Resumo & Resenha de Uma Terra Prometida, de Barack Obama

William
Resumos & Resenhas
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19 min readFeb 23, 2021

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Uma Terra Prometida por Barack Obama

O ex-presidente americano Barack Obama liderou a maior nação do mundo por 8 anos. Naturalmente, chegar ao cargo mais importante do planeta não é uma tarefa simples e fácil. Na primeira parte de sua biografia intitulada “Uma Terra Prometida” (em inglês, A Promised Land) Obama passa sua história a limpo. Os ganhos, perdas, batalhas e um amplo resumo de sua vida. Neste texto, vamos destrinchar o livro do ex-presidente americano fazendo um resumo & resenha da obra que chegou recentemente as livrarias físicas e digitais.

Dados técnicos:

  • Título: Uma Terra Prometida
  • Editora : Companhia das Letras; 1ª edição (17 novembro 2020)
  • Idioma : Português
  • Capa comum : 764 páginas
  • Dimensões : 16 x 3.7 x 23 cm
  • Valor: R$ 49,90 (física) R$ 39,90 (digital)

Resumo

Uma Terra Prometida, mais do que um livro biográfico, é uma obra que ultrapassa diferentes camadas literárias. Na primeira parte de sua biografia, Barack Obama apresenta todo o caminho que trilhou até a conclusão de seu primeiro mandato como presidente dos Estados Unidos. Transpassar tanta informação, obviamente, não seria uma tarefa simples. Por isso mesmo, vamos detalhar as diferentes percepções de resumo que Uma Terra Prometida pode nos fornecer.

Resumo técnico

“Uma Terra Prometida” é dividida em capítulos extensos, narrando eventos de modo cronológico. Por isso, o leitor não vai ficar perdido com datas, acontecimentos ou o momento histórico ao qual o autor, Barack Obama, se refere. Alias, todo o texto é balizado com datas que estabelecem, de um modo muito objetivo, e período que é narrado. Em poucos momentos Barack Obama introduz algum acontecimento dissonante, mas que durante a leitura, é costurado com a linha de tempo principal.

A versão física possui um excelente acabamento, mas por ser um livro de 764 páginas com capa mole, naturalmente pode ser desconfortável de se manusear (sobretudo para quem gosta de ler deitado na cama ou no sofá). Nesta hora, uma mesa é uma boa companhia para repousar a obra enquanto lê. A versão digital resolve este problema e facilita a marcação das principais passagens por meio dos recursos digitais.

Resumo da escrita

O texto é narrado, sempre, em primeira pessoa. O que não é de se estranhar, visto que o autor da biografia é o próprio Barack Obama. Quase sempre ao introduzir algum personagem relevante ele apresenta um resumo da personalidade, revisita momentos e amarra isso tudo com uma linha principal. Isso vale para seus familiares, assessores, líderes mundiais e até mesmo para descrever o presente do senador democrata Ted Kennedy, uma cãozinho para a família.

O estilo de escrita de Barack Obama é muito pessoal, o que dá a impressão de estar lendo uma história de alguém conhecido. Em muitos momentos, reflexões individuais se escapam dos fatos, revelando pensamentos e angústias. Ao mesmo tempo, vida pessoal e profissional se enrolam de um modo muito intenso, revirando acontecimentos entre sua família e seu cargo. Isso não é simples de ser feito, pois Obama mistura sua vida pessoal e profissional nestas situações, gerando ocasiões — no mínimo — disruptivas. Por exemplo, ao descrever seu compromisso com o clima narra uma reunião tensa com líderes mundiais para reduzir a taxa de emissão de carbono. Após um confronto forte e intenso, consegue formalizar um acordo. Com esta importante vitória, Obama regressa para Casa Branca, em Washington, e ao dormir sua esposa Michelle relembra-o de que apesar de salvar o clima do planeta, ele ainda precisa cumprir uma promessa que fizera a sua filha: salvar os tigres. Já que a pequena havia tido uma aula sobre a extinção destes animais, e ele, por ser o presidente dos Estados Unidos, precisava fazer algo.

