradual das cores e predominância do preto em direção ao centro formam camadas de tonalidades, passando a sensação de profundidade. O tom esverdeado misturado com o preto se assemelha com água profundas, como a foto vista no início desta publicação. Observando a figura com atenção, é possível também notar a semelhança das camadas e do abismo com um olho. O olho pode representar a criatura no fundo do abismo, produto resultante da imaginação do observador e uma referência à notória frase de Nietzsche: “Quando se olha muito tempo para o abismo, o abismo olha para você”. Utilizando a perspectiva de Stuart Hall, vemos as 4 etapas da codificação e decodificação em:

  1. Produção: Feito em uma folha simples de papel A4, utilizando tinta.
  2. Circulação: Transmite informação no formato de uma cartaz. Um método simples e rápido para comunicação.
  3. Consumo: O observador contempla a composição do cartaz.
  4. Reprodução: O observador interpreta a mensagem transmitida pelo cartaz.

Por fim, devo mencionar algumas das dificuldades encontradas na composição do artefato. Foi difícil pensar em como representar minha ideia, além de escolher os materiais, pois não possuo habilidades com trabalho manual. Acabei escolhendo utilizar estêncil e pintura, usando tinta guache e um papel A4 de gramatura um pouco maior para produzir um cartaz simples e abstrato. Infelizmente, não consegui um papel de formato maior para pintar. Na primeira tentativa o cartaz ficou muito escuro, então resolvi pintar com o verde e depois o preto na segunda vez, conseguindo passar a noção de profundidade que desejava. Fui mais delicado na segunda tentativa também, pois queria preservar o formato do papel e não deixá-lo muito ondulado.

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