12 Regras Para a Vida — Jordan Peterson

Por Kaique Santos

RESENHA PRA MIM
Resenhas Liberais
Published in
4 min readJan 23, 2020

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”Quando alguém alega estar agindo movido pelos princípios mais elevados, pelo bem dos outros, não há razões para presumir que os motivos daquela pessoa sejam genuínos.” PETERSON, Jordan.

Escolhi essa citação do décimo primeiro capítulo para iniciar o texto porque ela reflete bem minhas intenções ao escrever sobre o 12 Regras para a Vida, que é focar na importância do individualismo — seria impossível para mim sintetizar o livro inteiro em poucas palavras. A obra é um manual de conduta escrito por um dos mais experientes psicólogos da atualidade. Jordan Peterson não poupa recursos para explicar a natureza humana, fazendo passagens profundas por referências da literatura, filosofia, teologia, história e, claro, da psicologia. Recomendo ao leitor que tiver oportunidade que leia o livro inteiro, pela aplicabilidade do conhecimento e porque durante minha leitura eu senti como se estivesse em uma montanha russa: análises simples e complexas fazem parte do mesmo brinquedo. Também conheço um excelente vídeo-resumo aqui.

O primeiro capítulo é um dos mais polêmicos. Com a máxima “costas eretas, ombros para trás”, Peterson explica que manter uma postura confiante ajuda a produzir mais serotonina — o hormônio dos vencedores — e explicou isso baseado em como a competição das lagostas pelas melhores fêmeas é diretamente afetada pelo nível de serotonina em cada crustáceo. Poderia ser apenas um texto motivacional padrão de coaching, mas o capítulo se torna uma forte contraindicação às ideias progressistas de construção social. Como? Ele usa como base os conceitos apresentados para reafirmar que os seres humanos são fortemente influenciados pelos fatores biológicos, e todo o sistema hierárquico no qual a sociedade foi construída é uma consequência da natureza do homem. De forma simplificada, ele foi duramente criticado por defender a existência da natureza humana com base científica, porque essa conclusão contraria as narrativas de esquerda: o patriarcado, a burguesia, a opressão de gênero, etc.

Sabendo que pessoas são indivíduos afetados pela realidade, nós podemos nos atentar em como lidamos com o mundo ao nosso redor e com as consequências de nossas ações. Muitas das analogias que Peterson faz passam por essa máxima: enfrentar as consequências. Quando ele diz que “você deve cuidar de si mesmo como cuidaria de alguém sob sua responsabilidade”, é porque existem consequências por não cuidar de si mesmo — e nós vivemos ignorando isso! Quando você não cuida de si mesmo e se torna vulnerável, as chances de que alguma situação desfavorável destrua qualquer estabilidade da sua vida é imensa. E desta forma você também não será mais capaz de cuidar das pessoas que ama. É possível fazer um paralelo com o individualismo e com as dinâmicas de mercado. Se o Estado tira seu dinheiro para distribuir para o SUS, ele está te obrigando a cuidar de outras pessoas antes que você tenha a oportunidade de cuidar de si mesmo e isso pode te impedir de gastar com prevenção — com qualidade de vida, alimentos melhores, etc. Portanto, apenas ações de filantropias voluntárias seriam verdadeiramente benéficas porque respeitam as preferências temporais de cada um.

Voltando ao livro, eu não podia finalizar minha resenha sem passar pela sétima regra: busque o que é significativo, não o que é conveniente. É este um dos textos mais cultos que eu já li, e sequer tenho certeza se compreendi todas as lições que existem nele. Peterson não poupa recursos ao buscar explicar porque o sacrifício é necessário para a prosperidade, partindo da teologia, da arte, da filosofia, da psicologia de Jung e da literatura de Dostoiévski. Ele entende que a existência do sofrimento é uma realidade intrínseca da vida e partir daí temos duas escolhas: buscar o máximo de prazer possível no agora, porque amanhã poderemos ser pó; ou sacrificar-nos por algo que tenha significado. A primeira opção é claramente a mais fácil — ou conveniente. Ele escreve:

Conveniência é seguir o impulso cego. É o ganho em curto prazo. […] O significado surge a partir da interação entre as possibilidades do mundo e a estrutura de valor que opera dentro desse mundo. […] Se agir corretamente, suas ações permitirão que você esteja psicologicamente integrado agora, amanhã e no futuro, ao mesmo tempo que beneficia a si mesmo, sua família e o mundo mais amplo ao seu redor. Tudo passará a fazer sentido e se alinhará ao longo de um único eixo.”

Eu acho difícil definir o que é significativo devido a complexidade da vida de cada um. Acredito que Peterson nos alerta para o potencial de nossas vidas. Ora, se nós temos a capacidade de ser relevantes, por que nós não estamos caminhando nesse sentido? Quais prazeres imediatos te impedem de fazer os sacrifícios necessários para que sua existência seja maior que mero pó de estrela?

Buscar o que é significante é assumir o controle sobre si mesmo.

Essa resenha foi elaborada por Kaique dos Santos, um brilhante coordenador do SFLB. Contate Kaike pelo e-mail kaiqueoliveira@studentsforliberty.org.

Dúvidas, sugestões e elogios pelo e-mail resenhapramim@studentsforliberty.org

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O resenha pra mim é uma iniciativa de coordenadores do SFLB que visa resumir livros liberais com qualidade. Escreva para: resenhapramim@studentsforliberty.org