Por fim, Barack Obama escreve muito bem, e ao mesmo tempo, escreve muito. Isso não é um problema ao meu ver. Ao contrário, dá um tom pessoal e interessante a leitura. Talvez, foi por isso que comprei o livro. No momento que comecei a ler a versão gratuita, de amostra, não desliguei mais e meu cérebro ficou pensando em como isso tudo iria terminar. Até porque, esta amostra reduzida tem quase 80 páginas.

Resumo da obra

“Uma Terra Prometida” é apenas a primeira parte da biografia do ex-presidente Barack Obama, por isso mesmo narra apenas o estágio inicial da vida política do autor. Mesmo assim, fatores relevantes (que somente um bom livro pode fornecer) são apresentados, como por exemplo, fatos da sua infância e pensamentos da adolescência, sua relação com a família, como os avós, a mãe e a irmã, além de narrar como foi a primeira corrida política, seu cargo de senador e o primeiro ano de seu mandado presidencial.

O livro é dividido em 7 partes, todas extensas, com cerca de 100 páginas cada. Essas porções são divididas por capítulos (na verdade, não são capítulos propriamente ditos, apenas números). E esses números, digo capítulos, são divididos por textos. Vamos falar de cada parte em particular agora:

PARTE 1: A aposta

Na primeira parte de sua biografia, Barack Obama narra os principais eventos da sua infância e adolescência, descrevendo sua família, sua origem e as falando um pouco sobre as duas faculdades que cursou. Conta como conheceu Michelle e sobre o nascimento de suas duas filhas. Tudo isso é apresentado ao mesmo tempo que Obama narra suas investidas na carreira política, alcançando o cargo de deputado e logo em seguida de senador americano. Isso tudo é diluído em poucas páginas, apesar de marcarem profundamente a formação política, social, econômica e pessoal de Obama, grande parte do texto é apresentando elementos de sua vida, aprofundando personagens e momentos marcantes.

A Parte 1 termina, basicamente, no momento que a sua corrida a Casa Branca é iniciada. Entre problemas de todas as naturezas, Obama vê a sua vida pessoal passando por uma intensa crise no casamento, que culmina com relatos de discussões e crises com Michelle, sua esposa. Ao mesmo tempo, Obama usa bem as palavras para contornar os desafios, reforçando o amor e companheirismo que encontrava ao lado de sua esposa e suas filhas.

PARTE 2: Sim, nós podemos

Na segunda parte, focada na corrida eleitoral, Barack Obama narra todo o percurso até receber a indicação do partido democrata como presidente. Lança olhares de bastidores sobre a corrida para a indicação, sua rotina, seus assessores e a gestão de pequenas crises.

Nesta parte da biografia, podemos ver como é a vida de um candidato, e afirmo, não é nada empolgante. Uma rotina marcada por ligações para angariar fundos de investimentos, comícios, decorar discursos, articular cada frase para evitar ser descontextualizada, distância da família, tensões, crises e raxas no próprio partido, crises proporcionadas pela mídia, refeições baseadas em sanduíche, viagens em ônibus (durante o início da candidatura) e aviões (quando conseguiu apoio maior de investidores), horários regrados, poucas horas de sono e uma intensa rotina 7 dias por semana, e muitas horas por dia.

Além disso, merece destaque o comentário de Obama sobre a crise econômica do setor imobiliário, que se deflagraria meses após. Obama destrincha as causas e motivos, demostrando como aquele evento iria marcar sua rotina rumo a presidência, bem como a sua própria presidência. A parte 2 acaba no momento da divulgação do resultado da eleição, a qual elegeu Barack Obama como o 45º presidente dos Estados Unidos.

PARTE 3: Renegade

“Renegade” é o nome que o FBI atribuiu ao presidente. Por isso, serve como título da terceira parte. Agora, já empossado, Barack abre a terceira parte de sua biografia narrando os critérios que tomou para decidir quem seria sua equipe. Alguns fatos interessantes são como ele convenceu Hillary Clinton, que fui sua rival pelas primárias no partido Democrata; convenceu Joe Biden, agora presidente dos Estados Unidos, mas naquela época Senador e que também chegou a disputar a vaga pelo partido; e, talvez, o mais interessante, como decidiu manter alguns cargos chaves nomeados pelo seu antecessor, o ex-presidente Bush.

