Sobre a Brevidade da Vida — Sêneca

“Ninguém tem a morte à vista, todos estendem suas esperanças ao longe”

RESENHA PRA MIM
Resenhas Liberais
Published in
4 min readFeb 15, 2020

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Essa resenha tem uma proposta diferente das demais, porque Sobre a Brevidade da Vida não aborda temas de economia ou política. Mas Sêneca fala sobre a relação entre o indivíduo, o tempo e a vida. Ele abre o discurso com a seguinte máxima: “A maior parte dos mortais queixa-se da malevolência da Natureza […] segundo eles, o espaço de tempo que nos foi dado corre tão veloz e rápido […] E não é somente a multidão e a turba insensata que se lamenta deste mal considerado universal: a mesma impressão provocou queixas também de homens ilustres.” Com o exposto já podemos perceber a primeira premissa do filósofo: o tempo é igualmente cruel para todos. Este importante pensador do Império Romano, fez alertas sobre como as pessoas, na busca incessante de seus objetivos, esquecem-se que a vida ocorre no presente. Nós do Students for Liberty comumente intercalamos nossas vidas entre estudar, trabalhar e tocar nossos projetos de ativismo, você leitor possivelmente também está atrelado a uma rotina corrida, e cada indivíduo deve estar atento ao que realmente vale a pena ser visto, como nos lembra o orador “alguns não definiram para onde dirigir sua vida, e o destino surpreende-os esgotados e bocejantes, de tal forma que não duvido ser verdadeiro o que disse, à maneira de oráculo, o maior dos poetas: “Pequena é a parte da vida que (3) vivemos.” Pois todo o restante não é vida, mas tempo.”

Eu disse orador porque o livro se trata de um diálogo, no qual o estoico dita sua opinião acerca das coisas. Sua crítica está concentrada nas pessoas que não possuem tempo para si mesmas, e por causa disso, reclamam que a vida curta. Ora, se vocês tiverem tido um bom ensino médio (ou muita curiosidade na internet) devem saber que Albert Einstein formulou a Teoria da Relatividade. De acordo com o físico, nós temos uma percepção diferente de tempo. É interessante que o livro adote um conceito muito parecido quando diz que a vida é curta para não sabe aproveitá-la, em uma área de conhecimento diferente e numa época muito distante.

“Quando empregaste teu tempo contigo mesmo? Quando mantiveste a aparência imperturbável, o ânimo intrépido? Quantas obras fizeste para ti próprio? Quantos não terão esbanjado tua vida, sem que percebesses o que estavas perdendo; o quanto de tua vida não subtraíram sofrimentos desnecessários, tolos contentamentos, ávidas paixões, inúteis conversações, e quão pouco não te restou do que era teu! Compreendes que morres (4) prematuramente. Qual é pois o motivo? Vivestes como se fósseis viver para sempre, nunca vos ocorreu que sois frágeis, não notais quanto tempo já passou;”

Os estóicos defendiam um conceito conhecido como Memento Mori, lembre-se que tudo irá morrer, inclusive — e eu diria principalmente — você. O futuro pertence à Fortuna, o passado não é de ninguém pois nada pode alterá-lo, e apenas o presente pertence a nós. Não quer dizer que devemos faltar com o planejamento, ou ignorar nosso futuro, mas sim que não devemos negligenciar que a vida acontece no agora.

Sêneca defende a ociosidade, mas faz uma ressalva dizendo que os prazeres de uns torna-se sua ocupações indolente, referindo-se aos vícios, a preguiça, a luxúria, etc. Isso acontece quando damos tanta importância aos nosso prazer que ele se torna mais importante o nosso Eu interior. “Dentre todos os homens, somente são ociosos os que estão disponíveis para a sabedoria;eles são os únicos a viver, pois, não apenas administram bem sua vida, mas acrescentam-lhe toda a eternidade.” Aqui eu acredito que ele demonstra um pouco de apego à própria profissão e ao próprio modo de vida — após ter criticado quase todos os outros -, mas nem por isso o raciocínio é menos pertinente. Aqueles que estão dispostos a aprender conseguem aproveitar melhor seu tempo pois são capazes de aprender com a experiência de outras pessoas.

“Podemos afirmar que se dedicam a verdadeiros deveres, somente aqueles que desejam estar cotidianamente na intimidade de Zenão, Pitágoras, Demócrito, Aristóteles, Teofrasto e os demais mestres de virtude. Nenhum deles deixará de estar à nossa disposição […] Nenhum destes forçará tua morte, todos te ensinarão a morrer, nenhum dissipará teus anos, mas te oferecerá os seus. deferência. […] Conseguirás deles tudo o que quiseres: não será deles a culpa se não tiveres exaurido tudo o que desejas.“

É hipocrisia lutar pela liberdade sem permitir a ti mesmo que sejas livre. Não deixe que o trabalho te impeça de ligar para os seus pais, que teus planos não guardem tempo para brincar com as crianças ou que a pressa seja maior que sua vontade de acariciar o gato.

Essa resenha foi elaborada por Kaique dos Santos, um brilhante coordenador do SFLB. Contate Kaique pelo e-mail kaiqueoliveira@studentsforliberty.org.

Dúvidas, sugestões e elogios pelo e-mail resenhapramim@studentsforliberty.org

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O resenha pra mim é uma iniciativa de coordenadores do SFLB que visa resumir livros liberais com qualidade. Escreva para: resenhapramim@studentsforliberty.org