A bola é minha. Não, a bola é minha

Michael Verissimo
revista verum
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3 min readNov 7, 2017

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O conflito político decorrente da tentativa de independência da Catalunha, no qual a Espanha se encontra, tem atingido níveis cada vez mais severos. A Generalitat — como é conhecido o governo catalão — provocou um verdadeiro racha no restante do país. Diariamente, centenas (às vezes milhares) de pessoas tem ido às ruas de Barcelona, capital da Catalunha, e de outras províncias da região protestar contra e a favor do separatismo.

Engana-se quem pensa que esse sentimento nacionalista é recente. Sua crescente começou na segunda metade do século XIX e afirmou-se no início do século XX. No auge da crise que abalou a Espanha, em 2010, o ânimo entre as partes se acirrou ainda mais. Em 2006, um Estatuto, aprovado em referendo, estabelecia que a região do leste espanhol fosse tida como nação. Várias partes desse regulamento foram cortadas pelo Tribunal Constitucional da Espanha, inclusive o uso da palavra “nação”. Este foi o estopim para o desencadeamento da trama que temos acompanhado capítulo a capítulo. Desde a queda da ditadura franquista, que durou 40 anos, em 1975, o país da Península Ibérica não vivia momentos tão tensos.

Mas afinal, o que quer a população? Qual o seu desejo? De acordo com uma pesquisa feita pela própria Generalitat, há cerca de três meses, 49% da população eram contra a independência e 41% a favor — o que mostra uma completa indefinição dos quereres catalãs. Existe toda uma cultura por trás de seus 7,5 milhões de habitantes, segundo dados de 2016 do Instituto Nacional de Estatística da Espanha. Até língua própria eles têm: o catalão — que apesar de se assemelhar ao espanhol, não é da mesma família entre as línguas latinas, nem variantes do mesmo vernáculo. Segundo o jornal El País, a região representa cerca de 19% do PIB nacional (frente aos 18,9% de Madri, capital da Espanha).

Tanto a Catalunha quanto a Espanha tem a perder com o possível rompimento — principalmente se de forma unilateral. Do lado catalão: a saída da União Europeia, da zona do euro, perda do apoio do Banco Central Europeu, declínio da economia (consoante com o ministro da pasta espanhola, Luis Guindos), assunção da dívida externa em nome da Generalitat (US$ 90 bilhões) e fuga de empresas. Já a Espanha perderia sua região mais próspera, polos de inovação e empreendedorismo, seu principal porto no mar Mediterrâneo e um rico patrimônio cultural, bem como o turismo. É evidente que a “queda de braço” envolvendo os dois lados não deve terminar tão cedo e ainda vai dar muito “pano para manga”. Não obstante, o diálogo é o que deve prevalecer. Sempre. Sobretudo, com a população que se vê em meio a um “fogo cruzado”. A questão não pode ser reduzida a análises rasas e maniqueísmos pueris. Ambos devem ceder e “largar o osso” para um entendimento conjunto, justo e benéfico a todos.

Foto: Day Donaldson/Flickr

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Michael Verissimo
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Jornalista amante de viagem, comida, teatro, cinema, música e arquitetura. Não necessariamente nessa ordem.