Os Estados Unidos estavam em guerra com o Iraque e em tensões com governos do Oriente Médio, por isso mesmo, achou que não seria correto remover cargos de confiança do setor de defesa americano, sobretudo do exército. Por entender que uma alteração poderia por em risco a vida de muitos soldados, bem como do próprio futuro do país.

Ainda na terceira parte de Uma Terra Prometida, Obama aprofunda a crise no setor imobiliário, traçando suas estratégias, reuniões, testes de stress, e a dificuldade de equilibrar a economia, a opinião pública e ainda assim, prosseguir com sua agenda reformista. Ao final, faz um balanço que apesar das vitórias, gastou grande parte de seu capital político em poucos meses de governo para aprovar uma reforma vista por muitos críticos como algo mal planejado e problemático.

PARTE 4: O bom combate

Obama abre a quarta parte de sua biografia destrinchando a sua primeira viagem como líder dos Estados Unidos em uma reunião do G20. Barack mostra sua visão dos líderes das maiores economias do planeta, apresenta dados e informações. E, de certo modo, apresenta sua participação efetiva e benéfica para um bem comum, jogando no colo da administração anterior, George W. Bush, os desafios que herdou e as dificuldades que encarou neste encontro.

Nesta parte, o leitor é convidado a entender como funciona a rotina de um presidente, de fato. Por exemplo, Obama destaca sua ação contra os piratas que tomaram conta de um navio comandado por um capitão americano, narrando sua decisão de dar permissão para que a marinha americana matasse os suspeitos. Fala também de suas viagens diplomáticas ao Oriente Médio e a instabilidade de lidar com os autocratas daquela parte do mundo.

Politicamente falando, Barack Obama também introduz a sua luta para implantar um sistema de saúde nacional no pais. Enquanto nós, brasileiros, somos acostumados a usar o SUS sempre que necessário, o ex-presidente americano narra episódios de famílias que evitavam ir ao médico para não falir as finanças pessoais. Deixavam que doenças alcançassem um estágio terminal, para então procurar ajuda. Os elevados custos medicinais eram em parte, segundo Obama relata em Uma Terra Prometida, as principais causas de tantos americanos morrerem prematuramente. Dramas diversos são narrados nesta parte, e após imensas obstruções, revisões, reuniões e remendos, a lei foi aprovada pelo congresso americano. De acordo com Obama, mais de 30 milhões de americanos foram assegurados com um sistema de saúde. Obama destrincha todo esse profundo acontecimento em diversas páginas. Ao leitor, cabe entender aprofundamento os ritos democráticos americanos, que por incrível que pareça, não são tão distintos dos nossos. Ligações para garantir votos, como apoio político e emendas. Mas, Obama narra alguns episódios de deputados/senadores, que aprovaram a lei, mesmo sendo contra, apenas por entender que um sistema de saúde poderia proporcionar para a população carente, sem pedir nada em troca. Segundo Obama, o verdadeiro sentido de ser um político eram por momentos como aqueles.

PARTE 5: O mundo como ele é

Nesta parte da sua biografia, Barack Obama começa apresentando uma rotina pesada por conta do reflexo da guerra. Ler e assinar cartas que seriem enviadas aos familiares de soldados mortos no conflito. Impressiona ver os relatos do presidente com tanta cordialidade e carinho. Impressiona ainda mais, por expor e desnudar as complicações e perdas terríveis que uma guerra proporciona.

Após narrar eventos tristes, e até mesmo a necessidade de enviar ainda mais tropas para o Iraque, Obama relata que recebeu algo inesperado: um Nobel da Paz. Na percepção do então presidente americano, a premiação indicava mais uma percepção futura sobre o caminho da paz a ser seguido, do que necessariamente, apontasse seus feitos. A ironia disso tudo, é que o prêmio foi recebido próximo aos dias que os Estados Unidos enviaram 30 mil soldados (se não me engano) para o front de batalha no Iraque.

