Correr acompanhado
Uma praia praticamente deserta, faixa de areia extensa e uma costa cheia de coqueiros, com muito verde. O mar mexido, com ondas pequenas e frequentes. Itacarezinho.
Do lado esquerdo se via o estreito caminho para a próxima praia, mas foi o lado direito que nos atraiu mais. Parecia pouco explorado, pronto para ser descoberto.
Começamos a andar juntos, conversar e logo ouvi:
— vamos dar uma corridinha?
Pensei comigo se estava no clima, já que o dia seria de turista visitando praias e fazendo trilhas.
— Tá bem, até onde você quer ir?
— Não sei, que tal até lá naquela ponta?
Começamos a trotar e cruzamos com o casal de amigos que depois tirou essa foto. Eles caminhavam vagarosamente e nos entreolharam com zero supresa por estarmos correndo — desde que não os convidássemos.
Seguimos correndo juntos.
Que é sobre sentir o ritmo do outro e combinar consigo mesmo o quanto de Eu você vai ceder.
Tem dias que é o ritmo, tem dias que é a distância, tem dias que é quantidade de conversa, a quantidade música.
Tem dias que priorizar o seu ritmo e correr sozinho é mais gostoso.
E tem dias que você só quer correr acompanhado, esse foi um deles.
Fomos comentado a paisagem, falando sobre o resort chique ali por perto e sobre a estrutura de metal e tendas transparentes que parecia ser para um casamento.
Chegamos na ponta e resolvemos continuar, alguns quilômetros já tinham ficado pra trás. Só a gente estava ali e a sensação de ver uma costa sem fim quase inexplorada era muito boa.
Fomos até o limite. Arrecifes pouco uniformes nos impediam de seguir nossa exploração. Era hora de voltar.
Um casal 60+ nos cruzou e ficamos imaginando quem seriam eles na vida.
Claricinha focou em manter o ritmo e não deixar nossos amigos esperando mais.
Eu estava energizado com o sentimento de descoberta e resolvi correr de costas. Na minha lembrança foi pelo menos 1km assim, mas talvez tenha sido 300 metros.
Claricinha riu e seguimos nos acompanhando.
Igual na nossa primeira corrida, antes mesmo do primeiro beijo.