VIRE À ESQUERDA: COMO O VIÉS DA MÍDIA LIBERAL DISTORCE A MENTE AMERICANA — Timothy Groseclose (2011)

Por Jhone Carrinho

RESENHA PRA MIM
Resenhas Liberais
Published in
4 min readMay 12, 2020

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Em um universo diferente, um livro como este nunca teria sido escrito. Não porque seja de alguma forma falsa (está tão longe disso quanto é intelectualmente possível), nem porque seu assunto é desinteressante ou chato. Não, esse tipo de livro não deveria ter sido escrito, porque em um mundo perfeitamente honesto não haveria absolutamente nenhuma necessidade. O fato de a maioria dos meios de comunicação se inclinar pesadamente para a esquerda deve ser tão óbvio para qualquer pessoa intelectualmente honesta que um livro como esse seria empilhado na livraria entre o livro que prova que o céu é azul e o que demonstra a umidade de água. Infelizmente, não vivemos em um mundo perfeitamente honesto.

Existem muitos outros livros que tratam desses tópicos escritos nas últimas duas décadas, e cada um deles teve uma visão interessante e perspicaz sobre o viés da mídia de esquerda. No entanto, o que distingue a “curva à esquerda” é seu escopo, precisão e os altos padrões de pesquisa academicamente aceitos.

O autor, Tim Groseclose, é um cientista social distinto, e todo o trabalho em que este livro se baseia já havia aparecido anteriormente em revistas especializadas de alto nível. Isso não significa necessariamente que seu trabalho esteja livre de erros de qualquer tipo, mas aumenta significativamente a fasquia para quem quer que ele seja descartado imediatamente.

Uma das principais lições que qualquer pessoa pode tirar da leitura deste livro é que o viés político é uma coisa muito real, é possível defini-lo operacionalmente, é possível mensurá-lo e, o mais importante, é possível tirar conclusões significativas sobre os indivíduos e instituições que incorporam diferentes graus de viés.

O preconceito, por si só, não significa que os indivíduos e os meios de comunicação estejam mentindo abertamente, a fim de apresentar as histórias e as informações de uma maneira que favoreça seu próprio “lado”. Esse tipo de preconceito existe, mas é relativamente pequeno comparado às principais fontes de preconceito da mídia — apresentando seletivamente fatos e histórias de tal maneira que a imagem completa fica irrevogavelmente distorcida.

Groseclose mostra exemplos de como esse tipo de viés opera, e fornece uma estimativa da extensão em que as vinte fontes de notícias mais significativas nos EUA são tendenciosas (Newsflash — exceto Fox News e Washington Times, todos eles, de acordo com o autor, se inclinam para a esquerda).

Um dos meus capítulos favoritos no livro é aquele em que Groseclose decide tentar visitar uma cidade dos EUA que se inclina para a direita em aproximadamente a mesma quantidade que a redação típica se inclina para a esquerda. Essa é uma tarefa quase impossível, e ele apenas consegue aproximadamente uma pequena cidade em Utah, dominada pelos mórmons e colonizada pelos sulistas no século XIX. Mesmo assim, o lugar é geralmente agradável para todos os seus moradores (até mesmo para o chefe do partido Democrata local) e está muito longe da retórica estridente e da extrema esquerda que é encontrada na maioria das fontes de notícias hoje em dia.

As seções finais do livro discutem algumas afirmações realmente notáveis: se não fosse pelo viés extremo da mídia, a população dos EUA como um todo estaria inclinando-se ainda mais para a direita. Em outras palavras, se todos os meios de comunicação da noite para o dia decidissem ser perfeitamente “moderados” em toda a sua cobertura de notícias, eles ainda estariam substancialmente à esquerda do que a maioria do público consideraria as tendências políticas “naturais”. Essa é realmente uma afirmação muito forte e, embora Groseclose forneça alguns argumentos e evidências convincentes para fundamentá-la, é um tópico que realmente não foi completamente pesquisado.

Basicamente, ao que parece, Groseclose determinou o viés da mídia indiretamente, comparando-o com a orientação política dos senadores americanos. O que ele descobriu depois de fazer isso é que a maioria das fontes de notícias tem um viés liberal, e se alguém assume também que esse viés afeta seu público, as pessoas se tornam mais liberais como resultado da exposição. O autor aparenta partir de pressupostos para agradar uma determinada classe conservadora, que de fato são os que mais leem essa obra, e isso acaba pecando um pouco na qualidade final do livro.

No geral, este é um caso muito legível e bem apresentado para a existência e a extensão do viés ideológico na mídia. Todos os conservadores (aos quais o livro parece ter sido dedicado em sua concepção) que desejam estar bem informados sobre esse assunto devem lê-lo, bem como todos os independentes e liberais de espírito justo.

Essa resenha foi elaborada por Jhone Carrinho, um brilhante coordenador do Students For Liberty Brasil. Contate Jhone pelo e-mail jhonecarrinho@studentsforliberty.org.

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O resenha pra mim é uma iniciativa de coordenadores do SFLB que visa resumir livros liberais com qualidade. Escreva para: resenhapramim@studentsforliberty.org