Nesta parte, Obama também relembra momentos tensos, como propor o desarmamento nuclear com o Irã, ao mesmo tempo que tenta costurar acordos com a Rússia, a fim de evitar uma escalada nuclear, novamente. A parte 5 termina próximo ao momento que Obama narra sua epopeia para realizar uma articulação em torno das mudanças climáticas. Correndo contra o relógio, entrou de penetra em uma reunião que os presidentes do Brasil, Índia e China firmavam um acordo para não reduzir a emissão de carbono para evitar o desaceleramento econômico de seus países em amplo crescimento. Obama se articula todo e coloca os três mandatários contra a parede, falando que usará o maior microfone do mundo para dizer que os três países evitaram um acordo mundial, que beneficiaria economias fracas e em desenvolvimento, além de criar um fundo bilionário para políticas sustentáveis. Todos sucumbem e assinam o acordo, ao que se entende, pela articulação política de Obama e seu interesse na agenda sustentável.

PARTE 6: A toda prova

Nesta parte da Biografia, Obama apresenta a pressão que sofria de seu próprio país e da mídia americana, contabilizando erros da gestão, sobretudo frente ao fraco desempenho da economia americana. São narrados episódios que mostravam a dissonância de sua visão e agenda política, da divulgada pela mídia americana.

Além disso, Obama descreve duas importantes lutas: a primeira delas o derramamento de óleo no oceano causado pela explosão de uma plataforma exploratória de petróleo. A segunda é sua luta para fechar a prisão de Guantanamo. Os motivos que ganham repercussão sobre o primeiro caso, é por conta da luta ambiental e bandeira que Obama sempre defendeu. Ver seu governo no meio de uma das maiores catástrofes causadas pelo homem. Neste trecho há um longo argumento que Obama apresenta sobre a defesa de um estado. De acordo com ele, a ideia do livre comércio e falta de regulamentações estagnou o interesse de grandes empresas que não previam um colapso, como o da explosão de uma plataforma de petróleo. Por isso, tanto a empresa como o governo estavam de mãos atadas. Foi necessário recorrer a especialistas de outras áreas para auxiliar e desenvolver um plano de ação. E, sobre Guantanamo, as dificuldades de encerrar um problema para os Estados Unidos: com diversos presos acusados de terrorismo, era difícil tomar alguma decisão que deixassem todos os americanos alegres. Para onde enviá-los? Se em muitos casos, não seriam bem vindos nem no país de origem, quanto mais em qualquer prisão americana. Além disso, como julgá-los em um tribunal civil? Já que muitas confissões ocorreram mediante tortura. Obama desata esses e outros nós na parte 6 de sua biografia.

Por fim, a parte 6 encerra com uma derrota que o ex-presidente sofreu. Após uma votação apertada, não conseguiu sancionar a lei DREAM, (acrônimo para Development, Relief, and Education for Alien Minors Act) que em suma, proibia a deportação de jovens ou crianças que foram levadas aos Estados Unidos por imigrantes ilegais.

Parte 7: Na corda bamba

A última parte de Uma Terra Prometida é iniciada com um longo argumento em torno da questão Israel. Obama narra as dificuldades de costurar um acordo entre países, tensões e conflitos gerados. Além, de revisitar o histórico da região e apontar acertos e erros políticos.

Logo em seguida, Obama narra a crise causada pelo ditador líbio, Muammar al-Gaddafi. Em resumo — bem resumo mesmo — um conflito civil enorme se deflagrou na Líbia e poderia por em risco a vida de milhares de pessoas. O governo sírio iria, segundo relato do ex-presidente, ir de casa em casa para identificar dissidentes e após isso nada de bom ocorreria. Em uma articulação, no mínimo estranha e complexa, os Estados Unidos, a França e outras potências atuaram em bloco para evitar o massacre civil. Nesta parte da história, por incrível que pareça, quem ganha destaque é o Brasil. Ocorre que o momento da iniciativa americana ocorreu no mesmo instante que Obama viajava pela América do Sul. Barack narra a reunião com Dilma Rousseff, por exemplo, que precisou ser interrompida para que ele desse a ordem de ataque ao comandante da missão enquanto estava em solo brasileiro. A parte icônica da história é que o Air Force One, avião presidencial equipado para que o presidente comande o país mesmo estando a quilômetros de distância, teve algum problema técnico e não possibilitou estabelecer contato com os generais do exército. Por isso mesmo, Obama fez a ligação por meio de um telefone celular de um assessor em Brasília.

