Entrevista: Cláudia Silva — Corrida Pink Run Solidária

Raphaele Godinho
Resgatando e Valorizando a Mulher
6 min readAug 2, 2018

Você já ouviu falar na palavra “sororidade”? Caso não, saiba agora que sororidade significa, simplificadamente, a união, empatia ou companheirismo entre mulheres. A sororidade é um dos temas mais importantes dessa entrevista, e logo mais você entenderá por qual razão.

Em segundo plano, gostaria de apresentar para vocês uma história maravilhosa que achei durante algumas pesquisas: a da Stamata Revithi. De acordo com diversas fontes ela foi a primeira mulher a correr uma maratona, mas isso não aconteceu de um jeito muito fácil. Durante os Jogos Olímpicos em Atenas, na Grécia, ela foi impedida de participar da prova dentro do estádio por ser mulher. Diante de tal situação, Stamata fez a prova do lado de fora do estádio, um dia depois da realização oficial da corrida. Fontes indicam que isso ocorreu em 1896.

A história de Stamata me lembrou de uma outra história, que muito provavelmente você já viu circulando pelo feed de notícias de seu Facebook: o caso de Kathrine Switzer, a primeira mulher a completar a Maratona de Boston. Por qual motivo é necessário falar de Kathrine? Bem, ela de fato conseguiu realizar a prova, o detalhe é que o feito foi realizado sob agressões de seus “amistosos” colegas de competição. Kathrine correu em 1967.

Estou falando sobre essas histórias para que possamos entender o quão valiosos são os esforços feitos pelas mulheres que vieram antes de nós para que hoje possamos ter igualdade — ou algo perto disso. Se há alguns anos, as mulheres tinham que lutar para ter o direito de correr, hoje, elas correm por elas: elas correm por sororidade. Essa entrevista irá mostrar uma história muito bonita de empatia, de uma mulher que por meio das corridas quer ajudar outras mulheres a terem mais saúde, autoestima e a superarem os obstáculos da vida. Conheçam Cláudia Silva, a idealizadora da Corrida Pink Run Solidária!

Como surgiu a Corrida Pink Run Solidária?

Sou fotógrafa e trabalho nas campanhas de câncer de mama há 10 anos. Faço exposições fotográficas itinerantes anuais, as exposições são feitas com ONGs diferentes e com pacientes diferentes. Eu retrato as pacientes e depois tento conseguir patrocínio para fazer banners, quadros, o que der… Inclusive, teve um ano em que fui no centro da cidade e comprei eu mesma uma seda pink e amarrei com nós diferentes às 12 pacientes, porque eu não tinha dinheiro para fazer a exposição, então (às vezes) eu mesma me viro conforme posso.

Eu fotografei até hoje o total de 77 pacientes, uma delas foi para o quadro “Pedra no Caminho” do Dr Dráuzio Varella, no Fantástico, ela viu, descobriu o trabalho que eu fazia aqui em Sorocaba, se interessou e me convidou. As exposições já foram para Santo André, São Paulo, Cotia e Sorocaba. Eu mesma arrumo a agenda das exposições, os locais, monto os releases, eu sou quem faço tudo, somente conto com o apoio de um salão para arrumar as pacientes. Isso tudo é para aumentar a autoestima da paciente em um momento de dor e também para divulgar a causa, para falar para as pessoas […] Em extensão a esse trabalho eu corro, gosto de correr, e vi que tinha a corrida do Outubro Rosa fora de Sorocaba, em São Paulo principalmente. Fiquei um ano tentando organizar a corrida, muita burocracia, muita dificuldade, pois eu não estava na área das corridas, então eu ouvi bastante “não”. Em 2015 consegui fazer a corrida do Outubro Rosa aqui em Sorocaba e a corrida nasceu para beneficiar — assim como com as exposições fotográficas — várias ONGs e projetos que atendem pacientes com câncer.

(Trabalho da Cláudia no Fantástico: https://www.dailymotion.com/video/x1y2h45 )

Quais são os principais objetivos da Corrida?

