Personagens históricos: Antônio Conselheiro

William
Resumos & Resenhas
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6 min readMay 11, 2021
Fonte: Diário do Nordeste

Antônio Conselheiro foi um dos principais personagens na história brasileira. Mesmo após um século da sua morte, ainda ecoam dúvidas sobre ele.

Tratado muitas vezes como um herói e exemplo de resistência, não sabemos ao certo como essa figura mítica foi formada.

Hoje, vamos revisitar sua história contada a partir do livro Os Sertões, obra prima do autor brasileiro Euclides da Cunha.

Sumário

  • Quem foi Antônio Conselheiro?
  • A infância do Conselheiro
  • A maturidade e os eventos marcantes
  • Como se faz um monstro

Quem foi Antônio Conselheiro?

Seu nome completo era Antônio Vicente Mendes Maciel, o Conselheiro. Ou ainda como ficou mais conhecido: Antônio Conselheiro.

Uma das melhores obras que aborda o desenvolvimento da vida de Antônio Conselheiro é o livro os sertões, de Euclides da Cunha.

Com base neste relato histórico é possível traçar um raio-x da vida do Conselheiro, por isso mesmo, vamos falar de cada etapa de modo separado.

Infância

Antônio Conselheiro nasceu em Nova Vila de Campo Maior (conhecida hoje como Quixeramobim) em 13 de março de 1830.

Antônio Conselheiro era filho de Vicente Mendes Maciel, descrito na obra Os Sertões como

homem irascível mas de excelente caráter, meio visionário e desconfiado, mas de tanta capacidade que sendo analfabeto negociava largamente em fazendas, trazendo tudo perfeitamente contado e medido de memória, sem mesmo ter escrita para os devedores

A infância do Conselheiro foi moldada no interior do Brasil, tendo em volta a sombra da sua família.

Pelos episódios narrados, provavelmente o negócio da família e a disciplina do pai ocuparam os primeiros anos da vida do Conselheiro.

Isso fica mais evidente no desenvolvimento da obra, quando Euclides descreve o ambiente de crescimento do nosso personagem, observe:

O filho, sob a disciplina de um pai de honradez proverbial e ríspido, teve educação que de algum modo o isolou da turbulência da família. Indicam-no testemunhas de vista, ainda existentes, como adolescente tranqüilo e tímido, sem o entusiasmo feliz dos que seguem as primeiras escalas da vida; retraído, avesso à troça, raro deixando a casa de negócio do pai, em Quixeramobim, de todo entregue aos misteres de caixeiro consciencioso, deixando passar e desaparecer vazia a quadra triunfal dos vinte anos.

Ainda neste parágrafo temos novas evidências sobre como foi a infância de Antônio Conselheiro e outros elementos que costuraram seus anos iniciais de vida.

É provável que o ambiente tumultuado tenha sido, em grande parte, presente durante a infância e adolescência do Conselheiro.

Isso é alavancado pelas rugas entre família e outras crises comuns do sertão brasileiro. Notamos isso, no relato de Euclides da seguinte forma:

“Todas as histórias, ou lendas entretecidas de exageros, segundo o hábito dos narradores do sertão, em que eram muita vez protagonistas os seus próprios parentes, eram-lhe entoadas em torno evidenciando-lhes sempre a coragem tradicional e rara. A sugestão das narrativas, porém, tinha o corretivo enérgico da ríspida sisudez do velho Mendes Maciel e não abalava o ânimo do rapaz. Talvez ficasse latente, pronta a se expandir em condições mais favoráveis. O certo é que falecendo aquele em 1855, vinte anos depois dos trágicos sucessos que rememoramos, Antônio Maciel prosseguiu na mesma vida corretíssima e calma. Arrostando com a tarefa de velar por três irmãs solteiras revelou abnegação rara. Somente depois de as ter casado procurou, por sua vez, um enlace que lhe foi nefasto

Maturidade

A vida tumultuada do Conselheiro prosseguiu por mais anos. Novos episódios marcam sua existência dramática, como descrita por Euclides de Cunha.

A partir de 1858 é percebida uma transformação de caráter na vida e no modo de atuar de Antônio Conselheiro.

Euclides narra a perda de hábitos sedentários, incompatibilidade com sua esposa e uma vida itinerante. Vamos revisitar isso conforme o próprio Euclides descreveu:

A partir de 1858 todos os seus atos denotam uma transformação de caráter. Perde os hábitos sedentários. Incompatibilidades de gênio com a esposa ou, o que é mais verossímil, a péssima índole desta, tornam instável a sua situação.