Donald Trump também é introduzido nesta parte final da história. Obama narra suas investidas e mentiras. Como, por exemplo, de que Barack não havia nascido nos Estados Unidos, e por isso mesmo, não poderia ter sido presidente. Essa e outras mentiras são narradas e já mostravam a degradação no tecido democrático norte americano. Impulsionada sobretudo pela mídia, Obama discorre sobre o espaço que emissoras americanas, com Fox News, dava a Donald Trump uma imensa plataforma para catapultar suas mentiras para milhões de americanos. O que Obama não pressentia ainda era que isso seria apenas sinais dos diversos desafios democráticos futuros.

Por fim, Obama termina a sétima parte de sua biografia narrando a operação que executou Osama Bin Laden. Para o ex-presidente americano, caçar o terrorista que vitimou quase 3.000 almas no ataque as torres gêmeas era uma prova da capacidade e do orgulho americano, e sobretudo, um alento as famílias enlutadas. Toda a operação é descrita, desde as reuniões, estratégias e análises feitas. Esse momento marca um evento dramático na carreira do democrata, pois as informações davam conta de que Osama estava escondido em uma casa no Paquistão. Não havia, no entanto, nenhuma prova factível de que o homem era de fato Osama. Por isso, toda a operação foi executada por Seals, a tropa de elite das forças armadas americanas, sob imenso protocolo estratégico-militar. Obama narra os riscos, como invadir o espaço aéreo Paquistanês sem avisar o governo local, pousar 2 helicópteros em uma casa (que ainda não se sabia se era de Osama) no meio de um bairro residencial, prevenir que as mulheres e crianças fossem vítimas, e ainda por cima, confirmar que o elemento procurado era de fato Osama Bin Laden.

Agora que já resumimos o conteúdo do livro, vamos resenhar sobre ele.

Resenha

Uma Terra Prometida, escrita por Barack Obama, é sem sombra de dúvidas um livro completo e interessante para leitores que gostam de biografias. Mas, também gostam de política, economia, gestão e outras tantos assuntos que permeiam a vida pública (e até privada) de um ex-presidente.

Durante as mais de 700 páginas, Obama revisita suas memórias, trazendo de modo simples e objetivo a rotina de um presidente, mas também todos os principais eventos que o levaram a assumir o cargo mais importante do mundo. O livro, como é de se esperar, faz densas críticas as políticas e políticos que não compactuam com sua visão de mundo, exaltando acertos próprios e maximizando erros de outros gestores. Isso ao meu ver, é um ponto interessante. A biografia de Obama narra sua agenda e inclinação política, e o texto absorve com exemplos e situações reais os fatos que levaram Obama a assumir essa visão de mundo. E isso endossa suas ações e articulações. Por ser um candidato que já chegou ao ápice de uma carreira política, a presidência de seu país, mostra apenas o que já fez, sem prometer nada em troca; como é esperado de autores políticos que ainda esperam se candidatar.

A visão ampla do mundo, a agenda democrática, a pauta sustentável e tantos outros assuntos que dominam o caráter político são bem explorados e apresentados. Isso é temperado com eventos reais e naturais da sua família. O apoio de Michelle e o crescimento de suas filhas. As batalhas com os republicanos, e até mesmo os democratas, em certos momentos exploram como a política pode ser uma arena apenas de interesses privados. Mas, a vitória da democracia e uma agenda ampla demonstra o impacto real de mudança que bons gestores públicos podem proporcionar. Isso tudo, entretanto, não é simples de alcançar. O trabalho nos bastidores com sua equipe e o então vice presidente Joe Biden, mostram como a política feita por políticos comprometidos com causas verdadeiras e honestas podem causar um impacto positivo na sociedade.