Um deles é reverter a renda à ONGs e projetos, divulgar o trabalho dessas organizações, para que as pessoas saibam que os projetos acontecem, que tem ONGs que atendem, o que elas fazem. Outro é incentivar a prática da atividade física, menos sedentarismo mais saúde, todos nós sabemos que quando você pratica atividade física o índice de doenças diminui, você tem mais saúde, você tem mais alegria.

Quais são os principais obstáculos para a realização do projeto?

São muitos, a corrida traz uma alegria um encantamento, eu busco parceiros, faço uma movimentação diferente, mas às vezes a população confunde a diversão com a causa […] as pessoas misturam um pouco e acabam perdendo a noção do quanto a corrida precisa da participação (popular) para ajudar as ONGs.

Outro seria relacionado aos patrocinadores, que precisam entender a dimensão do projeto, ver o que ele traz de bem para a comunidade [..] pensar em investir em um projeto social que atende, que faz toda essa diferença; que atende pacientes com câncer, que atende ONG, que incentiva prática de esportes. Temos muitas barreiras com patrocinadores.

Somente mulheres podem correr ou todos os gêneros?

É pra família toda, temos a participação de todos. Esse ano teremos a versão kids.

Quantas pessoas já foram impactadas pela Pink Run?

Em média tivemos nas 3 edições 2.500 pessoas impactadas, isso pelo número de inscritos nas corridas, mas o número é bem maior porque a cada ano eu realizo treinos gratuitos. Em 2018, por exemplo, eu fiz um treino no Dia Mundial de Combate ao Câncer onde tiveram 500 pessoas treinando com a gente. Se formos somar todas as pessoas, já passamos de 10.000 impactadas.

Como participar da Pink Run?

Para participar da Pink Run é fácil, a gente tem vários sites de inscrição. A pessoa entra no site, se cadastra, normalmente esses sites pedem um e-mail e um telefone, e aí você pode pagar ou com cartão de crédito ou boleto bancário. São sites que já estão no mercado para inscrição de corridas mesmo, a pessoa pode escolher.

(Para se inscrever na Pink Run: https://sites.minhasinscricoes.com.br/4pinkrunsolidaria)

Na sua opinião, qual a importância de projetos como esse nos dias de hoje?

Hoje em dia as pessoas estão preguiçosas, egocêntricas, só pensam nelas mesmas […] e não pensam no próximo, e quando você faz um projeto dessa dimensão você acaba impactando outras pessoas, incentivando elas a terem atos solidários. Acho algo muito importante.

Você crê que a Pink seja um exemplo prático de sororidade?

Com toda certeza a Pink Run é um exemplo de sororidade, pois tenho histórias de pessoas que iniciaram corrida ou caminhada por um bem maior, conheci muita gente solidária, e isso é o melhor de tudo. Na primeira Pink eu tive um grupo de meninas que foram caminhar pela causa, e hoje esse grupo já correu em todas as Pink Run, elas iniciaram nas corridas depois que foram na Pink para caminhar. É realmente um bem maior, é impactante, é uma semente que plantei com o projeto.

Há alguma história em especial impactada pelo projeto que você gostaria de compartilhar?

Uma história que me mobiliza bastante é da Francine. Ela conta que foi no médico e descobriu que estava com câncer, e a médica falou pra ela “Vai caminhar que faz bem” e ela ficou sabendo do treinão gratuito da Pink e foi nesse treinão. Ela se inscreveu para a corrida, correu metade chorando pois se perguntava “Será que ano que vem eu vou estar aqui? Será que eu vou estar careca? Será que eu vou estar morta?”. E a médica dela, as amigas dela, diziam “A gente te leva na Pink de qualquer jeito, nem que seja de cadeira de rodas a gente te leva”. E depois ela correu na próxima, já estava curada, correu chorando, agradecendo. A mãe dela começou a caminhar, ela começou a correr depois, então um grupo do qual ela faz parte, que foi para caminhar, acabou começando a correr também, no final todas elas viraram amigas. Então a Pink iniciou amizades, e fez com que pessoas começassem a caminhar e a correr.

https://www.pinkrunsolidaria.com/

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