Crash: Uma Breve História Da Economia — Alexandre Versignassi

RESENHA PRA MIM
Resenhas Liberais
4 min readJul 30, 2019

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Perpassando pela economia do Mundo Antigo, Moderno e Contemporâneo, Versignassi nos introduz não somente a um conhecimento econômico, mas também histórico. Dentre tantos conceitos apresentados, não caberia colocar todos aqui, todavia há alguns pontos centrais do livro aos quais irei me ater na presente resenha.

Uma vez que para algo ser considerado dinheiro ele precise ser escasso e que todos queiram, temos a primeira grande definição trazida pelo livro. Comida e cobre já foram utilizados como dinheiro, mas o que realmente funcionou foi um metal bem raro — o ouro. Contudo, era problemático ter que sempre estar andando por aí com sacos de ouro e uma balança para pesar as quantidades. A partir daí surge, na Lídia, a ideia de o governo criar uma moeda com um peso e grau de pureza pré-determinados, além de ter colocado uma gravura nela criando, portanto, a moeda oficial do Estado.

Todo o dinheiro de fato valia alguma coisa, pois era puramente ouro. No entanto, os gregos tiveram a brilhante — e nefasta — ideia de criar o dinheiro falso, i.e., sem conter 100% do metal precioso. O que eles faziam era misturar um metal barato, como o cobre, ao ouro e a prata — metais preciosos. Isso reduzia o poder de compra da moeda, mas aumentava a quantidade da mesma dentro da economia.

Dado que mais dinheiro está correndo na economia — com o processo de expansão da oferta monetária — mas a oferta de bens permanece a mesma — uma vez que os produtores não conseguem produzir na mesma velocidade que dinheiro novo entra –, os preços sobem. Lei de oferta e demanda. E como não é possível que todos os indivíduos recebam ao mesmo tempo esse dinheiro recém-criado, àqueles que o receberão inicialmente estarão em vantagem em relação aos outros que receberão por último — pois estes já terão tido enormes prejuízos à medida que os preços foram aumentando. Isso gera pobreza e aumenta a desigualdade social.

Roma, ao contrário da Grécia, não manteve os níveis de expansão monetária em patamares aceitáveis. Por conta de seu caráter belicioso e imperialista, os romanos precisavam constantemente de dinheiro para financiar suas empreitadas militares. Isso fez surgir um aumento no nível de preços. Contudo, para controlar esse fenômeno, Diocleciano — imperador romano — fez algo que os brasileiros que viveram na época de Sarney conhecem muito bem, congelou os preços. Isso, unido à inflação descontrolada, levaram ao colapso do sistema econômico à época e enfraqueceu ainda mais o império, levando ao seu declínio e queda em 476 d.C.

Diante disso, o autor nos apresenta duas escolas de pensamento econômico: monetaristas e desenvolvimentistas. Os primeiros estão mais preocupados em conter a inflação, mantendo intacta a riqueza e o desenvolvimento construído outrora, mesmo que isso gere uma estagnação econômica no presente. Em contrapartida, os desenvolvimentistas buscam, acima de tudo, o desenvolvimento econômico, ainda que isso deteriore a riqueza criada pela sociedade ao aumentar os níveis de inflação.

Podemos, agora, analisar o sistema bancário. Os bancos lucram ao emprestar para terceiros o dinheiro de outrem a juros mais altos do que aqueles que tais instituições pagam aos depositantes. Não obstante, o que os bancos fazem não é, de modo algum, apenas o empréstimo. Eles criam, magicamente, dinheiro.

A mágica da criação de dinheiro por parte dos bancos é denominada de fator multiplicador bancário e funciona da seguinte forma: o indivíduo A vai a um banco e deposita uma quantia de, digamos, R$ 1.000. O banco recebedor não é obrigado a trabalhar com 100% de reservas, isto é, não precisa deixar aquele valor integral atrelado à conta. Ele pode emprestar parte do dinheiro — a outra parte é o compulsório que é depositada diretamente numa conta do Banco Central e que normalmente, no Brasil, possui um valor médio de 50%. Então, esse banco pode emprestar R$ 500,00 para o indivíduo B. Este, por sua vez, compra um celular do indivíduo C, que por sua vez deposita em algum banco — que guarda apenas R$ 250,00.

O que ocorre, então, com o primeiro depósito? Ele simplesmente não está lá, assim como o segundo, terceiro, quarto, etc. Ao menos não fisicamente. O que há é um registro, uma “moeda escritual”, como diriam os economistas. Nos registros dos bancos o valor consta, mas não está lá de fato. Ele está rodando pela economia e criando dinheiro novo. E esse efeito se repete com todos os outros milhões de pessoas da sociedade, criando constantemente moeda nova. Todavia, o compulsório ajuda a manter esse processo inflacionário sob controle.

A leitura da obra, portanto, acaba por ser extremamente rica para aqueles que não sabem nada de economia. Contudo, é importante ressaltar que há algumas coisas contestáveis no livro — a respeito da deflação, do padrão ouro, do fator multiplicador bancário, etc. — que infelizmente não cabiam colocar aqui.

Esta resenha foi elaborada por Matheus Cunha, um brilhante coordenador do SFLB. Contate Matheus pelo e-mail mathroxlp@studentsforliberty.org.

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