No entanto, tive a impressão do manuscrito ter sido cuidadosamente revisitado por diversas mãos e leitores antes de assumir a versão final. Obama aprofunda personagens e eventos com datas, frases e uma precisão que dificilmente alguém guardaria. Ou Barack tem uma memória capaz de reter frases, roupas e expressões de diversas autoridades e assessores, ou provavelmente recebeu apoio de muitas pessoas para incrementar suas memórias. Isso não é ruim, dá a impressão de ser um relato mais pessoal, bem trabalhado e costurado por um excelente escritor.

O que é “bom”?

O aprendizado fornecido pela leitura, sem sombra de dúvidas, é excelente. Obama mostra com exemplos e situações reais como é governar o país mais rico do mundo. Oferece aos leitores, um relato honesto dos problemas, crises e desafios. Mas, ao mesmo tempo mostra com simplicidade tornando tudo acessível. Por exemplo, a sala de crise que comandava operações especiais é narrada como sendo pequena, apertada e com poucos monitores. Ao mesmo tempo, Obama mostra que essa era a realidade que nem ele imaginava ao assistir filmes de ação, crente de que a infraestrutura da sala seria altamente tecnológica. Isso aproxima o leitor e o escritor. De certo modo, parece que estamos conversando com o ex-presidente quando ele narra esses episódios e pensamentos.

Obama apresenta com muito carinho e honestidade suas relações e ideias. Fala de sua família abertamente e apresenta fatos cotidianos que misturam a realidade de uma autoridade como ele. Apesar de ser um cargo altamente poderoso e pomposo, ainda é uma pessoa que pretende ter mais tempo com a família e ver suas filhas crescerem. Por isso mesmo, não poupa elogios a família, parentes, assessores e políticos aos quais encontrou.

Falando em políticos, alias, todo o livro é uma aula e um enorme argumento em torno do assunto. Obviamente, os interesses da gestão Obama são evidenciados e por isso mesmo são exploradas principalmente as vitórias e tudo o que deu certo durante seu mandato. Mas, ao mesmo tempo, algumas grandes derrotas são expressas, mostrando as dificuldades que precisa encarar para governar.

O livro ainda tem 2 cadernos com fotografias de sua vida. São lembranças muito interessantes que ilustram suas lutas e eventos que narra. Ao todo, temos umas 40 páginas de fotografias (mas estas páginas não são enumeradas!). Algumas fotos, vemos a seguir:

O que é “ruim”?

Difícil classificar algo como ruim em um livro tão completo e complexo. Feito por um autor habilidoso. No entanto, algumas coisas podem ser destacadas.

Em primeiro lugar, o fato do livro físico ser capa mole dificulta o manuseio. Você afirma um tomo de páginas pela mão e elas se entortam, desalinham, o que, novamente, é um horror para quem é acostumado ler na cama. A editora poderia ter adicionado uma opção de capa dura, penso eu. Mas, isso não é um verdadeiro problema. Pode ser facilmente resolvido ao comprar versão digital, ou ainda, apoiar o livro em algo ao invés de deixar suspenso nos braços.

Além disso, o sumário da obra é básico, só mostra as 7 partes principais do livro e não apresenta as divisões menores. Isso dificulta a navegação e me fez perder alguns minutos enquanto transitava da versão digital para física. Mesmo assim, ao final encontramos um índice remissivo, o que facilita a identificação de temas de interesse.

Para quem não gosta de passagens extensas, o livro pode ser cansativo. Barack Obama escreve muito, aprofunda os personagens, os eventos, os detalhes. Não é de se admirar que a sua biografia tenha que ter sido dividida em 2 partes. Sendo que “Uma Terra Prometida”, a primeira porção, tenha mais de 700 páginas. No entanto, o estilo de escrita pode variar pelo gosto do leitor. Eu, particularmente, não ligo de ler grandes passagens quando bem escritas, igual Obama produz em sua biografia.

