Resenha do livro Homo Deus
Amplo, mas superficial.
Recentemente li o livro “Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã” escrito por Yuval Harari.
O autor reflete como se dará o processo de evolução da humanidade nos próximos anos, complementando o seu best seller Sapiens, que mostrou como os humanos evoluíram para chegar até os dias de hoje.
Apesar de escrito pelo mesmo autor, e de certo modo serem complementares, “Sapiens” e “Homo Deus” são produtos de lavras diferentes.
Por isso mesmo, quem gostou do primeiro livro do autor talvez não sinta interesse pelo segundo. E vice versa.
Para evitar a compra de um livro indesejado, leia abaixo a resenha completa e decida se vale a pena ou não a sua leitura.
Conteúdo da publicação
- Resenha do livro Homo Deus
- O que é bom no livro
- O que é ruim no livro
- Vale a pena comprar ou não?
Resenha
Ao ler o livro Homo Deus tive a impressão de estar em um imenso lago sem nenhuma profundidade.
Apesar de ser interessante “nadar” no conteúdo e conhecer os fatos, não dava pra ir muito fundo.
O autor introduz uma série de histórias e amarra isso dentro da argumentação. Mas, se empolga tanto que perde espaço para profundidade das coisas.
Apesar das mais de 400 páginas, grande parte delas é usada apenas para narrar eventos e não dialogar essencialmente com o amanhã.
O livro é iniciado com uma introdução de mais de 70 páginas. Neste estágio, o leitor acredita que os próximos capítulos seguirão a mesma lógica, mas não…
O autor usa cerca de 300 páginas e 8 capítulos apenas para contar histórias e narrar fatos que já ocorreram. Isso mesmo, o grosso do livro fala sobre o que fomos e não pra onde vamos.
Harari, se prende a um tópico e disseca ele de diferentes formas e dimensões. Traz pesquisas, dados e fatos…
…No entanto, em grande parte do seu texto são criadas e estabelecidas pontes sobre o raciocínio ao invés de mostrar algo tangível, de fato.
Por exemplo, o autor mostra como o total de curtidas no Facebook pode demonstrar a personalidade de uma pessoa.
E por isso mesmo, pode estabelecer conexões muito mais relevantes até mesmo que os amigos, parentes e pessoas próximas do usuário.
Mas, para por aí. Harari não entra no mérito de como isso vem corroendo os tecidos democráticos, as imensas falhas de comunicação e a subjetividade disso tudo sobre o amanhã.
Algoritmos de Destruição em Massa é um livro muito bom que trata de modo essencial como não só o Facebook, mas a coleta de dados vem mudando nossa sociedade e sendo um problema sério para todos.
Harari só retorna o futuro da humanidade na porção final, fechando todos os pontos soltos nas páginas anteriores para uma conclusão.
Isso gera uma expectativa ruim no leitor. Pois no início da leitura existe um sentimento de incerteza sobre o amanhã.
Mas, o grosso do conteúdo é dedicado a narrar eventos e não refletir sobre os impactos, de fato, na nossa sociedade futura.
Mesmo assim, o livro tem os seus acertos. Vamos falar deles.
O que é bom no livro?
Yuval Harari é um excelente escritor e contador de histórias. Habilidades imensas para quem escreve um livro.
Por isso mesmo, apesar de Homo Deus ser um livro extenso, a leitura flui rapidamente e sem cansaço.
Similar ao que acontece na primeira parte da biografia do Barack Obama, temos a capacidade de entender conceitos difíceis de modo bem simples.
Existe coesão nos parágrafos, sintonia nas ideias e o tema que o autor explora é muito interessante de ser lido.
Mérito do autor que é capaz e deixar a história tão instigante, e mesmo sendo tão ampla, não se perder no meio dela.
Outro ponto de destaque é que todo o livro é apoiado em referências sólidas, sem achismos. Assim, podemos ver ao final do livro dezenas de livros, dados e artigos compilados.
Por fim, o livro tem várias ilustrações. Ao todo, são 50 imagens exibidas para que o leitor entenda o que vem sendo apresentado.
Mas, existem problemas… Vamos falar deles também.
O que é ruim no livro?
Homo Deus possui dois grandes “problemas”. O primeiro é a argumentação simplista e o segundo é a falta de densidade nos temas abordados.
Bem, em relação a argumentação reducionista, Harari tenta por diversas vezes propor ideias que simplificam eventos complexos.
A redução não é sadia, e pior ainda, empurra para o leitor a crença de que aquilo é uma verdade irrefutável. Em Sapiens, por exemplo, o autor escreveu:
“Os inventores da bomba atômica deveriam ganhar um Nobel por terem garantido a paz no mundo” — Harari
Será mesmo? Reduzir o impacto da bomba atômica na sociedade atual e futura é uma abordagem muito reducionista.
Em Homo Deus o autor repete essa estratégia e adota argumentos simples para problemas e eventos, novamente, complexos.
Abaixo você pode ler a ideia de que se apenas “superarmos algumas dificuldades técnicas” poderíamos criar um paraíso na Terra. Será mesmo?
Outro grande problema em Homo Deus é que o autor não se aprofunda os temas para garantir uma boa base de compreensão do que é analisado.
Na verdade, Harari traz elementos que fortalecem sua visão, com histórias que favorecem a sua narrativa.
Isso acontece no capítulo que o autor discorre sobre a revolução humanista e dedica apenas um parágrafo para falar sobre a educação humanista.
Harari reduz e contrai tanto as coisas que alguém que é de fora passa a acreditar que a educação humanista é só aquilo mesmo.
Não é. Na verdade, disciplinas de pós-graduação, pesquisadores, professores e alunos passam anos a fio pesquisando o tema a fim de conseguir definir o que é, como é e como se dá a educação humanista.
Mesmo assim, Harari não introduz nada dessa densidade quando aborda o tema. Veja na imagem abaixo o parágrafo que o autor reduz a educação humanista em ensinar os estudantes a pensar por si mesmos.
O mesmo vale para as longas passagens tentando desmembrar as nuances dos algoritmos de inteligência artificial e aprendizado de máquina.
O autor mira numa simplificação da realidade. Não dedica nenhum parágrafo para falar sobre o que já vemos e sentimos.
Estes dois problemas, ao meu ver, são os principais defeitos no livro escrito por Harari.
Isso pode desencadear uma sensação de angústia em leitores desavisados. Pessoas que nunca tiveram contato com algoritmos de inteligência artificial, por exemplo, podem pensar que estamos próximos do fim da sociedade humana e que os algoritmos irão dominar o mundo brevemente.
Não é por aí. Tudo indica que o processamento de dados e o uso de algoritmos irão cada dia a mais desempenhar um papel crucial na sociedade.
Mas, ninguém ainda sabe ao certo como isso se dará. Em Homo Deus, no entanto, isso é alarmado.
Vale a pena comprar o livro Homo Deus?
A resposta é: depende.
O livro, como eu disse, é muito bom pelas histórias e referências que trás. Isso pode ser de grande ajuda para montarmos um repertório.
A leitura é interessante, o tema é instigante, e o autor escreve muito bem.
Mas, seu conteúdo é superficial e tende a ser mais alarmista do que tangível, de fato.
Isso, inclusive, é apresentado nas páginas finais em que Harari afirma que ninguém sabe ao certo como será o futuro da humanidade.
Por isso, minha recomendação é que se você optar por comprar a obra esteja preparado para ler mais sobre eventos interessantes do que compreender o futuro da humidade, de fato.
Caso tenha interesse em adiquirí-lo, o livro está disponível na amazon por menos de R$ 35,00. Link abaixo: