Resumo & Resenha de Contato, de Carl Sagan

William
Resumos & Resenhas
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8 min readMar 2, 2021
Céu estrelado a partir de uma floresta

Como seria o contato entre uma civilização extraterrestre com o pessoal aqui da Terra?

Este é um dos panos de fundo do desenrolar da história do romance Contato, escrito pelo genial Carl Sagan.

Sagan, aliás, é mundialmente conhecido como um comunicador científico. Criador e apresentador da série Cosmos e uma bússula para os cientistas.

Sagan surpreende a todos ao escrever um romance. Diferente de todas as demais obras do autor, como seus artigos ou livros científicos, Contato é um romance.

Vamos mergulhar — ou melhor — viajar nesta maravilhosa história.

Resumo do livro Contato

Capa do livro Contato, de Carl Sagan
Contato, de Carl Sagan

Em termos gerais, a história gira em torno de Ellie, uma cientista que passa a vida estudando o céu a fim de encontrar algum sinal de vida inteligente.

Ao mesmo tempo que busca estes sinais extraterrenos, Ellie precisa lutar para descobrir se existe vida inteligente na própria Terra.

Diversos desafios são expostos, como a falta de financiamento em pesquisa e a ridicularização por parte de outros cientistas devido a excentricidade de seu trabalho.

No entanto, o inacreditável acontece. Depois de anos e horas vasculhando as imensidões do céu, Ellie capta um sinal forte e estável da estrela Vega.

A mensagem tem um padrão, e é diferente de todos os ruídos conhecidos. Não era obra humana, mas de alguma inteligência desconhecida.

Para contar o desenrolar dessa história, Contato é dividido em três partes: a mensagem; a máquina; e, a galáxia.

Cada parte possui um conjunto de acontecimentos e aborda um aspecto importante da história. Vamos detalhar cada um.

A mensagem

A primeira parte, a mensagem, narra em linhas gerais a vida e o crescimento de Ellie.

Seus dramas pessoais, como perda prematura do pai; sua paixão e interesse em observar o céu e sua formação acadêmica.

Ellie trabalha com imensos radiotelescópios. Sua rotina é basicamente ficar horas ouvindo ruídos e sons captados pelas antenas a busca de algum sinal de vida inteligente fora da terra.

Quase sempre, os ruídos são sinais dos próprios humanos. Como rastros de aviões ou transmissões clandestinas.

No entanto, certo dia, ela percebe um padrão de sinal diferente dos demais ao vasculhar o céu.

O sinal tem uma estrutura diferente. Rapidamente a comunidade científica é alertada e todos que tinha acesso a um radiotelescópio miram o mesmo ponto no céu.

Em questão de horas, uma imensa rede ao redor do mundo capta as estranhas ondas vindas da estrela Vega, sem saber o que aquilo quer dizer.

Nesta primeira parte do livro, a mensagem é recebida e aos poucos decodificadas. Eles descobrem, por exemplo, que a mensagem possui um sinal de televisão embutido.

E por incrível que pareça, o sinal é de Hitler apresentando uma cerimônia de abertura dos jogos olímpicos.

A transmissão, na verdade, foi a primeira forte o suficiente para viajar além das fronteiras terrestres e ser captada por Vega. Por isso foi usada por extraterrestres como um cartão de visitas que haviam recebido a mensagem.

Além da transmissão da cerimônia de abertura, existe um código cifrado na mensagem. Que depois de algum tempo descobre-se ser um conjunto de instruções para construção de uma máquina.

A máquina

Na segunda parte da história Sagan nos apresenta o processo de construção da máquina.

Muitas discussões políticas, filosóficas e religiosas são tratadas. Diferentes pontos de vistas são analisados.

Será que devemos construir? E se ela abrir um buraco negro e uma civilização inimiga nos atacar? E se ao ligar, não acontecer nada? E se…?

Com todos os empecilhos, a construção é iniciada. Patrocinada, em partes, pelo potencial tecnológico que ela proporcionaria aos países participantes.

Ao mesmo tempo, no entanto, problemas de origem técnica e social emergem. Como ilustração, o fato dos países gastarem trilhões de dólares sem saber ao certo para que a máquina serve.

Carl Sagan nos brinda com excelentes exemplos técnicos de construção e discorre, por meio da sua personagem principal, todos os entraves.

Sagan é didático ao explicar o funcionamento, construção e estrutura da máquina para um público pouco leigo.

Além disso, também é profundo e filosófico. Constrói argumentos e discussões profundas sobre o impacto dessa construção.

A galáxia

O ápice da obra, ao meu ver, é a terceira parte do livro que ilustra a viagem pela galáxia usando a máquina construída com ajuda dos Veganos — habitantes da estrela Vega, como são chamados pelos humanos.

Cinco tripulantes, incluindo Ellie, embarcam sem saber ao certo qual é o destino, se irão voltar e como poderão se comunicar.

São eles, os desbravadores. Os primeiros humanos a fazerem contato com uma raça incrivelmente avançada. O que esperar? O que falar? O que levar consigo?

Bem, ao ligar a máquina, a viagem é feita por meio de uma série de túneis que ligam diferentes pontos da via Láctea.

Ao chegarem em Vega, por exemplo, percebem que estão próximo de um transmissor. Não há civilização, apenas um satélite — ou antena — que transmitia os sinais para a Terra.

A frustração é imensa ao perceberam que viajaram 25 anos luz para encontrar um aparelho vagando pelo espaço.

No entanto, a máquina entra um novo túnel, e isso se repete. Sagan é genial neste ponto da história.

Os túneis funcionam como uma espécie de rede de transporte intergaláctico. Um metrô para sair de um ponto A e chegar até um ponto B, ou C, ou D.

Ao perceberem isso, notam que estão muito mais distante do que supunham. Sua ansiedade só acaba no momento que vislumbram uma construção enorme, como um ponto central de destino.

Lá, diversos pontos de chegada. Alguns enormes, para máquinas mais robustas e mais complexas. Outros reduzidos, como a que eles estavam.

A máquina atraca no ancoradouro e a pergunta emerge: quem será o primeiro a fazer contato com a nova civilização?

Bem, na verdade não foi nenhum deles. Sagan é genial, novamente.

Prevendo a dificuldade de apresentar o contato direto entre humanos e uma civilização tecnológica extremamente evoluída, Carl Sagan acha uma saída interessante.

Todos os tripulantes descem em uma praia. Logicamente, é um holograma. Mas há areia, mar e animais. Não há rastro ou vida inteligente, apenas os cinco tripulantes conversando entre si.

Então, durante o sono, os alienígenas coletam informações de cada um ao acessar o subconsciente.

Ao acordarem, cada tripulante tem uma conversa emulada com um ser extraterrestre que toma uma forma humana.

No caso de Ellie, seu pai aparece e trás consigo um monte de informação. Ambos conversam sobre a vida, sobre a máquina, os túneis e como são as civilizações.

O pai emulado de Ellie conta que nem eles sabem como os túneis foram construídos. Já estavam lá, eles apenas “descobriram” e fizeram uso deles.

Além disso, outras revelações são feitas. A primeira delas é que existem milhares de milhões de civilizações na Galáxia.

A segunda delas é que muitas trabalham cooperando entre si, construindo obras de engenharia que envolvem diferentes civilizações.

E que a Terra, é apenas mais

Ao voltarem a Terra, ninguém acredita na história deles. Passaram poucas horas desde que a máquina foi ligada e, durante esse tempo, os cinco tripulantes viajaram até o centro da via Láctea.

Ao chegarem aqui, surgem os problemas. Não há provas físicas e documentais que comprovem a viagem.

Por isso, são obrigados a inventarem histórias fantasiosas para a opinião pública ao invés de contar o que, de fato, houve.

O livro trás todos os aspectos que um contato deste nível causaria. Desde pressões políticas, tecnológicas, mercadológicas, filosóficas, pessoais, e claro, humanas.

Paralelos e diferenças entre o livro e o filme Contato

Atenção, este trecho contém spoilers do filme.

O livro Contato nasceu de um roteiro de cinema rascunhado por Carl Sagan e Anny Druyan entre 1980–81, que foi lançado apenas em 1997.

O filme, aliás, é muito bom, ainda mais se considerarmos a época de lançamento.

Mesmo assim, existem diversas muitas — mas muitas — diferenças entre ambas as obras.

Ler ou assistir Contato, trará diferentes perspectivas. Vou destacar abaixo o que é igual e o que é diferente.

O que é igual?

O desenrolar da personagem principal — Ellie — segue quase a mesma linha cronológica entre filme e livro.

A personagem principal, aliás, realmente parece ser a que Sagan descreve em sua obra.

A disputa e conflitos entre poderes políticos, religiosos e sociais são muitos semelhantes em ambas as obras ao detectar a mensagem e construir a máquina.

As dificuldades encaradas pela personagem principal desde a falta de financiamento, acreditação e apoio da comunidade é idêntica no filme e no livro.

Muitos dos personagens retratados no texto, também existem no filme. Mesmo assim, as semelhanças param por aqui

O que é diferente?

Praticamente tudo.

Em primeiro lugar, a personagem principal tem diversos dramas que existem apenas no texto.

Ellie

No filme Ellie perde seu pai e mãe prematuramente, tornando-se uma criança solitária.

Enquanto isso, no livro, Ellie perde apenas seu pai. Sua mãe casa com outro homem ao qual ela não é nenhum pouco amistosa.

O livro retrata sua rebeldia e frieza durante seu crescimento e seu relacionamento tumultuado entre mãe e padrasto.

No livro, Ellie perde sua mãe após seu regresso da viagem interestelar e descobre que seu falecido pai, não era o seu pai verdadeiro. O pai verdadeiro dela era seu padrasto.

Máquina

A máquina construída no livro leva 5 tripulantes enquanto no filme leva apenas 1.

Não existe uma sabotagem na primeira máquina e uma segunda máquina escondida, como o filme retrata.

No livro existe a construção de uma única máquina no Japão, que sofre um sério problema causado por uma explosão, sem ocorrer sabotagem.

Personagens

Existem muitos personagens secundários no livro que não aparecem no filme. Esses personagens são interessantes, pois narram estereótipos distintos.

Por exemplo, um tripulante do voo era da Nigéria e um dos principais pesquisadores era russo. No filme, só Ellie ganha destaque.

No livro, não há um par romântico tão evidente como no filme. O livro narra apenas relacionamentos superficiais de Ellie.

Por fim, o filme é uma versão reduzida da história. Com menos personagens, menos complicações e mais romantizada.

Mesmo assim, vale a pena ser assistido. Ambas as obras se complementam já que cada uma possui seus pontos fortes e fracos.

A construção e operação da máquina, por exemplo, são bem ilustradas nas cenas. Enquanto que o livro fornece apenas informações descritivas.

Os personagens são mais complexos no livro. No filme, são mais simples.

Considerações finais

Sagan é o autor de umas da reflexões mais bonitas já feitas a cerca da humanidade: o “Pálido Ponto Azul”.

Caso ainda não tenha lido ou ouvido, recomendo fortemente assistir o vídeo abaixo. uma das melhores reflexões que Sagan fez ao ver a fotografia da Terra tirada próxima a Saturno.

Vídeo da narração do Pálido Ponto Azul

Sagan mergulha novamente no desconhecido ao propor Contato. Diferente de tudo até então, a obra é um romance que mescla ciência, ficção e realidade.

É, sem sombras de dúvidas, uma obra essencial para quem é fã do genial Carl Sagan. As passagens e os personagens imergem num mundo interessante e científico.

Caso tenha interesse em adquirir, o livro custa menos de R$ 30,00. Vale cada centavo. Palavra de quem leu!

Livro contato
Livro Contato

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