Por fim, cabe o alerta. Barack Obama é um político habilidoso. Sua biografia é um excelente produto da lavra atual. Mas, precisamos ter cautela ao analisar os fatos, sobretudo pela ótica de seu interesse. As invasões, crises e medidas tomadas pelo governo de Obama são narradas, mas poucos são os momentos de reflexão sobre erros e falhas de gestão. Não devemos esquecer que este é apenas um lado da história. E, obviamente, tende a explorar mais os acertos. Talvez, essa lacuna seja explorada no próximo lançamento da parte 2 de sua biografia.

O que eu aprendi?

É complexo classificar o que se aprende ao ler um livro tão denso, profundo e com uma gama de assuntos tão bem amarrados. Por isso, gostaria de destacar assuntos que chamaram minha atenção por não estar relacionado a sua biografia, mas sua visão de mundo.

Por isso, por incrível que pareça, após ler a primeira parte da biografia de Barack Obama, aprendi muito sobre liderança e resolução de conflitos. Obama, por exemplo, relembra nome de diversos assessores e revisita personagens que encontrou deste a caminhada para as prévias do partido. Dá pra ver autenticidade de um líder nestes exemplos. Decorar nomes, frases e situações importantes mostram como uma pessoa era importante para ele. Mesmo que isso tenha sido feito com a ajuda de outras pessoas, demonstra a carisma de introduzir uma descrição de cada pessoa que lhe ajudou a governar, dividindo histórias anônimas com o leitor.

Ao mesmo tempo, tendo que lidar com diversos assuntos, Obama esbanja liderança e assertividade. Escolhe sua equipe a dedo e sempre apoia nos momentos os membros que encaravam algum desafio. Entende que são eles quem irão alimentar suas decisões, mostrando dados, fatos e posições. Por isso, todos são sempre convidados a participarem de seu governo. A assertividade e objetividade de Barack demonstra como conduzir reuniões complexas, por exemplo, dando voz a todos antes de formar uma opinião e estratégia. Isso tudo são exemplos de como lidar com uma rotina, as vezes, atribulada da maioria das pessoas.

Ao final, destaco ainda a capacidade de Obama em simplesmente derrubar o muro do que imaginei ser a rotina de um presidente. Cercado por repórteres, fotógrafos, políticos e assessores, precisava achar tempo para tomar decisões que impactariam a vida de milhões de americanos e mercados ao redor do mundo. Por isso mesmo, conforme Barack narra, sua vida era como um equilibrista que precisava se manter concentrado para não deixar nada cair, ou ainda, um soldado com a missão de desarmar bombas antes de explodir. Os acertos (como terminar o trajeto sem quebrar nenhuma peça ou desarmar uma bomba) não eram comemorados pela grande mídia e pessoas no geral, tudo isso ficava escondido. Como aprovar uma lei que forneceu proteção e promoção da saúde para mais de 30 milhões de americanos, que simplesmente ficou ofuscada com a lenta demora da sociedade absorver essas transições. No entanto, cada erro era milimetricamente comentado por todos, demonstrando a fraqueza da sua liderança e contestando sua política.

O que mais marca?

Acredito que muitos tenham conhecido Barack Obama no momento em que ele se tornou presidente americano. Por isso mesmo, toda a sua história anterior é uma imensa lacuna para nós. Pode ser que para alguns seu destino já estava traçado e algum momento chegaria até lá. No entanto, o que mais me marcou no livro foi justamente perceber que nem ele acreditava nisso. Uma Terra Prometida é um imenso argumento ao pensamento de que nós, seres humanos, não estamos prontos e só estaremos completos no momento que encontrarmos um propósito ao qual vale a pena lutar. No caso de Barack Obama, ele encontrou este sentido na administração pública, fazendo política para quem mais precisava e deixa isso evidente na paixão que mostra no seu texto.

Tal luta, entretanto, por mais verdadeira que seja, é permeada de dificuldades e desafios. Uma Terra Prometida nos lembra disso a cada novo evento, a cada nova dificuldade encarada por Barack Obama. Amarrando tudo isso em sua vida pessoal e em sua carreira.

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