Rancor parte 2

lucas betmann amaral
Representacao Visual School
5 min readDec 12, 2018

O cartaz foi concebido com o propósito de integrar a exposição, com o tema Criaturas e Sentimentos, organizada pelos alunos de Design do segundo período. A proposta da exposição foi criar uma peça gráfica com alguma criatura que se remetesse a um sentimento. O escolhido foi o rancor, mas também pode ser raiva internalizada. O rancor é um sentimento de longa duração causado por experiências negativas com outras pessoas ou grupo de pessoas.

No Inferno de Dante o inferno é dividido em nove círculos, sendo o quinto reservado ao pecado da ira. A entrada deste círculo é uma grande cachoeira que desde e se torna o rio Estige, local onde os condenados por pecar a ira devem lutar uns com os outros até o fim dos tempo. Entretanto o fundo do rio é reservado para os rancorosos, aqueles que mesmo preenchidos por ira nunca chegaram a externa-la, estes são condenados a afogar literalmente e metaforicamente em sua própria raiva, representado no cartaz pala frase “No fundo do rio minha raiva borbulha”.

A proposta do cartaz foi criar uma colagem para representar um espírito rancoroso. Este meio de transmissão foi escolhido por conciliar o texto com as metáforas visuais, aprimorando a qualidade e quantidade de mensagens que devem ser passadas.

Ele é composto por quatro elementos principais: a criatura, as bolhas, o texto e as algas. Como base para a colagem foi usada uma cartolina preta para representar a escuridão e turbidez do fundo de um rio.

A criatura foi recortada de emborrachado preto e em seguida diversos cortes foram feitos que por meio do conceite de unidade da gestalt conseguem representar rachaduras, por traz um papel azul foi colado.

O intuito foi criar uma textura que representasse carvão em brasa, pelo elemento fogo ser no senso comum o mais associado a raiva. A cor azul no entanto foi escolhida devido a uma dicotomia de sua natureza, embora seja considerada uma cor fria, que remete a baixas temperaturas, do ponto de vista físico ela é a mais quente. Quanto mais azul uma chama, mais intensa e pura ela é. Essa dicotomia tem o intuito de criar a metáfora de que por mais calmo e brando o rancor possa ser, ele não é uma explosão descontrolada de ira, ele é a raiva na sua forma mais racional e concentrada.

O rosto da criatura possui uma boca vertical repleta de dentes afiados que começa na teste e acaba no queixo. Sua construção tenta representar a natureza feroz da raiva, aquela cega, que só possui um objetivo. As mãos possuem um conceito similar, uma fechada perto do peito para representar uma mágoa presa, e a outra aberta direcionada para cima com dedos compridos e afiados, para representar uma busca por reparação ou vingança.

Ambos os dentes e os dedos foram recordados e papel laminado para ressaltar a proposta de serem afiados e ferozes.

As bolhas foram feitas a partir de papel nacarado colado com coloca de silicone no emborrachado preto. Elas são organizadas para dar a impressão que estão saindo de dentro da boca da criatura, servem para validar a frase “no fundo do rio minha raiva borbulha”. A primeira versão das bolhas foi feita a partir de papel laminado, mas após perceber que visualmente entrava em conflito com os dentes e os dedos, já que o material tinha sido usado para representar os conceitos de “afiado” e “feroz”, usa-lo nas bolha quebrava um pouco da proposta por funcionar apenas como recurso visual.

As algas do fundo feitas de papel nacarado tem o intuito de reafirmar que a cena é no fundo de um rio e também criar um equilíbrio por meio unificação do gestalt com as bolhas, ou seja, criar uma harmonia dos estímulos visuais e direcionar o foco do observador para toda a composição.

Como a peça é muito grande, por exemplo somente a criatura tem 31cm, material não podia ser desperdiçado, então quando alguma técnica deveria ser testada antes para ver se poderia ser adicionada, ela era aplicada em uma versão menor para observar se funcionava.

As principais dificuldades foram na etapa de colagem, alguns elementos como emborrachado e papel nacarado não podem ser colados com cola branca, então para a colagem destes materiais foi usada cola de silicone. O problema é que a secagem completa demorava em torno de 5 horas, então enquanto uma peça secava, outra era sendo confeccionada, o que causou alguns erros de proporção na colagem final, sendo necessário reajustar algumas ideias, como a disposição do texto. Também houve troca de materiais inicialmente planejados. No busto da criatura seria colado cabelo de peruca para esconder a divisão do corpo com os braços, porém pela dificuldade colar diversos fios, essa ideia foi descartada.

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