Em Defesa do Preconceito — Theodore Dalrymple

por Gibson Cavalcante

RESENHA PRA MIM
Resenhas Liberais
Published in
3 min readJan 11, 2020

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Uma raridade entre a literatura moderna que se propõe a tratar do preconceito; palavra que teve seu sentido reestruturado pelo vocabulário da intelligentsia reformista. Em seu livro “Em Defesa do Preconceito” Theodore Dalrymple nos evidencia aspectos do preconceito que há muito tempo foram excluídos e omitidos do debate público, curiosamente a partir da criação de um preconceito contra o preconceito. E é esse preconceito contra o preconceito que os 29 ensaios do livro examinarão.

O preconceito nos é caracterizado pelo dicionário Oxford como: “Um julgamento prematuro, equivocado; viés favorável ou desfavorável; Predisposição especialmente com conotação desfavorável; Objeção injustificada.”

Ninguém mais aceita ser chamado de preconceituoso, pois o adjetivo caracteriza o sujeito equivocado, intolerante, burro e reacionário. Não há demonstração de virtude mais elevada do que parecer alguém liberto de todo e qualquer preconceito, um ser imaculado, virtuoso, inteligente e livre, de fato. Se o preconceito não passa de uma “ generalização defeituosa e inflexível”, nos diz Dalrymple: “[…] então alguns dos piores massacres do século XX foram motivados, ou ao menos possibilitados, pelo preconceito”. Mas, “O fato de um massacre ocorrer em circunstâncias históricas específicas, as quais se valem apenas superficialmente de um preconceito motivador, não vem ao caso.”

O desejo de eliminação de todo e qualquer preconceito, presume uma inevitável melhora nas relações humanas. Porém, como demonstra Dalrymple, sua completa eliminação é impossível uma vez que um preconceito naturalmente será substituído por outro. E nada garante que o novo será melhor do que o anterior; na realidade, a história tem demonstrado que o oposto é mais comum de acontecer.

Na raiz desse preconceito contra o preconceito Dalrymple identifica o pensamento desenvolvido por John Stuart Mill, segundo o qual, “Não existe qualquer verdade tão certa que não possa ser controvertida”. Dalrymple analisa as consequências lógicas em tal afirmação, entre elas o pensamento de que a originalidade de uma opinião constitui o valor da mesma, sendo que, segundo Mill, “ tomá-las de uma autoridade confiável sobre o assunto, é ficar alijado dos atributos que compreendem a qualidade distinta do ser humano”. Portanto quaisquer pensamentos e/ou atitudes baseadas no preconceito devem ser evitadas por não demonstrar originalidade, assim a peculiaridade e a excentricidade tornam-se partes intrínsecas da natureza humana. Partes que constantemente são inibidas por pressões sociais.

O resultado desse pensamento é visível quando, no capítulo 16, o escritor nos conta sua experiência nos metrôs ingleses, onde jovens insistem em colocar os pés sobre o assento à sua frente apesar dos avisos (que sequer deveriam existir) que alertam para não fazer isso. “ […] constitui um convite para que as pessoas demonstrem a virtude de seu caráter por meio da não conformidade.”

Em nenhum momento o escritor nega que houveram diversas situações de terror e violência extremas onde determinados preconceitos foram, em parte, justificativa para o desastre. Mas, assim como temos a tendência, em parte natural, de perceber apenas o desastres da história humana, o preconceito é visto, antes, a partir de suas contribuições à catástrofe e dificilmente por seu aspecto civilizador.

Esta resenha foi elaborada por Gibson Abreu Cavalcante, um brilhante coordenador do SFLB. Contate Gibson pelo e-mail gcavalcante@studentsforliberty.org.

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