Em poucos anos vive em diversas vilas e povoados. Adota diversas profissões.

A partir destes episódios, a vida do Conselheiro é mudada completamente. Sem fixar residência, passa por diferentes cidades no interior do Ceará.

Entre elas Sobral, Campo Grande e Ipu. Rapidamente, no entanto, deixa de buscar um emprego honesto e foca sua busca em profissões “menos trabalhosas”, conforme destaca Euclides da Cunha.

Talvez, um dos pontos principais da mudança de Antônio Conselheiro foi quando sua mulher foge, raptada por um policia em Ipu.

A pancada foi forte e Euclides dá evidência sobre esse impacto. Intensifica-se, a partir daí, sua vida intineirante.

Foi o desfecho. Fulminado de vergonha, o infeliz procura o recesso dos sertões, paragens desconhecidas, onde lhe não saibam o nome; o abrigo da absoluta obscuridade.

Desce para o sul do Ceará.

Para fechar este episódio da sua vida, uma fato marcante acontece em sua história.

Após ferir um parente que o hospedará, a própria vítima não reconhece a culpabilidade do agressor. Assim, Conselheiro é livre de uma prisão.

No entanto, este fato ajudou a marcar sua existência pois era um fato relembrado pelas pessoas, mesmo após a sua partida da cidade.

Como menciona Euclides, “graças a este incidente, algo ridículo, ficara nas paragens natais breve resquício de sua lembrança”.

Como se faz um monstro

…E surgia na Bahia o anacoreta sombrio, cabelos crescidos até aos ombros, barba inculta e longa; face escaveirada; olhar fulgurante; monstruoso, dentro de um hábito azul de brim americano; abordoado ao clássico bastão, em que se apóia o passo tardo dos peregrinos… — Euclides da Cunha sobre Antônio Conselheiro

O título usado neste parte da história é o mesmo do livro Os Sertões, que narra como Antônio Vicente Mendes Maciel se tornou Antônio Conselheiro.

Pouco se sabe o que o Conselheiro fez durante o tempo que saiu do interior do Ceará até aparecer no interior de Pernambuco.

Mesmo assim, analisando sua linha do tempo, vemos que aquele homem já não tinha morada e poucas relações com família ou amigos, se havia algo.

Uma pessoa classificada como testemunha por Euclides disse que conheceu o Conselheiro, e o narrou como sendo:

[…] Antônio Maciel, ainda moço, já impressionava vivamente a imaginação dos sertanejos. Aparecia por aqueles lugares em destino fixo, errante. Nada referia sobre o passado. Praticava em frases breves e raros monossílabos. Andava sem rumo certo, de um pouso para outro, indiferente à vida e aos perigos, alimentandose mal e ocasionalmente, dormindo ao relento à beira dos caminhos, numa penitência demorada e rude…

Euclides o narra como sendo um personagem conhecido pelos sertões brasileiros. Seu relato é tão forte que é necessário usar as mesmas palavras.

Tornou-se logo alguma cousa de fantástico ou mal-assombrado para aquelas gentes simples. Ao abeirar-se das rancharias dos tropeiros aquele velho singular, de pouco mais de trinta anos, fazia que cessassem os improvisos e as violas festivas.

Era natural. Ele surdia — esquálido e macerado — dentro do hábito escorrido, sem relevos, mudo, como uma sombra, das chapadas povoadas de duendes…

Passava, buscando outros lugares, deixando absortos os matutos supersticiosos.

Dominava-os por fim, sem o querer.

Por tudo isso, Antônio Conselheiro entrou nos rincões do Brasil e foi arrebatando um monte de gente.

Seja por sua excentricidade ou pela capacidade em sintetizar os pensamentos e ações daquele povo do interior brasileiro.

De um lado, seu aspecto e hábitos simples rememoravam a pobreza que assovala a região do país.

Por outro lado, sua capacidade de síntese fornecia uma ideia profética. Como se fosse uma voz ecoando nos sertões do Brasil.

Como Euclides narra: “E cresceu tanto que se projetou na História…”

Todo esse texto foi baseado na obra Os Sertões, escrito por Euclides da Cunha. A obra está sob domínio público e pode ser acessado livremente.

Há também opções pagas, sobretudo para quem deseja adquirir o formato físico. Abaixo, algumas opções de leitura.

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