O mundo mágico de Larissa Manoela

A Disney e a realidade se convergem na biografia da estrela teen

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resenhas
5 min readAug 7, 2020

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Crescer sob os holofotes não é fácil: a exposição, o assédio e as críticas parecem ter consequências devastadoras para a saúde mental de quem conhece a fama cedo demais –– vide Lindsay Lohan, Macaulay Culkin e Rafael Ilha.

Por outro lado, há quem não se abale com o hostil mundo do entretenimento. É o caso da atriz, cantora e tiktoker Larissa Manoela, que cresceu diante das câmeras e desde pequena teve que lidar com comentários depreciativos, sobretudo a respeito de seu estilo e de seu numeroso histórico de ex-namorados. Com frequência, ela foi acusada de incentivar a erotização precoce de outras meninas sob a justificativa de que seu visual e comportamento eram inapropriados para a idade. Felizmente, a estrela teen nunca se envolveu em polêmicas, e sempre manteve uma postura invejável diante dos constantes ataques.

Larissa Manoela rebate as críticas sem afundar o nível.

Ainda hoje, aos dezenove anos, Lari tem que enfrentar os inconvenientes julgamentos de desconhecidos. Mas, da última vez, não foi o excesso de maturidade que incomodou: ela foi massacrada nas redes sociais por se comportar de maneira supostamente infantilizada. O motivo de tanto ódio? Seu quarto com a temática Disney.

Larissa Manoela e a decoração que incitou a fúria dos internautas nesta semana.

Como sempre muito equilibrada psicologicamente, Lari serviu os fatos e pisou com classe nos haters. Afinal, não é nenhuma novidade que ela ama a Disney, e em meio ao caos que assola o planeta, suas bonecas de princesas não deveriam causar tamanha comoção.

Larissa nunca teve vergonha da paixão pela Disney, e seu hábito de levar os novos namorados para conhecerem o complexo de parques na cidade de Orlando, onde possui duas mansões, também é de conhecimento público.

Toda essa obsessão pela Disney fica bastante evidente no livro O mundo de Larissa Manoela (2017), no qual a atriz já não tão mirim assim revela detalhes de sua vida pessoal. Logo na abertura, Lari se descreve como uma garota sonhadora, e relaciona essa personalidade onírica com o mundo mágico da Disney. Aí, por cerca de seis páginas, a ídola teen discorre sobre sua crença de que Mickey não é apenas um personagem, e sim uma entidade real responsável por comandar todos os Mickeys ao redor do mundo. Para sustentar a afirmação, ela recorre à filosofia e à teologia, argumentando que acreditar no Mickey é como acreditar no Papai Noel ou em Deus –– nos quais, vale ressaltar, Lari também tem muita fé.

Se Mickey está para Deus, o castelo da Cinderela está para o Cristo Redentor.

Na sequência, Lari dialoga com o leitor e traz à tona uma reflexão interessante: qual é a sua princesa favorita?

Aversa aos estereótipos associados à feminilidade, Larissa Manoela alega ter uma preferência pela Rapunzel da animação da Enrolados, que ela considera ser uma princesa mais “moleca” por não ter medo de falar bobagens e se apresentar de maneira desleixada. E, apesar de se encantar pela Cinderela e seu fabuloso castelo em Orlando, Lari critica o vitimismo da princesa e a importância exagerada que ela dá às aparências.

Larissa Manoela caracterizada como a insegura Bia, sua personagem no longa-metragem Meus quinze anos (2017). Lari aponta que, assim como Cinderela, Bia é outro exemplo de mulher pouco empoderada que se preocupa demais com a opinião alheia.

A Disney conduz grande parte da obra, e Lari, com sua expertise no assunto, inclui até mesmo um roteiro do que fazer nos parques temáticos de Orlando. Mas, como o mundo é de Larissa Manoela, outros tópicos aparecem ao longo da narrativa: a atriz comenta sobre sua expectativa pela primeira menstruação, expõem questionamentos em relação à carreira, esmiúça seu relacionamento às vezes conflituoso com a mãe e relembra sua trajetória escolar.

Depoimento da mãe de Larissa Manoela sobre a honestidade que tem para com a filha comprova que a garota certamente teve a quem puxar.

Vanguardista, Larissa Manoela conta que aderiu ao ensino à distância entre 2015 e 2016, quando estava se dedicando aos papéis das gêmeas Manuela e Isabela em Cúmplices de um resgate, telenovela infantil do SBT. Devido ao grande volume de trabalho, a agora ex-funcionária de Silvio Santos decidiu se poupar e ter acompanhamento com pedagogas em casa, indo à escola apenas para realizar provas. Mas a experiência não agradou: ela confidencia que se sentia muito sozinha sem a convivência com os colegas, e se posiciona com veemência contra o homeschooling.

Na escola tradicional, Larissa Manoela confessa que, apesar de ter muitos amigos, não pertencia a nenhuma panelinha e nem era popular, portanto podendo ser classificada como uma “zé-ninguém”. Isso, no entanto, não significava indiferença ao que acontecia ao seu redor. Lari afirma que nunca tolerou bullying, e que interferia para defender qualquer colega que estivesse sendo injustiçado.

Ícone que se posiciona.

Fora do âmbito escolar, Larissa Manoela também procura ajudar as pessoas: há um capítulo inteiramente dedicado às suas boas ações. A proposta pode parecer um pouco pretensiosa, mas a jovem, sempre humilde, opta por dar voz a terceiros, para que estes relatem as histórias a partir de seus pontos de vista. Assim, ficamos sabendo diretamente de Sheila, uma ex-vizinha, como Larissa Manoela, ainda criança, a ajudou a se recuperar da depressão. A mãe de Matheus, um fã cadeirante, também dá seu depoimento, e conta que Lari se aproximou do filho para incentivá-lo a se empenhar no tratamento que fazia com fisioterapeutas. E, ainda sobre a generosidade da artista, descobrimos seu sonho de abrir uma ONG para cuidar de animais resgatados das ruas.

Mas, apesar personalidade iluminada e da vocação para brilhar, Larissa Manoela admite que, vez ou outra, pensa em desistir de tudo. Em tom de desabafo, ela reconhece que entende por que, nas palavras dela, “certos artistas às vezes piram e surtam”: é muito complexo conciliar a vida privada e a vida pública. Felizmente, logo em seguida ela tranquiliza os fãs, esclarecendo que, a essa altura, largar a carreira está fora de cogitação –– especialmente recebendo tanto carinho.

Mesmo sendo uma leitura voltada para o público infanto-juvenil, me diverti muito com O mundo de Larissa Manoela, e confesso que a obra despertou em mim a vontade de ser amiga de Lari. Mas, já que isso não é possível, desejo que ela faça parte do seleto grupo de artistas mirins que chegaram à vida adulta mentalmente sãos.

Nível de exigência da leitura: Nenhum. Muitas fotos e ilustrações. Letras grandes.

Obra passível de cancelamento? Sim, caso Larissa venha a ser cancelada, a obra será cancelada por consequência.

Para quem a obra é indicada? Para crianças e adolescentes.

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